[CINEMA] “Animais Fantásticos e Onde Habitam” – crítica sem spoilers

[CINEMA] “Animais Fantásticos e Onde Habitam” – crítica sem spoilers

O filme “Animais Fantásticos e Onde Habitam” estreou no Brasil no dia 17 de novembro, e estava sendo ansiosamente aguardado por milhares de fãs no mundo inteiro que sentiam falta do universo bruxo da saga Harry Potter. Dias antes de sua estreia, a notícia de que esse foi o primeiro de uma franquia de cinco filmes mexeu ainda mais com os ânimos de todos.

A história se passa na cidade de Nova York, no ano de 1926, e acompanha a chegada do bruxo britânico Newt Scamander (Eddie Redmayne) aos Estados Unidos. Newt é um magiozoologista e leva em sua maleta diversas espécies de animais raros (de forma secreta, já que é proibido o porte desses animais). Porém uma confusão acontece quando troca a maleta acidentalmente com o não-maj (não mágico, apelido americano para as pessoas comuns conhecidas como “trouxas” no universo Harry Potter) e Jacob Kowalski (Dan Fogler) deixa várias de suas criaturas escaparem pela cidade. Para evitar que isto se torne uma catástrofe, Newt, Jacob, a ex-auror Tina Goldstein (Katherine Waterston) e sua irmã legilimente (termo usado para se referir à bruxos que conseguem ler mentes) Queenie Goldstein (Alison Sudol), saem em busca dos animais. Enquanto isso, o MACUSA – Congresso Mágico dos Estados Unidos da América, lida com um onda de terror, provocada pelo bruxo Gerard Grindelwald (Johnny Depp), que possui um plano para expor o universo da magia a todos os não-majs.

A escritora J.K. Rowling sempre construiu ótimas personagens femininas, o que já foi comentado como um dos motivos para amá-la nesse post. Em Animais Fantásticos, não poderíamos esperar nada diferente disso. Tina é uma figura determinada que almeja sucesso em sua carreira. Tem um cargo importante como auror (profissão bruxa de combate às artes das trevas) porém, foi afastada por falhar em uma missão, e vamos descobrindo o que levou a esses acontecimentos durante o filme. Mesmo assim é ela quem percebe o perigo que os animais soltos de Newt poderiam causar, usando sua coragem para ajudar a capturá-los.

Queenie, a irmã de Tina, é o seu oposto em personalidade. Aparenta ser mais delicada, e logo em suas cenas iniciais, aparece cozinhando e flertando com Jacob. Essas características em nenhum momento desmerecem a personagem, que tem plena segurança de sua sexualidade e também é de grande ajuda para encontrar as criaturas mágicas, sendo tão inteligente e determinada quanto a sua irmã. 

As irmãs Tina e Queenie foram um ponto alto da produção

Uma ressalva quanto a personagem Queenie é, porém, o seu relacionamento com Jacob. Essa relação cai na recorrente narrativa de “mulher bonita se apaixona por homem feio” presente em diversos filmes. É claro que para se ter um relacionamento é necessário se olhar além da aparência física do outro, mas a composição da relação entre ambos reforça a concepção de que o homem não tem que fazer o menor esforço para atrair o interesse de uma mulher – por mais bonita, inteligente e, no caso de Quennie, mágica que ela seja – enquanto a mulher permanece tendo que se adequar a padrões de beleza específicos para ser notada. É interessante ver como a repetição dessa “síndrome” é constante, em contraponto as raras vezes em que o contrário ocorre; o mais comum é ver um homem padrão com uma ex fora dos padrões, após esta passar por uma transformação para ficar “adequadamente” bonita.

queenie-e-jacob
Queenie e Jacob

Outra personagem feminina forte da trama é Seraphina Picquery (Carmen Ejogo), presidente do Macusa. É ótimo podermos ver uma personagem mulher no principal cargo de liderança da comunidade bruxa americana, e sendo Seraphina uma personagem negra, essa representatividade é ainda mais importante. Infelizmente o filme não possui muitos outros personagens negros, e colocar somente uma figura de destaque ainda não é suficiente. Entretanto, nesse pequeno passo vagaroso, Seraphina foi um ponto positivo para a história, não restam dúvidas.

Seraphina firme e forte como uma boa líder

A vilã Mary Lou Barebone (Samantha Morton) consegue ser desprezível com sua perseguição ao mundo bruxo, e mesmo conquistando o ódio do público, desempenha muito bem o seu papel. A personagem é responsável pela violência contra o personagem Credence Barebone (Ezra Muller). O ator Ezra Muller, por outro lado, não cativou muito com seu personagem perturbado, porém, sem conexão com o público. 

Mary Lou e seus filhos tentando convencer que existe bruxaria entre nos no-majs

Além da vilã Mary Lou, a representação dos no-majs fica também a cargo de Jacob. É com ele que Newt troca de maletas no começo, dando início a trama do filme. Apesar de ser um personagem claramente carismático, sua representação apresenta sérios problemas. O estereótipo de “gordinho engraçado” se faz presente a todo momento no filme, cabendo a Jacob a maioria das piadas do longa-metragem. Essa caracterização reforça a imagem que diversos personagens gordos em filmes possuem de serem, obrigatoriamente, engraçados, sendo relegados a um simples “fator comédia” nos mesmos.

E agora, chegamos naquele ponto polêmico. Sim, vamos falar da escalação de Johnny Depp.

O ator foi acusado de agressão contra a sua ex-esposa, a atriz Amber Heard, em agosto deste ano. Provavelmente, na época do ocorrido o ator já havia sido contratado ou mesmo realizado as filmagens, e uma quebra de contrato a essa altura custaria um bocado para o estúdio. A indústria cinematográfica Hollywoodiana tem tendência a ser machista e misógina, visto outros casos de atores e diretores famosos que conseguiram se safar de acusações de agressão e abuso (exemplos como Woody Allen, Mel Gibson e Bernardo Bertolucci). J.K. costuma se manifestar em relação a assuntos como homofobia, machismo e racismo, e mesmo que não pudesse mudar a escalação do filme, esperamos que pelo menos mostrasse alguma indignação. Ela, no entanto, declarou estar satisfeita com a escalação de Depp, o que foi um tanto decepcionante para seus admiradores.

É desanimador ver que um caso desse porte não foi suficiente para afastar o ator da trama? Bom, claro que é, mas os protestos em relação ao caso mostram que já não aceitamos nossa causa sendo silenciada. A repercussão negativa tomada pela escolha do ator serve para mostrar aos estúdios que é melhor pensar duas vezes antes de achar que nossa memória é fraca. Agora, aguardaremos para ver se Depp será mantido ou não nos filmes seguintes, apesar de, infelizmente, a probabilidade de ele ser retirado do elenco seja pouca.

Quanto ao veredito, “Animais Fantásticos e Onde Habitam” vale a pena? Vale, muito! O filme é leve e maduro ao mesmo tempo, acompanhando os acontecimentos pós-guerra sem deixar o tom da fantasia de lado. Você pode ser fã incondicional da saga “Harry Potter” e pular de alegria a cada referência, como citações a Alvo Dumbledore, por exemplo, ou nunca ter assistido nenhum dos filmes e ainda assim se encantar com a história e compreendê-la sem maiores problemas.

TEORIA

Logo que saiu a notícia de que “Animais Fantásticos” seria uma série de cinco filmes, e não uma trilogia como se acreditava até então, J.K. foi questionada pelos fãs a respeito. No Twitter, a escritora respondeu com a palavra “cinco” em cinco diferentes idiomas. O primeiro foi inglês, e já temos o primeiro filme que se passa nos Estados Unidos; o segundo foi francês, e sabemos que o segundo filme vai se passar na França (informação já confirmada pelo diretor David Yates); o terceiro idioma foi o alemão; o quarto, português e o quinto, italiano.

Eis o tweet do alvoroço

Sabemos que existe uma escola de magia e bruxaria no Brasil, a “CasteloBruxo”, e informações a seu respeito podem ser encontradas no site “Pottermore”, atualizado pela própria autora. Conhecendo bem essa pessoa, pontos sem nós nunca foram o forte de J.K., que adora relacionar conteúdos e pensa minimamente nos detalhes de sua história. Já foi dito que existem diversas escolas de magia pelo mundo, mas “CasteloBruxo” foi uma das poucas a serem detalhadas no “Pottermore” (por enquanto, é claro). Tudo isso é apenas especulação no momento, mas podemos contar com a teoria de que o quarto filme se passe no Brasil! Só a possibilidade já enlouquece muita gente. Vamos aguardar e torcer!

Texto escrito por Jéssica Confferri e Camille Legrand

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