“Belle” e a representatividade negra nos cinemas

“Belle” e a representatividade negra nos cinemas

Por mais que o título lembre a “Bela e a Fera”, não tem nada de conto de fadas. “Belle” é um filme britânico e conta a vida de Dido Elizabeth Belle, uma filha ilegítima de uma escrava africana e um almirante da Marinha Britânica. Após a morte dos pais, ela vai viver com seu tio avô, um jurista. Belle é um filme com protagonismo feminino e negro, que traz em vogue os preconceitos que as mulheres e os negros sofriam em meados do século XVIII.

[Não contém spoilers]

O filme tem um ritmo lento e sutil, mas tratando de assuntos bem polêmicos como o papel da mulher na sociedade no século XVIII, onde raramente podiam herdar heranças e eram propriedades de seus maridos. Os negros eram escravos tratados como mercadorias e “descartados” quando perdiam seu valor por velhice ou doença.

Além do filme tratar da vida de Belle com seus problemas familiares e sua busca por seu lugar em sua própria vida e na sociedade, trata também do caso do  Navio Negreiro Zong . Um dos casos que desencadearam a abolição da escravatura em território britânico.

Com uma cenografia impecável e indumentária belíssima, o filme segue em tons pastéis e música clássica narrando uma situação complexa de preconceitos e desigualdades sociais. Tratando os assuntos de forma séria, o filme mostra os bastidores jurídicos da situação do caso Zong e foge do clichê de usar cenas bárbaras e violentas para falar sobre escravidão, preconceito e desigualdade social.

A história é contada através dos diálogos, e não por cenas de ação. Para muitos, pode soar como monótono, para mim foi muito interessante como o filme foi focado em Belle e sua prima, tendo diálogos fortes sobre a desigualdade dos sexos e os preconceitos sobre os negros. É bom filme para refletir sobre essas questões.

O filme foi baseado na história real de Belle e do quadro de 1779 de Dido Elizabeth Belle (1761 – 1804) e sua prima Lady Elizabeth Murray. Pintura que por muitos anos ficou pendurado em Kenwood House. Atualmente encontra-se no Scone Palace na Escócia. Esse quadro traz Dido em pé em posição de autonomia, poucas vezes vista afrodescendentes e africanos atuando nos quadros da época.

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O filme foi lançado para cinema em 2013, mas ficou restrito a Europa. Foi indicado e ganhou vários prêmios do cinema independente, como o British Independent film Award para “Best actress in a Britsh Independent film”, para a atriz Gugu Mbatha-Raw (Belle).

“Belle” foi dirigido por Amma Asante, inglesa afrodescendente, e escrito pela roteirista anglo-nigeriana Misan Sagay. O que deixa o filme ainda mais incrível é que além de ser um filme muito bonito, que trata do feminismo e da valorização das mulheres negras, tem mulheres negras nos cargos mais importantes.

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14 Textos

Formada em museologia, mestranda em Preservação do Patrimônio Cultural. Ilustradora e quadrinista amadora. Amante de animação, quadrinhos, artes e cultura geek. Fã do CLAMP, Arakawa Hiromu e Neil Gailman. Esse aristas influenciaram seu gosto por fantasia e por querer entrar no mundo de quadrinho. Apaixonada por dragões, se possível teria um de estimação. Sonha em conseguir publicar suas história e viver delas.
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