[CINEMA] “The History of 100 Years of Women’s Health Care At Planned Parenthood”: um exemplo a ser seguido pelo Brasil

[CINEMA] “The History of 100 Years of Women’s Health Care At Planned Parenthood”: um exemplo a ser seguido pelo Brasil

À luz do resultado das eleições norte-americanas e da cerimônia de posse do agora presidente dos EUA, Donald Trump, foi visto um exemplo espetacular de união feminina ao redor do globo. O estopim dessa integração feminina foi a ameaça constante que os direitos das mulheres sofrem em todos os países, sejam eles ditos desenvolvidos ou não, com destaque para os direitos reprodutivos, tendo seu foco, nos EUA, no “Planned Parenthood”.

“Preparem-se: Mulheres estão vindo!”

Esse assunto, porém, é de igual importância – e polêmica – no Brasil, sendo discutido desde as rodas de conversas informais em bares até a maior instância de justiça brasileira, o STF.

Diferente do Brasil, o aborto nos EUA é legalizado em todos os estados desde 1973, havendo clínicas do “Planned Parenthood” espalhadas pelo território nacional, disponibilizando esse e outros serviços. A eleição de Donald Trump, porém, trouxe a perspectiva do fechamento dessas clínicas através – principalmente – da figura de Mike Pence, seu vice-presidente extremamente religioso e abertamente contra o aborto.

“Se você retirar meu contraceptivo, eu apenas farei mais feministas!”

Marcada por uma campanha de discursos de ódio contra minorias étnicas, religiosas e de gênero, a vitória de Trump se tornou uma realidade assustadora para todas as parcelas marginalizadas da população, destacando-se aqui as mulheres, habitantes dos EUA ou não.

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Como resposta a essa realidade, e como forma de resistir a um futuro que se mostra extremamente sombrio, mulheres de diferentes estilos de vida – e países – vêm promovendo diversas ações em protesto e uma dessas é o curta “The History of 100 Years of Women’s Health Care At Planned Parenthood”, dirigido por Kirsten Lepore e Lena Dunham. Com a narração de artistas femininas renomadas como Meryl Streep, Gina Rodriguez e Mindy Kaling, o projeto tem seu tempo de tela dividido entre animações, fotografias e filmagens reais ao longo dos anos de “Planned Parenthood”.

“Diversidade faz a América grande.”

Apresentando a história da organização desde o início, com sua fundação pela enfermeira Margaret Sanger, o curta demonstra como a possibilidade de ter controle sobre sua saúde reprodutiva e sobre seu corpo é essencial para as mulheres, sendo isto equivalente as suas liberdades, segundo Sanger. O curta, gratificantemente, não foge das questões polêmicas que envolvem a sua própria fundadora, deixando claro que não se afilia a propostas eugênicas, sendo contra, por exemplo, o racismo e o preconceito com deficientes físicos.

“Margaret Sanger, 1912; “Tudo começou com uma mulher.”

Essa proposta inclusiva do “Planned Parenthood” só foi ampliada ao longo dos anos por suas diversas colaboradoras e diretoras, algo que é essencial, já que a maior parte da população que o utiliza é justamente aquela marginalizada socialmente.

Mas qual a relação com o Brasil?

O Brasil não possui uma política de restrição total ao aborto, com este passível em caso de anencefalia do feto, de risco à vida da mulher ou de estupro, sendo, porém, ainda visto com maus olhos mesmo pelas autoridades. Assim, as mulheres que o fazem são vistas como imorais, sendo ainda mais agredidas emocionalmente – senão fisicamente – por sua escolha; com a base principal dessa concepção estando constituída na doutrina cristã, ainda parte integral da estruturação social humana ocidental.

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Essa perseguição acontece mesmo sendo evidente que o aborto não é algo que uma mulher faz por diversão ou por substituição óbvia – e comum – a métodos contraceptivos, já que o procedimento pode resultar em sequelas irreversíveis ou até em morte. Os ataques sofridos pelas mulheres não consideram, em nenhum momento, que as mesmas têm liberdade sobre o próprio corpo ou que os abortos são feitos antes do terceiro mês de gravidez, em que, segundo cientistas, ainda não foi formado o sistema nervoso do feto, não havendo vida, corrente adotada inclusive pelo STF em decisão recente.

“Aborto trai as mulheres.”

Procurando, entretanto, não adentrar o aspecto privado da religião de cada um, a descriminalização do aborto se mostra benéfica à parcela feminina da sociedade ao analisarmos que, havendo a possibilidade de um aborto seguro, o número de mulheres mortas ao realizar esse procedimento teria uma grande diminuição – principalmente entre mulheres negras e pobres – mas que não significaria um aumento dos abortos (como no Uruguai, em que a desistência de abortos aumentou 30% após a legalização) nem a criação de uma cultura “abortista”.

A vantagem evidente da descriminalização do aborto é mostrada no curta, ao trazer casos reais em que mulheres morreram ao fazerem um aborto em clínicas clandestinas em decorrência de seu status de ilegalidade. A legalização do aborto, embora este não seja o objetivo principal da organização, foi uma medida que teve participação direta do “Planned Parenthood”, com este trazendo à tona em suas campanhas como é essencial as mulheres terem a simples liberdade de escolha e consequente direito integral sobre seus corpos.

“Garotas só querem ter direitos fundamentais.”

Não seria difícil – do ponto de vista técnico – trazer essa medida ao Brasil, apenas adequando-a a realidade brasileira. Assim, o projeto serviria não apenas para oferecer uma forma segura de interrupção legal da gravidez, mas de prevenção da mesma e distribuição de informações sobre saúde reprodutiva e sexual não apenas as mulheres, mas a toda comunidade.

O curta retrata a luta enfrentada pelas mulheres para ter o seu direito de escolha reconhecido e respeitado pelo governo norte-americano nas décadas antecessoras aos anos 2000; luta esta, que está sendo travada hoje – em 2017 – pelas mulheres brasileiras, em um país tão – se não mais – conservador e religioso quanto os Estados Unidos, sendo necessário aos apoiadores dessa medida passar por séculos de tradicionalismo.

A notícia boa, assim como foi visto por todo o sábado (21/01) nas Marchas das Mulheres (“Women’s March”) ao redor do mundo, é que as pessoas não pretendem parar. Nesse tempo de adversidade será necessário às mulheres de todo o mundo, inclusive do Brasil, lutarem para terem seus direitos reconhecidos e respeitados. É possível trazer a iniciativa de descriminalização nacional do aborto, apresentada pelo “Planned Parenthood”, ao Brasil, é claro que haverá muita luta, mas é possível. Mas sabemos, historicamente, que nada foi conquistado pelas mulheres de graça, afinal, “luta é substantivo feminino”.

http://https://www.youtube.com/watch?v=VqYspn7PZmQ

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