[LIVRO] “O Apanhador no Campo de Centeio”, de J.D. Salinger (resenha)

[LIVRO] “O Apanhador no Campo de Centeio”, de J.D. Salinger (resenha)

Na década de 1950, o americano Jerome David Salinger, publicou o livro que capturou o espírito da adolescência naquele período, quando a voz dos jovens passava a ter relevância. A alienação, sua incapacidade de se sentir parte de um todo e sua luta para encontrar a verdadeira essência antes que a vida adulta e suas responsabilidades pudessem destruí-la.

Não é difícil para o leitor de “O Apanhador no Campo de Centeio” perceber o desespero que o protagonista, Holden Caufield sente.

“De qualquer modo, era o sábado do jogo de futebol com o Saxon Hall, considerado um grande acontecimento no Pencey. Último jogo do ano, era caso para suicídio ou coisa parecida se o Pencey não vencesse. Lembro-me que eram umas três horas da tarde, e eu, em pé, lá em cima do morro, bem ao lado de um canhão maluco da Guerra da Independência. Dali podia ver o campo todo, os dois times se massacrando por toda a parte. Não dava para ver direito as arquibancadas, mas dava para se ouvir os gritos da torcida, fortes e terríveis do lado do Pencey, porque o colégio em peso estava lá – menos eu – e débeis e desanimados do pessoal do Saxon Hall, porque o time visitante quase nunca trazia muita gente.”

Nessa passagem sobre o jogo que está acontecendo no colégio no dia em que Holden soube da expulsão fica evidente o seu isolamento social, enquanto todo o colégio assiste ao embate entre duas escolas rivais, ele permanece sozinho assistindo o jogo do alto de um morro. Holden não tem motivos para se isolar, ele é rico, jovem, bonito, porém algo dentro dele não está certo, seus pensamentos e comentários estão repletos de desânimo e desesperança, mas para os adultos ao redor, seus pais e professores, ele passa por uma fase de rebeldia, ou por um esgotamento mental.

“Era uma dessas tardes meio malucas, fria pra burro, sem sol nem nada, e a gente se sentia como se estivesse desaparecendo toda vez que atravessava uma estrada.”

Mas apesar de se sentir solitário, o comportamento de Holden acaba afastando as pessoas, ele não consegue pedir ajuda, ele se esconde atrás da casca de frieza e ironia, julgando a todos como hipócritas. Não é a toa que muitos leitores, a princípio, não gostam do personagem, rotulando-o como um garoto mimado que reclama de tudo. E, de fato, ele reclama mesmo, mas é preciso ir além das primeiras camadas para entender o que está se passando na cabeça dele, ele é bem enfático em sua visão de mundo e logo nos primeiros capítulos do livro ficamos sabendo, em uma conversa com um dos professores de Holden que ele foi expulso do colégio em que estuda e que essa não é a primeira vez que algo do tipo acontece.

Acompanhamos, então, sua desventura por Nova York, sozinho e com muito dinheiro no bolso ele precisa matar tempo até que seus pais recebam o comunicado da escola informando de sua expulsão, ele não quer confrontar os pais, não por medo de uma bronca ou castigo, mas porque ele sabe que vai decepcioná-los e tem medo de que percebam que há algo errado se passando com ele. Então ele se vê sozinho em uma cidade cheia de pessoas com as quais ele não consegue se relacionar ou entender.

O quadro psicológico de Holden é típico de pessoas com estresse pós traumático, no seu caso causado por dois eventos particulares: O primeiro a morte de seu irmão mais novo, Allie, que morreu devido uma leucemia e o segundo o suicídio de um colega de colégio, que se jogou da janela do dormitório usando um casaco do próprio Holden. As únicas pessoas com quem Holden consegue se relacionar são as crianças, sua irmã mais nova Phoebe é sua pessoa favorita no mundo, pois as crianças não são hipócritas, não mentem e não magoam aqueles ao seu redor, tudo sobre elas é puro na visão de Holden e enquanto ele se vê adentrando o mundo corroído dos adultos e suas máscaras, tudo o que deseja é proteger as crianças do mesmo destino, até mesmo seu nome “Holden” que vem do verbo “Hold” segurar em inglês, faz alusão à seu espírito protetor. Sua enorme empatia pelo sofrimento dos outros é o que mais o machuca.

“Seja lá como for, fico imaginando uma porção de garotinhos brincando de alguma coisa num baita campo de centeio e tudo. Milhares de garotinhos, e ninguém por perto – quer dizer, ninguém grande – a não ser eu. E eu fico na beirada de um precipício maluco. Sabe o quê que eu tenho de fazer? Tenho que agarrar todo mundo que vai cair no abismo. Quer dizer, se um deles começar a correr sem olhar onde está indo, eu tenho que aparecer de algum canto e agarrar o garoto. Só isso que eu ia fazer o dia todo. Ia ser só o apanhador no campo de centeio e tudo. Sei que é maluquice, mas é a única coisa que eu queria fazer. Sei que é maluquice.”

“O Apanhador no Campo de Centeio” é um dos maiores clássicos da literatura ocidental por conseguir capturar com perfeição todos esses questionamentos que nós fazemos alguma vez em nossas vidas quando duvidamos de nossas escolhas e nos perguntamos se estamos vivendo a vida que queremos, ou aquela que escolheram para nós.


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O Apanhador No Campo de Centeio

J.D. Salinger

208 páginas

Editora do Autor

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Escrito por:

46 Textos

Formada em Comunicação Social, mãe de um rebelde de cabelos cor de fogo e cinco gatos. Apaixonou-se por arte sequencial ainda na infância quando colocou as mãos em uma revista do Batman nos anos 90. Gosta de filmes, mas prefere os seriados. Caso encontrasse uma máquina do tempo, voltaria ao passado e ganharia a vida escrevendo histórias de terror para revistas Pulp. Holden Caulfield é o melhor dos seus amigos imaginários.
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