[CINEMA] “Zootopia”: aquele filme feminista

[CINEMA] “Zootopia”: aquele filme feminista

Se você ainda não assistiu “Zootopia”, não faz ideia do que está perdendo. Pode ler sem medo, não contém spoilers. O filme conta a história da coelha Judy Hopps, que já me ganhou fácil nos primeiros minutos dando uma bela sambada na cara da sociedade ao dizer que para mentes limitadas alguns sonhos podem parecer impossíveis e inadequados.

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Embora Judy viva numa sociedade aparentemente bastante evoluída, que você pode substituir pela nossa, por exemplo, é desencorajada desde criança a ir atrás do sonho de ser policial. Afinal, tudo bem ser o que quiser, mas um animal pequeno e frágil como uma coelhinha não é o animal adequado para defender as ruas, não é mesmo?! ~eyes roll~ Ainda bem que Judy nunca deu ouvidos a isso ou o filme acabaria aqui. Ao invés disso ela treina bastante e se forma na Academia de Polícia como primeira da classe, se tornando a primeira coelha oficial, saindo de uma fazendo no interior direto para Zootopia, a megalópole onde os sonhos se realizam e todos predadores e presas vivem em perfeita harmonia, ou era assim que ela achava.

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Quando chega a Zootopia, animada pela nova jornada de trabalho, Judy encara a primeira decepção: o chefe de polícia, numa atitude de abuso de poder e misoginia, delega à coelhinha a função de guarda de trânsito, enquanto todos os policiais vão em busca de animais desaparecidos. Mas ela se propõe a ser a melhor guarda de trânsito da cidade até poder assumir casos importantes, quando se depara com uma pista sobre os desaparecimentos e resolve investigar, obrigando a raposa trambiqueira Nick Wilde a ajudá-la. E é aí que a aventura começa.

O filme traz vários diálogos de opressão e conformismo colocando à prova a força de Judy, uma fêmea tida como frágil. São diálogos muito reais e comuns no nosso cotidiano, por isso não tenho dúvida em dizer que “Zootopia” é um filme feminista. Em vários momentos me vi pensando “poxa, já ouvi tanto isso”. Fora questões como corrupção, instinto selvagem, racismo… Considerando que é um filme americano, é fácil inserir o contexto na realidade de imigração e eleições estadunidenses, mas também se encaixa perfeitamente na política brasileira e na cultura opressora em que a gente vive.

Mas calma! Não quer dizer que seja um filme sem diversão, pelo contrário. Eu chorei de rir em vários momentos. Para os adultos, referências como “O Poderoso Chefão” e outras piadas incrivelmente engraçadas são um deleite à parte, mas não deixam de fazer as crianças rirem junto, porque as piadas são engraçadas mesmo sem o contexto. A cena das preguiças funcionárias públicas, que você pode ver no trailer, é um desses momentos de risada solta que para os adultos também faz lembrar outros funcionários públicos que temos que lidar normalmente.

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A música tema tem tudo a ver com o filme e é interpretada por Shakira, que empresta a voz à personagem Gazelle. Se você parar pra pensar direitinho, a própria Shakira se encaixa bem no enredo, considerando que ela é latina e teve um longo caminho para chegar à aceitação em que chegou. Gazelle também é uma personagem que defende a diversidade e boa convivência de Zootopia.

E só porque Judy é a heroína do filme, não quer dizer que ela esteja sempre certa. E isso é muito importante no enredo! Apesar de lutar e superar obstáculos de tudo quanto é tipo nessa avidez por tornar o mundo um lugar melhor, Judy comete erros grotescos, justamente por causa dos sensos comuns que insistem em atrapalhar sua busca tanto interna quanto de trabalho. É difícil ter um objetivo colocado à prova o tempo todo e permanecer sempre cheia de confiança. É preciso recomeçar e olhar pra dentro de novo. Tá vendo que filme maravilhoso, que você nem viu e já tá amando só de ler sobre?!

Eu confesso que quando vi o trailer e li sobre o filme, achei que seria fraco, não me interessei de início. Graças à indicação de um amigo reparei essa falta. Foi uma felicíssima surpresa o quanto gostei desse filme! Vale muito a pena e é estupidamente fácil se identificar com a Judy, mesmo não querendo ser policial. Tá esperando o que?!

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Atualização: Com o feedback da publicação (aliás, obrigada, meninas), foram apontadas algumas outras questões nas quais o filme pode falhar. Mesmo em filmes que nos sentimos representadas, é importante manter o olhar atento para detalhes que podem passar desapercebidos e que não são nada lisonjeiros. No caso de “Zootopia”, existe implícito na vida de Judy uma certa aclamação à meritocracia e uma minimização das lutas das minorias. Como se Judy estivesse errada em desconfiar de um animal que por séculos foi seu predador natural, ou melhor dizendo, como se uma mulher estivesse errada em desconfiar de um homem que por séculos foi seu opressor.

Agradeço de novo pelo feedback e continuem comentando! Vocês me ensinam!

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Bagunceira e bagunçada, por dentro e por fora. Prefere ver séries em maratonas, menos Game of Thrones, porque detesta spoiler. Totalmente apaixonada por desenho e animação. Tem mania de citar filmes em conversas, conselhos, brigas ou onde couber uma referência. Prefere gastar dinheiro com quadrinhos do que com comida, sendo muito entusiasta do quadrinho nacional e graphic novels em geral. Formada em Jornalismo, mas queria mesmo trabalhar com roteiro e ilustração.
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