Black Silence: o terror frente a insignificância

Black Silence: o terror frente a insignificância

Essa nova era de quadrinhos está se mostrando promissora para as mulheres, especialmente para aquelas que trabalham nos bastidores, as quadrinistas. Isso também ocorre no Brasil, com exemplos como Ana Recalde, Adriana Yumi e, a própria autora de “Black Silence”, Mary Cagnin.

[NÃO CONTÉM SPOILERS]

O novo trabalho de Mary já começou com uma participação mais direta do público. Ele foi publicado com a ajuda do site de financiamento coletivo Catarse, já demonstrando como a aposta da HQ era promissora. E ela não decepcionou. Trazendo uma história de gênero sci-fi, a HQ é um belo exemplo das histórias maravilhosas que podem sair de profissionais mulheres, trazendo uma nova percepção sobre assuntos tão pertinentes e universais quanto a relação da humanidade com o universo, já perceptível pela sinopse:

“No futuro a Terra está com os dias contados. Uma equipe de astronautas é convocada para fazer reconhecimento de um planeta que pode ser a única chance de sobrevivência dos seres humanos. Lucas é um exobiólogo renomado que se encontra numa situação complicada e sua carreira está por um triz. O destino o leva até Nee, uma militar com uma reputação e tanto, que o faz uma proposta irrecusável. O que ele não sabe é que esta missão mudará tudo o que ele acreditava um dia ser verdade.”

“Black Silence”,  além de ser um sci-fi intergalático, se adequa ao gênero de terror. Mas, como assim? Na HQ é explorado o medo que a humanidade tem frente ao desconhecido, algo que pode chegar a afetar o seu psicológico de formas inimagináveis, diferindo de obras semelhantes como “Alien: O Oitavo Passageiro” e “Prometheus”, que apresentam um terror mais físico.

Black Silence

Apesar do medo ser a emoção central na HQ, Mary Cagnin também apresentou os sacrifícios que cada personagem teve que fazer e como essas questões afetam os membros da equipe ao longo da missão –  sendo, para alguns, o que acarreta no resultado final.

O protagonismo feminino se mostra importante no quadrinho. Existem três personagens femininas, contra dois masculinos, e em nenhum momento qualquer uma delas se mostra dependente de qualquer um de seus companheiros. Além disso, as três fazem parte de grupos de minorias étnicas, sendo a própria protagonista da história (Nee) uma mulher negra, algo que infelizmente não é muito comum (principalmente no mundo sci-fi). Isso destaca a diversidade racial da obra.

Black Silence

Nenhuma dessas mulheres e nenhum personagem, a propósito, cai em algum estereótipo referente ao grupo étnico a que pertencem. Apenas Nee periga em reproduzir o estereótipo de mulher negra como fortaleza, sendo na maior parte do quadrinho fechada e taciturna, coisa que é revertida por Cagnin a tempo, antes  do fim da história.

Black Silence

Uma ressalva sobre algumas informações presentes na obra. A sociedade apresentada na HQ, assim como seus personagens, parece ser um pouco jogada ao leitor, não sendo seus aspectos estruturantes tão bem desenvolvidos ao longo da história. Isso torna o entendimento do quadrinho um pouco difícil e confuso a um leitor desatento, mas a proposta central de Cagnin, felizmente, não é prejudicada por essa questão.

É perceptível a mudança dos traços no desenho de Mary Cagnin em seu novo trabalho, em comparação à sua trilogia anterior, “Vidas Imperfeitas”; embora distinto, o desenho foi magistralmente traçado, passando uma beleza de cenários e de personagens que consegue se conectar com o enredo de tal forma que se torna uma parte essencial da conversa com o leitor.

A pequenez da humanidade frente ao universo é evidenciada com a apresentação de cenários incríveis, aumentando a sensação de terror que os personagens e o próprio leitor têm, com a perspectiva do fim da humanidade.

Black Silence

Tão majestosos são os desenhos apresentados na HQ, que “Black Silence” rendeu a Mary Cagnin o prêmio de “Melhor Desenhista” do 33º Troféu Angelo Agostini, um dos mais tradicionais prêmios para quadrinhos no Brasil.

“Black Silence”, portanto, é uma leitura mais psicológica da relação do ser humano com o restante do universo e traz para o leitor essa sensação de insignificância da humanidade. A HQ traz personagens diversos e complexos, sem sucumbir a estereótipos raciais ou de gênero comuns e consegue focar na história em questão. E melhor: O risco de Mary Cagnin pelo gênero sci-fi é um dos poucos feitos por uma autora brasileira e consegue trazer aspectos típicos do gênero sem parecer uma cópia de HQs americanas do mesmo tema. Apresenta originalidade tanto na narrativa quanto na história em si.

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