[CINEMA] “Como ser solteira”: um “tutorial” de como viver a vida sem um homem

[CINEMA] “Como ser solteira”: um “tutorial” de como viver a vida sem um homem

Uma comédia com um título promissor: “Como ser solteira”. Você começa a assistir achando que será inovador, que desconstruirá várias das ideias perpetuadas pela indústria cinematográfica. Certamente, é uma tarefa difícil diante de tantos filmes que prometeram o mesmo sem sucesso. “Como ser solteira” bem que tentou, mas talvez ainda precisemos de obras que realmente quebrem paradigmas.

[CONTÉM SPOILER]

“Como ser solteira”, dirigido por Christian Ditter e baseado no livro homônimo de Liz Tuccillo, foca na vida de quatro mulheres e suas atitudes enquanto solteiras. Lucy (Alison Brie) está à procura de sua alma gêmea e desenvolve métodos apuradíssimos para encontrá-la em sites de relacionamento. Meg (Leslie Mann) é uma médica que sempre rejeitou a ideia de ser mãe, até que descobriu que este era o seu próximo plano. Robin (Rebel Wilson) ama curtir a vida e as noites de Nova York sem pensar no amanhã. E Alice (Dakota Johnson), a mais aparente, decide terminar um namoro de longa data para descobrir como é a vida de solteira.

O filme começa com o rompimento como-ser-solteira-resenha-03de Alice e Tom. Alice nunca se viu longe de um homem, e depois de se formar, concluiu que desejava dar um tempo ao relacionamento para se conhecer. Todavia, se desapegar da necessidade de estar envolvida com alguém pode ser difícil para uma pessoa que nunca conheceu outra realidade. Então, vem o questionamento: quando toda a sociedade afirma que a mulher deve procurar um homem que identifique como sua alma gêmea, como buscar a sua essência sem ser sabotada por isto? Alice tenta buscar esta experiência através do método de Robin. O problema é que a vida de Robin pode parecer vazia, fútil e promíscua para muitas pessoas. Assim, Alice se vê numa cega encruzilhada, buscando novamente aquilo de que fugiu: um relacionamento sério. O desespero toma conta de personagem, que perde sua personalidade entre carinhos insuficientes. E sua grande trajetória, assim como a das demais personagens, é definir-se por si mesma.

como-ser-solteira-resenha-04Embora ganhem menos destaque, algumas reflexões interessantes são realizadas nas histórias das outras mulheres. Lucy, por exemplo, embora desenvolva tantos métodos, não entende que o amor talvez não seja algo exato. Talvez ela pudesse se apaixonar pelo barman mulherengo ou por um homem qualquer na livraria em que lê para crianças. No entanto, o que poderia ter se tornado um núcleo de tanta discussão, tornou-se mais um conto de fadas em que amor sempre acontece quando menos se espera. como-ser-solteira-resenha-05O mesmo pode se dizer do enredo de Meg. Embora sempre tenha fugido do clichê sonho de ser mãe, uma hora ela deu de cara com ele, como se inevitavelmente as mulheres em algum ponto de suas vidas descobrissem que não podem negar seu “instinto maternal”. Mais do que isso, no exato momento em que você aceita esta parte inerente da mulher, o amor acontece.

O filme teve como ponto interessante retratar diferentes mulheres e suas perspectivas sobre o amor e dissecar, ainda que minimamente, a ideia de um amor perfeito. Contudo, como escrevi acima, pouco de fato foi abordado sobre como ser solteira. Muito poderia ter sido desconstruído com o título que lhe foi conferido. Poderiam, por exemplo, não ter evidenciado que a única que se como-ser-solteira-resenha-02manteve verdadeiramente solteira durante toda a obra fosse fútil e promíscua, ou que seu estilo de vida não era o modo como uma mulher poderia se conhecer – embora eu tenha gostado bastante de uma cena em que a personagem Robin destaca que é a única que sabe quem realmente é. Poderiam não ter romantizado a maternidade, como tantos ouros filmes já fizeram, ou poderiam não ter ligado maternidade a relacionamento amoroso. Poderiam não ter colocado que, inevitavelmente, você encontrará seu grande amor.

“Como ser solteira” é engraçado, possui uma boa trilha sonora e um final bom, se analisarmos a ideia que pretendeu inicialmente transmitir. Porém, a verdade é que não existe um tutorial de como ser solteira. Não há um certo e um errado. No entanto, acima de qualquer coisa, ser solteira não é não estar com um homem. Ser solteira pode ser bem mais do que isso. E o grande pecado do filme foi apenas contrapor “estar com um homem” x “estar sem um homem”, deixando o papel masculino, mesmo que de forma abstrata, definir praticamente a história inteira.

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Mestra em Teoria e História do Direito e redatora de conteúdo jurídico. Escritora de gaveta. Feminista. Sarcástica por natureza. Crítica por educação. Amante de livros, filmes, séries e tudo o que possa ser convertido em uma grande análise e reflexão.
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