GUIN SAGA: a notável obra medieval criada por uma mulher

GUIN SAGA: a notável obra medieval criada por uma mulher

Conheci “Guin Saga” por acaso. Ganhei o primeiro volume e fiquei encantada logo de início com o belo trabalho visual presente, mas acreditava ser apenas mais uma história épica comum. Eu realmente amo o mundo medieval, como boa RPGista que sou (minhas lutadoras, ferreiras e lanceiras sempre são ótimas), mas convenhamos que a maioria das histórias não se inovam e no fim temos a sensação de ter lido mais do mesmo.

São poucos os enredos que me cativam trazendo algo surpreendente, e com esse pressuposto eu fui ler esta obra, meu pensamento era “ah se a história não for boa pelo menos a arte é muito bonita” e lá foi eu conhecer o mundo do estranho brutamontes com máscara de leopardo e tanguinha; foi como levar um tapa na cara, pois esse mangá é excelente, inovador e criativo. Os personagens são muito bem trabalhados psicologicamente, as mulheres são mais do que princesinhas frágeis e choronas, tudo o que eu imaginei que não fosse, e assim ganhei minha carteirinha de fã de Guin Saga.

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Depois de gamar na obra eu fui procurar mais informações sobre, e pasmem, ela é uma das fontes de inspiração para o mangá “Berserk”, realmente não é pouca coisa pessoal. Na verdade a história de Guin Saga começa muito antes do mangá, ela se inicia em 1979 por meio de uma série de livros medievais, e é bastante extensa englobando vários acontecimentos. Agora vou falar um pouco do mangá sem fazer nenhuma revelação bombástica, desejo que vocês se surpreendam tanto quanto eu quando forem ler esta maravilha.


Sem Spoiler


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Há duas versões de mangás com enredos diferentes sobre Guin Saga: o que foi lançado no Brasil pela Panini, com  o título original e arte de Hajime Sawada, totalizando 6 volumes; e o “Guin Saga – The Seven Magi”, com arte de Yanagisawa Kazuaki, contando uma versão paralela ao mundo original, com 3 volumes no total. A versão sobre qual irei falar é a primeira citada.

Como esperado o protagonista é Guin, uma criatura com corpo de homem e cabeça de leopardo. Ele sofre de amnésia, dessa forma não tem noção de quem é, de onde veio ou para onde vai, apenas poucos fragmentos da história sobre si são de seu conhecimento. Ainda assim ele se mostra um exímio guerreiro e estrategista-nato ao mesmo tempo em que usa um forte senso de justiça e lealdade.

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O enigmático Guin

No meio de uma floresta amaldiçoada ele encontra um casal de crianças gêmeas que estão fugindo, Rinda e Remus, os herdeiros da nobreza do País de Parros, atingido pela guerra recentemente. Guin decide ajudá-los e assim se forma uma forte amizade entre os três, ele se torna um tipo de “protetor” das crianças durante o desenrolar da história. Eles passam por várias situações ameaçadoras e também vão surgindo outros aliados e companheiros. É perceptível que o protagonista conhece muitos mistérios acerca do mundo, possui um forte instinto de sobrevivência e o grande desejo de esclarecer todas as dúvidas que pairam sobre si.

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As “Pérolas Gêmeas”: Remus e Rinda

O fato da obra ser da autoria de uma mulher ajudou na bela criação das personagens femininas (em si o enredo é cheio de fatores interessantes). No caso entre os irmãos gêmeos, temos Rinda como uma menina de atitude e forte, que protege seu irmão (ele é o oposto dela, chega a ser irritante) a todo custo, além de ter uma habilidade mística. Como antagonista vemos a forte presença feminina de Lady Amnelis, uma general do exército inimigo, ela é muito respeitada e inspira confiança em seus subordinados, é uma estrategista e guerreira de grande habilidade, costuma se envolver em eventos vistos como “perigoso para uma mulher”.

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A estrategista Lady Amnelis

Creio que essas presenças femininas são muito interessantes e contribuem para uma maior riqueza da história, pois fogem daqueles estereótipos comuns atribuídos às mulheres em enredos medievais. As mulheres da saga são muito marcantes, estejamos torcendo por elas ou contra elas. Eu que nunca fui fã das mocinhas nesse tipo de obra (em sua maioria são mimadas e chatas) fiquei fascinada pela Rinda.

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Rinda

O romance em que o anime se baseou foi escrito pela autora Kaoru Kurimoto, graduada em literatura desde 1975. Durante sua carreira ela conseguiu quebrar vários recordes e ser bastante premiada. Ela chegou a escrever o exorbitante número de 400 livros dos mais variados tipos. Em 2009 foi descoberto que ela estava com câncer, e ela faleceu em 26 de maio do mesmo ano. O último volume da obra que ela escreveu foi o 130º. Em 2013 Yu Godai escreveu a continuação com o volume 131, seguido de Yume Yohino que fez o 132.

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Toda a cultura e o mundo retratado em Guin Saga possui riqueza nos detalhes e complexidade, muitas vezes fazendo clara referência a Europa. As intrigas e motivos das guerras são bem trabalhados e as explicações são bastante lógicas.

Existe também a opção de ver o anime, que segue o enredo do mangá e é dividido em 26 episódios.

Quem está afim de se embrenhar por uma aventura estilo RPG num mundo medieval e se surpreender, vale muito a pena a leitura desse mangá, que de longe pode ser considerado uma verdadeira obra de arte, seja pelo trabalho visual artístico presente, ou pelo maravilhoso enredo.

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Guin Saga

Editora: Panini.

Autor: Hajime Sawada, baseado nos contos de Kaoru Kurimoto.

Duração: 6 volumes.

 

Escrito por:

Ilustradora, quadrinista, colorista, amante da arte tradicional. Fã de mangá e anime desde a infância, gamer e rpgista. Amante de livros e viciada em seriados. Seus gêneros favoritos de filmes inclui thriller psicológico e animação. Curte rock alternativo, rock clássico, indie rock, metal (folk, viking e heavy). Sente-se determinada como sua heroína Mulan, mas gosta de abraços quentinhos igual o Olaf.
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