Woman Hating: o manifesto feminista de Andrea Dworkin

Woman Hating: o manifesto feminista de Andrea Dworkin

Nessas férias eu decidi me aprofundar na teoria feminista, não porque eu ache que a teoria seja mais importante do que a minha vivência como mulher ou que ela seja obrigatória para todas as mulheres, mas porque eu percebi que mesmo me declarando feminista desde os 16 anos eu nunca tinha parado para ler um livro inteiro de nenhuma das teóricas que moldaram o movimento. Decidi começar então com Woman Hating, da americana Andrea Dworkin.

Dworkin (1946-2005) foi uma escritora, ativista, militante feminista radical e lésbica que ficou famosa pela sua luta contra a indústria pornográfica, que ela critica principalmente em seu terceiro livro Pornography: men possessing women devido à violência e ao estupro em que essa se baseia.

Já na faculdade, Andrea começou a se envolver com a militância ao lutar contra a guerra do Vietnã, sendo até mesmo presa em um dos protestos. Depois de formada, se mudou para Amsterdã onde conheceu e se casou com o anarquista Cornelius Dirk de Bruin, quem ela deixou em 71, após sofrer diversos tipos de abuso físico e psicológico.

Desesperada, sem dinheiro para voltar aos Estados Unidos e ainda sendo perseguida pelo ex-marido, Dworkin foi acolhida pela amiga feminista Ricki Abrams, quem a apresentou ao feminismo radical. As duas começaram então a escrever alguns textos que viriam a se tornar depois seu primeiro livro: Woman Hating.

andrea dworkin - Google Search
“Se você quer continuar acreditando que esse é um assunto que deve ser debatido ao invés de ser uma emergência que precisa de ação. Eu quero te contar quantas mulheres vão morrer durante esse debate que você quer ter” – Andrea discursando contra a pornografia

Publicado em 1974, quando a autora conseguiu retornar aos Estados Unidos, o livro faz uma análise cultural e histórica da sociedade com o intuito de levar as mulheres a uma revolução, já na introdução a autora explica:

“Esse livro é uma ação, uma ação política em qual a revolução é o objetivo. Não é para celebrar a sabedoria ou a baboseira acadêmica ou ideias cravadas a granito ou destinado a imortalidade”.

Assim, ela prossegue descrevendo diversas partes da nossa cultura, desde os contos de fadas famosos que crescemos ouvido até as histórias pornográficas, mitos e religiões que moldaram as crenças atuais, para provar como todas elas refletem o ódio contra as mulheres. Além disso, Dworkin faz uma contextualização histórica desse ódio explorando dois acontecimentos que ela considera como genocídio do gênero feminino: o ligamento de pés na China e a caça às bruxas na Europa.

Andrea Dworkin:

Apesar de falar sobre um tema complexo, a linguagem utilizada pela autora é simples, o que torna a leitura do livro fácil e dinâmica. Os exemplos que ela utiliza continuam atuais, apesar de serem dos anos 70, a sua análise sobre a dominação e a violência na pornografia, por exemplo, foi feita com histórias literárias, mas poderia muito bem ser usada para descrever o conteúdo dos filmes de hoje em dia.

Já as suas descrições de conceitos como androginia, homossexualidade, heterossexualidade e família, que são explorados depois em seus próximos livros, são essenciais para entender a forma que Dworkin pensava e porque ela foi tão importante e ao mesmo tempo tão polêmica dentro do movimento feminista. 

O capítulo mais marcante do livro para mim foi o sexto, em que ela descreve o ritual de ligamento de pés na China, não só porque esse ritual demonstra o quanto as histórias de crueldade contra mulheres são simplesmente apagadas e esquecidas, mas também porque ele me fez refletir muito sobre os rituais que nós mulheres nos submetemos para atingir a “perfeição” ditada pelos padrões de beleza e feminilidade.

Andrea morreu aos 58 anos, pois sofria de Osteoartrite. No total a autora lançou 12 livros teóricos sobre feminismo, além disso, escreveu diversos artigos, colunas, discursos e algumas histórias de ficção. Seus livros mais famosos foram Pornography: men possessing women (1981) e Intercourse (1987).

Em Woman Hating, Dworkin faz críticas coerentes conseguindo atingir tanto as mulheres que, como eu, já se consideram feministas há alguns anos, quanto aquelas que estão apenas começando a aprender sobre o movimento. Eu recomendo essa obra clássica para qualquer um que queira se aprofunda e refletir mais sobre a violência contra as mulheres, afinal como conclui a autora:

“Eu escrevi esse livro para descobrir porque eu não sou livre e o que eu posso fazer para tornar-me livre”.

A versão que eu li foi traduzida por Carol Correia e está disponível para download aqui.


 

  • Woman Hating
  • Andrea Dworkin
  • 218 páginas
  • Editora Plume
  • Compre aqui: Amazon

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25 Textos

Feminista. 20 anos. Libriana indecisa com ascendente em leão que sonha em viajar o mundo. Estudante de publicidade e propaganda, apaixonada por séries, livros, filmes e levemente viciada em ver fotos de animais fofinhos na internet.
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