Por que a série de livros “Antiprincesas” é tão importante?

Por que a série de livros “Antiprincesas” é tão importante?

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ilustração de Pitu Saá (Antiprincesas)

O primeiro contato das crianças com um modelo de “mulher” ou de como ser /se comportar e/ou almejar geralmente é com as princesas da Disney ou a Barbie. E é de encontro, ou melhor, contra isso que surge a série de livros Antiprincesas.

A série traz consigo uma preocupação muito grande com a representatividade efetiva para as meninas e vai muito além disto, pois recupera também uma memória histórica de mulheres inspiradoras. A série tira a mulher, e a menina, do lugar comum do silenciamento e da submissão.

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Frida Kahlo – ilustração de Pitu Saá (Antiprincesas)

O primeiro livro da coleção conta a história da pintora mexicana Frida Kahlo e de forma didática e intrigante Nadia Fink desperta em nós uma vontade de ter transgredido o mundo igual à jovem Frida.

Mas a Frida todo mundo conhece, poderiam falar algumas pessoas. Sim, verdade. Ou melhor, quase todo mundo conhece. Mas, será que conhece mesmo?

Digo isso porque muitas pessoas reduzem a Frida a uma estampa cool ou à mulher da “monocelha” e “bigode”. Quase ninguém sabe que ela se vestia com roupas ditas “masculinas” quando jovem ou que era bissexual, ou ainda que foi uma das poucas mulheres a conseguir estudar numa época em que o estudo era quase que exclusivamente voltado para os homens/meninos. Saber disso tudo e ter uma mulher fantástica como a Frida como referencial pode mudar a vida de uma criança. Teria mudado a minha.

É por isso que achei essa série de livros tão importante não só para as garotas, mas para nós mulheres em geral. E claro, é um livro que quero que garotos e homens leiam também, pois precisamos que todos reflitam, direta e indiretamente a questão de gênero.

Precisamos que os garotos e homens também destruam dentro de si esse ideal de mulher que a sociedade produz e reproduz a todo momento.

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Frida Kahlo e Violeta Parra  – ilustração de Pitu Saá (Antiprincesas)

Não vamos nos enganar, as princesas não vão sumir. Ao menos não vão sumir agora. E confesso que não tenho certeza se é isso que, de fato, queremos. O que almejamos é que as meninas não cresçam achando que são frágeis e que precisam de um príncipe para serem felizes. Apesar dos contos de fadas as vezes trazerem algumas lições legais sobre amizade e “superação”, isso está sempre associado ao papel de submissão imposto à mulher e também a uma heteronormatividade compulsória.

Mas enfim, o foco aqui não era tecer críticas aos contos de fadas protagonizados (?) por princesas da Disney ou pela Barbie (o que precisaria de um longo post próprio), mas de mostrar que temos ótimas alternativas para educar e orientar as crianças.


Mais curiosidades sobre a série #AntiPrincesas

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Violeta Parra –  ilustração de Pitu Saá (Antiprincesas)

O segundo livro da coleção conta a história de Violeta Parra, mas ainda não achei a versão traduzida dele aqui no Brasil e ao procurar um pouco mais sobre a autora, me deparei com a entrevista, em espanhol, que ela   concedeu ao “La Capital” onde contou  de onde surgiu a idéia de escrever a série.

Na página da editora no Facebook é possível verificar várias artes que as crianças fizeram inspiradas pelos livros que leram:

O terceiro livro da série conta a história da militar Juana Azurduy, que participou nas lutas pela independência da América espanhola e o quarto, ambos ainda não traduzidos pro português, conta a história de ninguém menos que Clarice Lispector.

Nadia Fink também lançou a série “Anti-Heróis“, e o seu primeiro número traz a história do escritor argentino Julio Florencio Cortázar.

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(Antiprincesas)

Apesar de ter lido apenas o primeiro livro, espero que em breve todos os outros estejam disponíveis aqui no Brasil e que esse trabalho não só cresça como também sirva de inspiração para outros projetos no mesmo sentido.

Para quem tiver curiosidade, vou deixar o link de mais duas entrevistas da Nadia Fink:

[+] Las antiprincesas, las nuevas heropinas de los cuentos infantiles en Argentina

[+] Entrevista con Nadia Fink, creadora de las ‘antiprincesas’

Apesar de ambas estarem em espanhol, dá para entender ou ao menos ter uma ideia do contexto.

Encerro este post com uma citação da própria Nadia:

“Los cuentos clásicos transmiten que la quietud te preserva de las situaciones difíciles. Nuestras antiprincesas enseñan a romper los estereotipos y a trascender lo impuesto.” (Nadia Fink)

Tradução livre: “As histórias clássicas ensinam que a passividade te preserva das situações difíceis. Nossas antiprincesas ensinam a quebrar estereótipos e transcender o imposto.” (Nadia Fink)

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Nadia Fink, Escritora argentina e criadora da série Anti-Princesas e Anti-heróis (fonte da foto)

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Frida Kahlo – Para Meninas e Meninos (Coleção Antiprincesas)

Editora Chirimbote

26 páginas

Escrito por Nadia Fink; Ilustrado por Pitu Saá

Compre aqui: Amazon

Escrito por:

51 Textos

Feminista e membra da União de Mulheres de São Paulo, onde é coordenadora adjunta do Curso de Promotoras Legais Populares, projeto voltado para a educação popular e feminista em direitos. É viciada em Lego, apaixonada por ficção científica/terror/horror, apocalipse zumbi e possui sérios problemas em procrastinar vendo gif’s e não lembrar o nome das pessoas. No mundo real é advogada.
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