[SÉRIE] The Bletchley Circle: vencendo guerras como uma mulher!

[SÉRIE] The Bletchley Circle: vencendo guerras como uma mulher!

Enquanto esperamos as estreias maravilhosas que a Netflix nos prometeu na Comic-Con Sandiego, coloque The Bletchley Circle na sua listinha e comece a ver agora. Só faça isso!

Criada em 2012 por Guy Burt (The Borgias), a série de apenas 7 episódios é ambientada em Londres pós-Segunda Guerra Mundial, e acompanha a vida de quatro mulheres com habilidades de decifração de códigos subutilizadas depois do fim da guerra, mas que não vão ficar paradas esperando que peçam sua ajuda enquanto um serial killer ataca mulheres na cidade.

Não contém spoilers

Bletchley Park e as mulheres, um pouco de História

A primeira cena da série acontece em 1945, dentro do centro de decifração naval britânico, na propriedade elizabetana chamada de Bletchley Park. Essa propriedade de fato existiu e foi sede do serviço de criptoanálise britânico, onde trabalhou Alan Turing, o matemático que ficou conhecido por sua contribuição na criação do computador moderno. Na equipe designada para a Cabana 8, como eram chamadas as construções de cada setor de Bletchley Park, sob a chefia de Turing, pouquíssimas mulheres trabalharam. Uma delas foi Joan Clarke, interpretada por Keira Knightley, no filme “The Imitation Game” (ótimo filme, aliás, recomendo).

Porém uma das informações que foram pouco creditadas na História e exploradas no entretenimento, é que dos 10 mil profissionais de Bletchley Park, 75% eram mulheres. Entre elas estavam Mavis Batey e Margaret Rock, que só receberam reconhecimento por quebrar o código de uma das agências de inteligência de Hitler em 2009, mais de meio século depois da guerra.

Claro, não podemos ignorar o fato desse grande número de mulheres ter sido contratado porque os homens foram convocados para os campos de batalha. Porém elas provaram ser tão competentes quanto eles (ou mais… cof cof), sendo em sua maioria da classe média britânica, formadas nas áreas de matemática, física e engenharia. Foram elas as primeiras operadoras do computador, lidando com cálculos complexos. Resumindo: as mulheres foram responsáveis por salvar várias vidas durante a guerra, sendo apenas fabulosas em áreas consideradas masculinas.

As mulheres de The Bletchley Circle

São 4 mulheres vivendo em Londres nos anos 50, mas você não vai vê-las conversando sobre homens, filhos, roupas ou culinária, o assunto delas é como decifrar um código para capturar um serial killer que está atacando mulheres. Sororidade é a palavra chave que guia as duas temporadas da série. Elas são movidas pela empatia causada pelo sofrimento de outras mulheres. Mesmo quando a origem e comportamento das vítimas são menosprezadas, as 4 jamais questionam suas posições de vítimas com nenhum grau de culpa, são todas mulheres como elas.

Susan (Anna Maxwell Martin)

Especialista em matemática, consegue enxergar padrões não só em códigos militares, mas em todo tipo de comportamento. Depois da guerra ela casa, tem um casal de filhos e vive uma vida comum de dona de casa. Visivelmente saudosa do trabalho e de fazer a diferença na sociedade, é ela quem percebe um determinado padrão nas ações de um serial killer apenas lendo o jornal. Levada pouco a sério pela polícia, decide procurar suas antigas amigas para resolverem o caso sozinhas.

Millie  (Rachel Stirling)

Especialista em mapas e linguística, dominando 14 idiomas, é uma mulher a frente de seu tempo. Se recusa a se encaixar na ideia de “mulher comum” e parte em uma aventura viajando por vários lugares do planeta sozinha. Com todo o dinheiro gasto em viagens, ela volta à Londres e vive de bicos, enquanto ostenta um batom vermelho, calças e roupas coloridas, bem incomum para a época. Por sua experiência, ela é a mais preparada e atenta a sinais de perigo.

Lucy (Sophie Rundle)

A mais nova do grupo é capaz de registrar na memória dados, números e detalhes em imagens com uma eficiência assustadora. Ela é a que mais se identifica emocionalmente com os casos, por causa do seu casamento com um marido abusivo.

Jean (Julie Graham)

Chefe da Cabana 4 de decodificação naval durante a guerra, Jean é especialista em coleta de dados, não importa quão difícil seja. Metódica e organizada, passa a trabalhar como bibliotecária após a guerra. Sua sala acaba virando o quartel general do grupo durante as investigações.

A série

Originalmente “The Bletchley Circle” seria uma minissérie. Porém a aceitação positiva dos seus 3 episódios acabou permitindo ao canal encomendar mais uma temporada, mas a baixa audiência fez com que não fosse renovada para uma terceira. Nesse formato, portanto, temos 3 arcos independentes um do outro: um com 3 episódios e os outros com 2, todos bem amarrados e disponíveis na Netflix.

Susan Gray ensinando a polícia a trabalhar (YEAH!)

Uma das vantagens de minisséries é a possibilidade de não ter que alongar o roteiro com cenas de pouca importância ou mesmo desnecessárias. O ritmo da série é frenético! Quase achei que as quatro protagonistas desvendariam tudo no primeiro episódio. Mesmo assim a narrativa mantém o suspense em alto nível, fazendo seu coração parar a cada fim de episódio. Uma das principais causas disso é que apesar de serem especialistas em decifração de códigos, as 4 mulheres nunca trabalharam em campo e claramente não sabem como conduzir uma investigação, cometendo erros bem perigosos.

Esse ritmo rápido e misterioso das investigações desacelera um pouco na 2ª temporada, mas não perde a qualidade da narrativa mesmo assim. Se for para apontar um defeito, eu diria que a edição tem algumas falhas que deixam cenas estranhas. Porém não chega a atrapalhar as tramas.

Postais machistas usados na guerra para perturbar psicologicamente os soldados 

O retrato dos anos 50 é incrível, tanto no figurino e reconstrução de cenário, como mostrando o machismo da época. Questões como trabalho (malvisto em relação a mulheres casadas), assédio, abuso, segurança, educação de meninas, mansplaining, gaslighting, são recorrentes na série. Nada disso é nomeado, mas tudo é abordado de forma bastante clara e muito bem inserida no contexto. O machismo é um assunto importante no desenvolvimento de “The Bletchley Circle” e tratado com muito cuidado aos detalhes. Cada olhar, gesto e atitude fazem parte dessa reconstrução.

Eu fiz textão pra convencer você de que a série é maravilhosa e riquíssima quando o assunto é girl power, tudo isso com apenas 7 episódios. Tá esperando o que?

Escrito por:

39 Textos

Bagunceira e bagunçada, por dentro e por fora. Prefere ver séries em maratonas, menos Game of Thrones, porque detesta spoiler. Totalmente apaixonada por desenho e animação. Tem mania de citar filmes em conversas, conselhos, brigas ou onde couber uma referência. Prefere gastar dinheiro com quadrinhos do que com comida, sendo muito entusiasta do quadrinho nacional e graphic novels em geral. Formada em Jornalismo, mas queria mesmo trabalhar com roteiro e ilustração.
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