[EVENTO] Entrevista com Carol Rossetti (2º Encontro Lady’s Comics)

[EVENTO] Entrevista com Carol Rossetti (2º Encontro Lady’s Comics)

Mais um dia, mais um texto sobre o 2º Encontro Lady’s Comics, que aconteceu em Belo Horizonte, entre os dias 29 e 31 de julho. O evento reuniu várias mulheres com trabalhos maravilhosos e entre uma mesa e outra, a feirinha virou o ponto de encontro para conhecer novos quadrinhos, conhecer gente nova, rever amigas… Como melhor aproveitar esse tempo, senão conversando com essas artistas?

Você já deve conhecer o trabalho de Carol Rossetti. Se não conhece, vai conhecer agora já com uma entrevista sobre suas publicações, visão de representatividade e relacionamento com o público.

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Carol Rossetti apresentando seus trabalhos na feirinha do evento.

Carol Rossetti é designer gráfico, formada em 2011, e autodidata na ilustração. Já falamos um pouco sobre a cartilha “Vamos Conversar?” e o projeto “Cores”, que está no Catarse. Vem se apaixonar mais ainda por ela!


DN – Quando você começou a publicar seu trabalho?

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Capa do livro “Mulheres”

Carol – A publicar na internet, eu comecei em 2014. Em 2013 eu até publiquei um livro. Não foi um livro meu, foi um livro que eu ilustrei contratada por uma editora. Aí em 2014 eu comecei a postar meus próprios trabalhos na internet. Em 2015, publiquei o livro “Mulheres” pela Editora Sextante, que foi um livro totalmente autoral. Os textos, as ilustrações, tudo fui eu que fiz. Esse livro foi publicado em outros países, o que foi bem legal também. E agora eu estou com “Cores”, que é um projeto de quadrinhos, que está no Catarse e eu espero lançá-lo em novembro.

DN – Seus projetos são sempre focados em minorias. Como você escolhe esses temas?

Carol – Na verdade, eu sinto que tenho a responsabilidade de trabalhar com uma representação diversa de pessoas. Então a medida que esse é o meu trabalho, de ilustrar ou mexer com comunicação, seja através do design gráfico, seja com quadrinhos, criação de personagens, eu sempre tento fazer uma coisa bem diversa, não cair naquela de só fazer personagens brancos, jovens, magros, héteros e tal. Por acaso até hoje todos os meus projetos tiveram mesmo uma pegada feminista, mas eu acredito que mesmo se eu não tiver mexendo abertamente com essa temática, sempre vou abordar essa questão da representatividade, que eu acho muito importante. Então, “Cores” é isso. Eu estou trazendo isso para as crianças, porque eu já vejo várias iniciativas de pessoas fazendo coisas pensando na representatividade, mas eu vejo pouco material pra criança ainda. E é uma época que é muito importante a gente ter uma representatividade legal.

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DN – “Mulheres” é um projeto com histórias reais. Como você chega nessas histórias ou como elas chegam até você?

Carol – São histórias reais com personagens fictícios, pelo menos a maior parte delas. No começo eram histórias do meu dia a dia, vivências minhas, de amigas, de parentes. Então no começo eram coisas que faziam parte do meu cotidiano. E quando o projeto foi ganhando mais repercussão, pessoas do mundo inteiro começaram a me mandar sugestões, ideias, contar vivências. Aí o projeto expandiu muito. Eu aprendi muito com ele, porque saiu muito do meu cotidiano, eu comecei a aprender coisas que nem sabia que eram questões. Teve muita participação do público.

DN – E como você se relaciona com esse público?

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Postais de “Mulheres”

Carol – É bem tranquilo, eu costumo responder todas as mensagens que me mandam, a não ser que sejam muito agressivas ou muito estranhas. Tipo, alguém me manda uma mensagem de “E aí? Tudo bem?”, aí eu “Tudo”. Então a pessoa começa a me contar coisas que são muito… conversas de elevador [risos] e eu não sei pra onde isso vai levar, então essas mensagens eu nem sempre respondo. Mas tirando isso costumo responder todas, converso bastante com todo mundo. O pessoal manda muita crítica construtiva, coisas que vão melhorar o trabalho, tem muita gente que ajuda nas traduções, me ajudam com palavras. “Ah, se você usar palavra tal vai ser melhor, porque não dá margem…”, então eu sinto que meu trabalho é muito construído junto com o público também. Por isso, tento ser bem aberta, bem acessível.

DN – Como você enxerga a importância de você, mulher produtora de conteúdo, se juntar com outras mulheres que também produzem quadrinhos, em evento, coletivos…

Carol – Eu acho muito importante! Agora que eu estou criando consciência da ideia de eu mesma enquanto uma referência. Isso é muito estranho, eu sou só fã dos outros. E de repente eu tenho pessoas que estão gostando do meu trabalho, que estão acompanhando e levando a sério as coisas que eu falo. Então é uma coisa que tanto eu quanto grande parte das minhas colegas conversamos e elas estão sentindo a mesma coisa. Poxa, minha voz está tendo importância agora! Que legal! Eu acho muito bom, muito importante. Acho que a gente costuma ter um diálogo muito aberto. É muito acessível conversar com as quadrinistas e ilustradoras. E eu acho que é um diálogo que rende frutos muito positivos. A gente troca experiências, dá uns toques. Tem mercado pra todo mundo, a gente não precisa competir. Então está todo mundo ajudando as outras, a gente quer que todo mundo cresça. Eu gosto muito das iniciativas de coletivos, eu faço parte de um coletivo também, que é o Zinas, aqui de BH. Volta e meia a gente lança um zine em conjunto com trabalhos de todo mundo. Inclusive o coletivo está com um projeto bem legal de oficinas pela cidade. Eu vejo os outros coletivos, a produção está incrível, as meninas estão produzindo coisas fantásticas, um material que é realmente uma referência muito importante. Eu acho que estão mudando o rumo dos quadrinhos em vários aspectos, e é ótimo!

DN – O que você diria paras as mulheres que estão querendo começar a fazer quadrinhos?

Carol – Uai, cai pra dentro! [risos] É muito legal, é otimo! É sofrido também, muito trabalhoso. Fazer quadrinhos é uma coisa que às vezes tem mais suor, sangue e lágrimas do que parece vendo de fora, sabe?! E tem de tudo. A gente não é levada a sério, tem preconceito. Depende, a gente pode enfrentar várias coisas. Mas no final do dia eu fico muito feliz de estar trabalhando com isso e fazendo o que eu gosto. Então se é isso que elas querem, tem mais que correr atrás mesmo. No começo pode conciliar com outros trabalhos, uma hora você consegue viver só disso também. É meio aventura, mas é legal!

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Conheça o trabalho de Carol Rossetti:
SiteFacebook – Instagram – ZiNas

Conheça o coletivo Lady’s Comics:
SiteFacebook

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39 Textos

Bagunceira e bagunçada, por dentro e por fora. Prefere ver séries em maratonas, menos Game of Thrones, porque detesta spoiler. Totalmente apaixonada por desenho e animação. Tem mania de citar filmes em conversas, conselhos, brigas ou onde couber uma referência. Prefere gastar dinheiro com quadrinhos do que com comida, sendo muito entusiasta do quadrinho nacional e graphic novels em geral. Formada em Jornalismo, mas queria mesmo trabalhar com roteiro e ilustração.
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