Narrando a vida de uma mulher desde o seu nascimento até a sua morte, na ordem inversa, ou seja, de trás pra frente, o filme começa com o ritual fúnebre de uma das muitas mulheres retratadas nesse interessante filme documental, dirigido por Bia Lessa e Dany Roland.
Com mais de 500 horas de gravação, os diretores que buscavam capturar o cotidiano de habitantes do interior nordestino na década de 1990, constroem uma narrativa sobre os diversos ritos de passagem que as mulheres experimentam ao longo de suas vidas: nascimento, adoção, infância, menarca, troca de dentição, adolescência e suas agruras colegiais, flerte, casamento, maternidade, separação, perda, velhice e morte.
O peculiar na construção da narrativa aqui apresentada, se dá pelo fato dessa mulher ser representada ao longo de 89 minutos por diversas e diferentes mulheres que habitavam aquela região naquele período. Para além da questão de gênero, o filme acaba por ser um retrato e um recorte de um Brasil interiorano, numa década em que ainda havia muito pouco investimento em políticas públicas para a melhoria daquela região.
Ao final da projeção, fica uma enorme vontade – tendo em vista que o filme só vem ao mundo agora – de que houvesse um retorno aos locais de filmagem, a fim de fazer um balanço das mudanças pelos quais não só a região passou, mas as mulheres que dão vida e corpo ao filme vivenciaram.
Logo nos créditos iniciais, faz-se uma homenagem a Eduardo Coutinho e José Carlos Avellar, cujas obras certamente serviram como fontes de inspiração para a elaboração deste projeto.
Apesar de satisfatório o resultado final do filme, tendo em vista a sua proposta, os diretores dedicam um tempo maior nos relevos sobre a idade avançada destas mulheres, passando uma sensação de que ao chegar à adolescência e à infância tudo se dá de forma mais rápida e acelerada, até desembocar no final do filme, que culmina no nascimento e, portanto, seu início, com a renovação do ciclo da vida.