Orphan Black: ficção científica feminista

Orphan Black: ficção científica feminista

Orphan Black é uma série canadense de ficção científica, que conta a história de Sarah Manning (Tatiana Maslany), uma jovem mãe solteira britânica com histórico criminal, que assume a identidade de uma mulher parecida com ela, após testemunhar o seu suicídio em uma estação de trem.

Logo no primeiro episódio, Sarah descobre que a mulher era uma detetive chamada Elizabeth Childs e que a conexão entre as duas é muito mais estranha do que uma história de irmã gêmeas perdidas: elas são clones e fazem parte de um experimento de uma instituição científica.

Não contém spoilers

Orphan Black episode 1

Assim, o plano de Sarah – que se resumia em furtar o dinheiro da conta bancária de Beth e fugir do seu ex-namorado abusivo para começar uma nova vida – muda drasticamente quando ela conhece outras duas clones, Alison, uma mãe do subúrbio, e Cosima, uma cientista americana. Elas se juntam para descobrir mais sobre a sua origem e o que significa fazer parte desse experimento.

A série traz uma história original com episódios em ritmo rápido, repletos de ação, mistério e humor, que trata de diversos temas complexos como a ética na clonagem humana, o transumanismo e o fanatismo religioso, mas acima de tudo, ela traz uma história sobre mulheres.

As mulheres de Orphan Black estão lutando pela sobrevivência e autonomia, em um mundo onde seus corpos e vidas são controlados – qualquer semelhança com a realidade, onde um congresso repleto de homens brancos que criam leis sobre o que podemos ou não fazer com nossos corpos, é mera semelhança, obviamente – e diferente da maioria dos filmes e séries de ficção científica, elas são as principais da história.

As clones de Sarah (que a principio são só 3, mas depois surgem outras) são todas personagens complexas e bem construídas, completamente diferentes uma da outa, o que demonstra a atuação maravilhosa de Tatiana Maslany, que consegue interpretar todas com personalidades, sotaques e jeitos diferentes. Além disso, outras personagens femininas como Siobhán, a mãe adotiva de Sarah, e Delphine, a cientista francesa que vira par romântico de Cosima, também merecem destaque por serem mulheres fortes e importantes para a história.

orphan black sarah helena

Orphan Black, Season 2, Episode 10

Outro motivo para considerar Orphan Black uma série feminista é que a sua narrativa se baseia principalmente no relacionamento entre mulheres, seja entre Sarah e suas clones, que passam a se chamar de irmãs. Entre Sarah e sua mãe adotiva S. ou Sarah e sua filha Kira, é fácil notar que o amor maternal e a sororidade são demonstrados como traços fortes das personagens, que sempre buscam proteger umas as outras. Os personagens masculinos como Félix (irmão adotivo de Sarah), Donnie (marido de Alison) e Art (parceiro policial de Beth) também são bem construídos e, apesar de não serem os principais, fazem muita diferença na história na medida em que ajudam as mulheres, sempre deixando que elas tomem suas próprias decisões.

O romance também está presente de forma natural sem se tornar a coisa mais importante da vida das personagens, fazendo com que a série passe facilmente no teste de Bechdel. Além disso, ainda há a representatividade, que apesar de ainda ter que melhorar muito no quesito personagens não-brancos, consegue ser muito melhor do que a maioria das obras de ficção científica, apresentando personagens LGBT, como Cosima e Félix, que não são definidos apenas pela sua sexualidade.

Minha sexualidade não é a coisa mais interessante sobre mim” – Cosima

Ao fazer uma analogia direta entre a clonagem e os direitos reprodutivos femininos, utilizando personagens fortes, representadas de forma humana e com histórias envolventes, Orphan Black não apenas entretêm, mas também demonstra que a ficção científica pode sim ser estrelada por mulheres e pelas suas histórias. Como diz a própria Tatiana em entrevista à revista Elle:

Isso se tornou a nossa marca. Contar histórias de mulheres, investigar as mulheres e quebrar os estereótipos do tipo de pessoas que estamos acostumados a ver na tela. Eu sou uma grande feminista e eu me sinto muito sortuda por estar em uma série onde as mulheres são o enredo principal. Elas não estão em segundo plano.

Elas não estão lá para ser o apoio ou para ser a namorada ou para ser a esposa. Elas são totalmente autônomas em termos de ser um personagem. Achei interessante lidar com essa ideia dos clones sendo capturados ou sendo propriedades de uma corporação. É uma metáfora legal para os nossos corpos e as nossas identidades como mulheres nos dias de hoje.

Todas as quatro temporadas estão disponíveis na Netflix.

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Feminista. 20 anos. Libriana indecisa com ascendente em leão que sonha em viajar o mundo. Estudante de publicidade e propaganda, apaixonada por séries, livros, filmes e levemente viciada em ver fotos de animais fofinhos na internet.
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