Garota, interrompida (Resenha)

Garota, interrompida (Resenha)

Ultimamente tenho retomado gradativamente a minha leitura, com livros que tiveram adaptações no cinema. Um destes foi “Garota, interrompida”, da Susanna Kaysen. No livro, a autora relata os 2 anos que passou em um hospital psiquiátrico, e conta para o leitor suas experiências antes, durante e depois disso.

Garota, interrompida 1Tudo acontece muito rápido, e nem sempre em ordem cronológica. É como se realmente estivéssemos em uma conversa com Susanna, e ele estivesse nos contando um pouco de sua vida. A leitura é leve, e nos gera diversos questionamentos sobre diagnósticos e tratamentos, tal como a autora os teve.

Ela tinha 18 anos quando foi internada. Sabia que algo estava errado, mas não até que ponto – e se este ponto era realmente o de ser levada a um hospital psiquiátrico.

Essa lucidez permitia que eu me comportasse normalmente, o que suscitava algumas questões interessantes. Será que todos viam aquilo e fingiam que não viam? Seria a insanidade uma simples questão de parar de fingir? Se algumas pessoas não viam aquelas coisas, o que estava acontecendo com elas? Estariam cegas ou o quê? Perguntas como essas me deixavam abalada.

Topografia elementar – Página 52

Já no hospital, é que nos deparamos com “a honestidade brutal das personagens deste livro”, como disse Angelina Jolie. Conhecemos um pouco sobre Daisy, Polly, Georgina, Cynthia e a tão fascinante Lisa (papel interpretado pela Angelina).

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Acredito que não preciso nem falar o quanto é difícil. Garotas entrando na vida adulta, com suas vidas interrompidas, perdendo liberdade e conforto que tinham em seus lares, mas que por alguns fatores acabaram perdendo um pouco da sanidade, sendo levadas então a tratamento psiquiátrico.

Ao decorrer da leitura, ficamos mais íntimos dos funcionários e medicamentos do hospital, e daquelas pacientes que em alguns casos nem precisariam estar ali.

Aquilo [“ronda”] não parava nunca, nem mesmo de noite. Era nosso acalanto. Era nosso metrônomo, nosso pulso. Era a nossa vida medida em doses pouco maiores do que as benditas colherinhas de café. Colheres de sopa, talvez? Colheres de lata, amassadas, transbordantes de algo que devia ser doce, mas era amargo e se esvaía, se derramava sem que pudéssemos sentir seu sabor: nossas vidas.

Ronda – Página 68

E inevitável não se encontrar nos diálogos das personagens, ou nos relatos de Susanna. Ainda mais para as que também já foram diagnosticadas com algum problema psicológico, como depressão, transtornos de personalidade, e afins.

Na verdade, eu só queria matar uma parte de mim: a parte que queria se matar, que me arrastava para o dilema do suicídio e transformava cada janela, cada utensílio de cozinha e estação de metrô no ensaio de uma tragédia.

Meu suicídio – Página 46

Mas deixo aqui um aviso: acredito que a leitura seja mais produtiva caso você não esteja mais passando por algum desses problemas. Não sei o quanto o livro mexeria comigo, caso tivesse lido há uns anos enquanto sofria uma leve depressão (vide citação acima). Além de tudo, é reconfortante ler e perceber que já não passo mais por tudo aquilo.

Garota, interrompida 1

Garota, Interrompida

Susanna Kaysen

192 páginas

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Garota, Interrompida – James Mangold (1999)

Não estou muito apta a comentar as diferenças entre livro e filme, visto que vi a adaptação há mais de dois anos.

As obras aparentam seguir caminhos diferentes, mas isso não desvalida nenhuma das duas. Enquanto o livro é interessante para refletir sobre todo o processo das doenças, o filme é curioso por enfocar o tempo específico de Suzanna e suas amigas na instituição.

Confesso que de memória só consigo lembrar de três discrepâncias: a cor do cabelo de Lisa (loira no filme, e morena no livro), da morte de Daisy, e da fuga de Suzanna mostrada no filme, e não comentada no livro.

Apesar dessas diferenças, acredito que quando rever a adaptação, não irei gostar menos dela. Como disse anteriormente, os dois são ótimos, apesar de rumos diferentes.

Aguardo ansiosamente comentários de quem também já esteve em contato com as obras, sobre o que mais gostou nas duas!

Se eu, que antes era repulsiva, agora estou assim tão longe da minha loucura, quão longe não estarão vocês, que nunca foram repulsivos, e que profundezas não terá alcançado a sua repulsa?

Estimografia – Página 144

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“O senhor não imagina bem que eterna variação de gênio é aquela moça. Há dias em que se levanta meiga e alegre, outros em que toda ela é irritação e melancolia.” (Ressurreição, Machado de Assis). 20 anos, estudante de Engenharia e que prefere passar o dia vendo filmes do que com a maioria das pessoas.
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