[DOCUMENTÁRIO] Seja Homem! – “The Mask You Live In”

[DOCUMENTÁRIO] Seja Homem! – “The Mask You Live In”

Entre muitos documentários interessantes que a Netflix nos oferece, escolhi este para apresentar a vocês hoje. Este é um blog criado por mulheres, para tratar de assuntos diversos que sejam relevantes às mulheres. Nossas lutas, nossas vitórias e como estamos sendo representadas em todos estes meios de entretenimento que amamos e sobre os quais escrevemos aqui.

Então por que falar à respeito de um documentário sobre homens? Afinal eles não passam por metade das frustrações que nós mulheres encontramos durante a vida, não é? Um homem não precisa se preocupar em ser estuprado, ser julgado constantemente pelo tamanho de sua roupa, seu cabelo, seu peso, a quantidade de relacionamentos que já teve, que horas vai voltar pra casa e por onde é mais seguro caminhar a noite… Pera lá!

É justamente por isso que devemos falar sobre homens! E é por isso que “The Mask You Live In” (A Máscara Em Que Você Vive) – possui uma mensagem que também é fundamental para nós mulheres. A máscara invisível a qual o documentário se refere é a do machismo. Machismo este que fere e mata milhares de mulheres no mundo todo, todos os dias! E sim, também fere e mata milhares homens.

O documentário explora de forma bastante simples como a sociedade e seus conceitos de masculinidade e feminilidade afetam a vida de milhares de meninos e jovens americanos todos os dias e como estes padrões sociais prejudicam os homens em seu desenvolvimento psicológico e emocional ao longo da vida. O que por sua vez pode trazer consequências graves para eles mesmos e para aqueles que os rodeiam.

“Seja homem!” É uma das frases que meninos e homens escutam centenas de vezes durante a vida. Mas o que realmente significa ser homem? Segundo os especialistas entrevistados, é algo bastante complexo que nossa sociedade reduziu a alguns estereótipos a serem almejados por todo menino. Por exemplo: ser forte e musculoso, ter sucesso em sua carreira e ganhar muito dinheiro, ter um bom carro, ser respeitado, manter relações sexuais com um grande número de mulheres, estar sempre “aparentemente” bem, não chorar, não ser afeminado, não ser subjugado por outro homem, etc.

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Esta cobrança incessante em ser homem, em agir como um homem, está no centro de muitos problemas sociais. Ela pode levar um jovem a cometer atos como vandalismo, usar drogas, assediar meninas, largar a escola, roubar, praticar bullying e também consentir com atos ilícitos praticados por outros homens. Pode levar à depressão e até mesmo ao suicídio quando um jovem não consegue se encaixar na pequena caixa da masculinidade que lhe é imposta ou quando fica cansado de usar a máscara que precisa para caber nela.

Alguns dos entrevistados são garotos que sofrem bullying na escola, adolescentes envolvidos com drogas e gangues e até presidiários que tentam entender porque cometeram os crimes  e como podem se tornar pessoas melhores. Você certamente vai ser capaz de relacionar uma destas histórias a alguém que conheça. O caso de um pai solteiro e seu esforço diário em criar seu menino para que seja um adulto emocionalmente saudável – diferentemente de como ele próprio foi criado – é algo de que espero me lembrar se algum dia me tornar mãe de um menino.

Acho importante ressaltar que em alguns casos nós mulheres ajudamos a perpetuar regras e estereótipos que são prejudiciais para os homens e para nós mesmas. Apesar do foco do documentário não ser este, acho essencial enxergar e discutir este aspecto aqui. Pode começar com uma mãe dizendo ao seu filho pequeno para que pare de chorar, afinal “chorar não é coisa de homem”. Ou exigindo que este menino pratique esportes mesmo que ele odeie, porque esporte é “coisa de homem” e ser atlético é esperado dele, por seu pai, seu avô, seus professores, etc. Pode partir de colegas de escola, que caçoam o menino magrinho, quieto e chorão. Pode vir de uma namorada, uma amiga, uma avó. Não somos todas inocentes na hora de perpetuar o machismo em nossa sociedade. Eu poderia citar dezenas de outros exemplos mas acho que estes são o suficiente.

Espero ter despertado o interesse de vocês sobre o assunto e peço que reflitam sobre suas próprias famílias. Quantas vezes você já viu seu pai seu avô ou seu irmão chorar ou abertamente pedir ajuda sobre uma questão pessoal? Obviamente existem exceções, mas creio que a maioria das mulheres já tenha se deparado com um ou mais homens em suas vidas que não sabiam compartilhar suas dores, que não possuíam um ou mais amigos (homens) íntimos com quem pudessem conversas a respeito de problemas, que não conseguiam dizer a suas família diariamente o quanto as amam, que não sabiam lidar com questões simples de um relacionamento amoroso, que desabaram ao procurar drogas ou álcool por razões pessoais que provavelmente ninguém conhecia totalmente.

Uma sociedade mais justa e saudável para nós mulheres não acontecerá enquanto homens saudáveis não viverem nela. Cabe a nós não somente denunciar o comportamento machista e violento em todas as suas formas, mas não deixar que ele se perpetue! E isso começa em casa. Com nossos pais, maridos, namorados, filhos, primos, etc. Um menino psicologicamente saudável, que aprendeu desde cedo a lidar com sua raiva, a se aceitar e amar por aquilo que é, a respeitar as mulheres a sua volta, dificilmente vai se tornar um adulto machista e problemático.


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Estudante de Administração, cozinheira e confeiteira, que nas horas vagas ainda encontra um tempo pra se dedicar à escrita. Ama frio, livros de ficção, bons vinhos, bons restaurantes e filmes de época. Sonha em se tornar uma autora publicada e conhecer os quatro cantos do mundo.
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