[LIVRO] “Garota Encontra Garoto”, de Ali Smith (resenha)

[LIVRO] “Garota Encontra Garoto”, de Ali Smith (resenha)

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“O gênero não deveria ser construído como identidade estável… deveria, isso sim, ser uma identidade fragilmente constituída no tempo.” – Judith Butler

livro 2“Agora deixa eu contar como eu era quando menina, diz nosso avô”. É assim que começa esse romance de Ali Smith, logo após uma série de epígrafes que já anunciam que nenhum tema do livro terá uma fronteira rígida, definitiva. Nessa primeira cena, o avô de Anthea e de Midge (que prefere ser chamada de Imogen) conta histórias de sua juventude, de quando ajudou Lily, uma das moças que participavam das manifestações britânicas pelo voto feminino e pela conquista de direitos civis. Ele adora contar essas histórias de quando era menina. Sim, de quando ele era menina. E Imogen protesta. Para ela, afinal, seu avô nunca tinha sido menina! E esse “mistério” não é a única questão difícil pra Imogen. Sua irmã, Anthea, é lésbica e ela não sabe lidar com isso. A sexualidade da irmã não é só uma novidade, é também um tipo de ameaça. E se ela própria estiver errada sobre a sua sexualidade?

91J7IoNzwqLPara Anthea, por outro lado, a sua orientação sexual não é nenhum problema. As suas angústias são de ordem mais prática, dizem respeito ao seu posto de trabalho na companhia de água Pura, aos limites éticos de sua nova ocupação. De modos distintos, as duas irmãs se encontram em um limite, diante do qual se encontram com o desconhecido. E bem, são justamente esses momentos que demandam uma transformação na vida dessas mulheres.

Ah! Esse é um livro sobre mulheres, certo? E ele é também um livro sobre essas mudanças, sobre perguntas e sobre encontros. E em como esses encontros são capazes de nos transformar: eu, você, nós e todo mundo junto.


Tiragosto (direto da contracapa)

 “A vida de Anthea, jovem funcionária de uma grande corporação multinacional, está prestes a ser radicalmente transformada. No impossível pseudônimo de seu novo e estranho amor, um artista de rua andrógino que desafia com corajosos slogans a moral conservadora e a opressão do hipercapitalismo contemporâneo, estão contidos os dois gêneros, as duas metades de uma mesma revelação. Homem? Mulher? O encontro de Anthea consigo mesma dependerá da resposta a essas difíceis perguntas.”

Dois trechinhos escolhidos a dedo (depois de muita indecisão)

“(Eu devia ter percebido, porque ela sempre gostou das músicas que têm eu e você nas letras, em vez de ele e eu, ou ele e ela, e a gente sabia disso, costumávamos falar no colégio que esse era o sinal revelador, quando alguém preferia as músicas que tinham a palavra você em vez de um homem ou uma mulher, como aquele velho disco clássico da Tracy Chapman que mamãe deixou pra trás e que ela vivia tocando, antes de ir embora.)” (p. 48)

“A mão dela me abriu. Depois sua mão virou uma asa. Depois tudo em mim virou uma asa, uma única asa, e ela era a outra asa, éramos um pássaro. Éramos um pássaro que podia cantar Mozart. Era uma música que eu reconhecia, ao mesmo tempo profunda e leve. Depois transformou-se em música que eu nunca tinha ouvido antes, tão nova que me levou pelos ares, eu não era mais nada a não ser as notas que ela tocava, seguras no ar. Depois ela soriu tão perto dos meus olhos que não havia mais nada para ver, a não ser o seu sorriso, e me ocorreu que nunca estivera dentro de um sorriso […].” (p. 84)


Sobre a autora:

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Ali Smith é uma premiada escritora lésbica, nascida em 1962, na Escócia, e residente em Cambridge, na Inglaterra. A sua obra é composta por romances, coletâneas de contos e peças de teatro. Em português,  é possível encontrar os seguintes títulos: “Por acaso” (2006), “Garota encontra garoto” (2008), “Hotel mundo” (2009), “A primeira pessoa” (2012) e “Suíte em quatro movimentos” (2014). Em breve, será lançada a tradução de “How to be both” (2014) – que aguardamos ansiosamente!


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Garota Encontra Garoto

Ali Smith

Companhia das Letras

136 páginas

Lançamento: 2008

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Escrito por:

11 Textos

Professora, feminista, pesquisadora em literatura, engajada na missão de ler sempre mais mulheres. É viciada em livros & séries. Tem sempre um lugar especial no coração para Star Wars, filmes da Ghibli & gatos.
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