[EVENTO] Universo de possibilidades: quadrinhos de sci-fi por mulheres (2º Encontro Lady’s Comics)

[EVENTO] Universo de possibilidades: quadrinhos de sci-fi por mulheres (2º Encontro Lady’s Comics)

Germana Viana, Edna Lopes e Mariana Cagnin, mais conhecida como Mary Cagnin, foram convidadas à falar sobre suas primeiras experiências com ficção científica nos quadrinhos, no 2º Encontro Lady’s Comics, que a gente não vai cansar de falar tão cedo.

Cada uma teve um primeiro contato com o sci-fi de um jeito. Edna Lopes bebeu da fonte literária, lendo livros de Isaac Asimov, Arthur C. Clarke, e outros clássicos do gênero. Germana Viana é uma trekker whovian, adora os clássicos do cinema de sci-fi e irá defendê-los. E por fim, Mariana Cagnin que é super fã de mangás e recentemente teve a mente explodida pelo filme Interestelar, de Christopher Nolan. Três caminhos diferentes e super ricos.

WE CAN DO IT!

Cada uma delas foi falando como de início não se sentiram capazes de escrever roteiros de ficção científica, como se não pudessem fazer parte desse universo. Mary Cagnin chegou a questionar se tinha bagagem suficiente do gênero para agradar os fãs “de verdade”. Mesmo Edna, que cresceu lendo sci-fi e Germana que já trabalhava com publicação de quadrinhos há 10 anos e tem bagagem de fazer os confiscadores de carteirinha nerd chorarem, demoraram pra ter coragem de publicar algo próprio no gênero.

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Destaque de “Lizzie Bordello”, de Germana Viana

O encontro teve muitos momentos ricos, mas esse foi um momento de aprendizado em conjunto riquíssimo, porque Germana abriu uma discussão sobre como as mulheres são educadas pra serem discretas, modestas e se sentirem inferiores. O fato de todas elas serem convidadas a subir ao palco e falar sobre seus trabalhos já significa que elas são um sucesso, porém até aquele momento cada uma praticamente pediu desculpa por estar ali. Um gesto automático, sem falsidade, mas que reflete toda uma cultura machista que ensina as mulheres a tomarem “seus lugares”.

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Destaque de “Black Silence”, de Mary Cagnin

Migos, pode ser difícil quebrar o ciclo vicioso, mas para todas as mulheres que estavam lá, ele já foi rachado. Se tem lugar pra todas e no lugar que quiserem, as mulheres vão mesmo tomar o lugar que buscarem no terror, no sci-fi, nos quadrinhos, no cinema, em todo canto. Allons-y!

Universos possíveis e representatividade

“A ficção científica é uma forma de questionar situações sociais atuais e construir uma humanidade que dá certo. Ela permite fazer críticas com humor e profundidade quando muitos nem entendem”. É assim que Germana Viana vê as possibilidades dentro do sci-fi e com um humor escrachado, sem tanta preocupação em ser cientificamente perfeita, ela criou “Lizzie Bordello e as Piratas do Espaço”, que você pode conhecer aqui.

Esse gênero de fato tem um liberdade bem particular de criação e dá pra explorar assuntos reais em cenários e personagens totalmente diferentes de tudo que já se viu. Foi essa dualidade que atraiu Mary Cagnin quando resolveu enveredar na criação de “Black Silence”, projeto que está no Catarse e já falamos sobre aqui. “Foi um desafio pra sair da realidade e se conectar de outra forma com o momento da minha própria vida”, disse Mary.

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Página de “As Aventuras de Qüeby e Saepius”, de Edna Lopes

A relação com o jornalismo de Edna Lopes foi o que despertou sua curiosidade para questionar atitudes humanas. Diante de uma notícia bastante veiculada sobre a possibilidade do despejamento de lixo humano em Marte, uma luzinha se acendeu na sua mente. Aos poucos foi nascendo “As Aventuras de Qüeby e Saepius”, dois marcianos frutos de manuseio de DNA, que você pode acompanhar aqui.

Em todo esse processo elas colocam também a ideia de representatividade. Edna criou dois personagens híbridos, sem definição de gênero, abrindo muitos caminhos. Germana e Mary optaram por sociedades futuristas onde pode não haver uma cultura que discrimine grupos sociais.

E elas entendem bem o cuidado que precisam ter com isso. “Todos nós temos preconceitos. Você tem coisas horríveis dentro de você que não escolheu ter“, lembrou Edna, ressaltando a ideia de que estamos sempre em processo de aprendizagem e desconstrução, não somos capazes de entender profundamente a situação de discriminação de um grupo do qual não fazemos parte. Por isso, Mary tenta trabalhar sua criatividade dentro dessa diversidade de personagens. E Germana faz muita pesquisa e pede sempre opiniões de amigas e conhecidas que façam parte de grupos que ela quer retratar, como negras, mães, para não roubar o lugar de fala de nenhuma delas.

E claro, toda forma narrativa é dinâmica. Então tanto Germana, quanto Mary e Edna, passeiam por outros gêneros nas suas ficções científicas. Elas vão de comédia, a drama, romance, terror. Já somos fãs: sim ou com certeza?

Às criadoras de sci-fi, vida longa e próspera!

Conheça um pouco mais os trabalhos delas:
Germana VianaMary CagninEdna Lopes
Lady’s Comics


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