[LITERATURA] Mulheres escritoras de sci-fi 5: Margaret Atwood

[LITERATURA] Mulheres escritoras de sci-fi 5: Margaret Atwood

Estava em Buenos Aires quando tive meu primeiro contato indireto com a obra de Margaret Atwood. Tenho mania de entrar em livrarias de rua ou sebos, ou ao menos passar um tempo olhado a vitrine. Curioso que dessa vez, eu não vi um livro dela. Havia uma televisão em meio àquele monte de edições e estava passando um filme com um monte de vermelho. Nas viagens poéticas da minha cabeça, a composição da cena era bem bonita: um monte de pilhas de livros e uma televisão mostrando um monte de mulheres enfileiradas de vermelho. Parei um pouco pra tentar entender o que estava acontecendo na película e fiquei intrigada. Parecia uma distopia meio “1984”, só que com alguma coisa de crítica feminista. Fui perguntar pro rapazinho que estava responsável pelo caixa, se ele sabia qual era o filme e ele me respondeu estendendo um DVD. “The Handsmaid’s Tale“.  Pois bem, muito obrigada, moço.

600full-the-handmaids-tale-screenshotVoltei pro hotel e catuquei a internet inteira atrás do filme e não foi preciso muito pra descobrir que era um filme baseado num livro homônimo da lindinha sobre a qual vos escrevo.

Margaret Atwood (escritora canadense) é um fenômeno da literatura mundial. Digo isso porque ela escreve desde ficção científica à poesias intimistas e ensaios críticos. Paixão pela profissão de escritora é marca em sua trajetória de vida. O ofício literário é o cerne de sua existência desde mais ou menos os dezesseis anos, quando decidiu que seria escritora profissionalmente. Era uma leitora voraz e não teve dificuldades para entrar na universidade e até hoje ela recebe prêmios e títulos por seus escritos.

O livro que trago como indicação é justamente esse que virou não somente filme, mas uma ópera, e volta e meia é adaptado para outras estéticas de teatro: The Handmaid’s Tale (O Conto de Aia).

A história é uma distopia que se passa nos Estados Unidos. Após uma crise social e política, entre golpes militares e complicações religiosas, a sociedade se reestrutura a partir de um sistema semelhante as castas, colocando cada indivíduo numa pirâmide, desempenhando um papel específico e violentamente reforçado e protegido. Conhecemos a sociedade nova através da narração de Offred, uma Aia.

As Aias, são, para todos os efeitos, reprodutoras. Tem como única função engravidar e dar seus bebês a casais ricos, já que, no livro, a humanidade tem níveis absurdos de esterilidade resultantes de problemas ambientais. Então, as mulheres férteis que são designadas ao segmento social de Aia são submetidas a um regime violento e pulverizador da autonomia corporal e psicológica. O livro é extremamente pesado nesse sentido. Chocante e completamente cru quando descreve as torturas as quais são submetidas as rebeldes ou mulheres que ameaçam as esposas estéreis, no sentido de um dos maridos se apaixonar por alguma delas.

A jornada de Offred consiste em resistir a isso, mesmo que seja duro e doloroso. Para redescobrir a sua identidade num lugar que a condiciona a anular-se, a fazer-se sentir culpada por existir. É preciso força pra ler o livro, porque é realmente dolorosamente forte. Mas é muito bom para abrir os olhos de quem não enxerga o quão doentios são os pensamentos que estão aqui hoje na nossa sociedade.

Felizmente, a Editora Rocco já disponibiliza a versão em português do livro! E você pode adquirir aqui. O filme, para quem quiser assistir (eu nem recomendo muito, porque acho a direção bem mais ou menos, apesar de algumas composições legaizinhas) chama-se “A Decadência de uma Espécie“, de Volker Schlöndorff.

A intenção da autora ao escrever com tanta pungência era justamente a de chocar quem acredita que os direitos das mulheres são ameaçados, e que pra muitas de nós essa realidade totalitária do livro é uma realidade muito mais palpável do que qualquer uma gostaria.

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Arte: Ryan Sheffield

Margaret está atualmente incluída na Future Library. O projeto da artista Katie Paterson consiste em juntar 100 livros, um de cada escritor convidado, para ficarem armazenados em uma biblioteca até 2114. Atwood foi a primeira autora a contribuir com um livro que só poderemos ter acesso daqui a um século. Mas enquanto não chega, temos um monte de outros pra ler aí!


Alguns livros de Margaret Atwood lançados no Brasil e disponíveis atualmente:


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Alguns vinte e poucos anos usados pra fazer Cinema e Ciências Sociais. Comunista e híbrida de humana e bicho-preguiça. No mais, tenho uma Delírio tatuada no braço. Acho que isso já explica muita coisa.
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