Saint Seiya Ômega: as garotas de Cavaleiros do Zodíaco

Saint Seiya Ômega: as garotas de Cavaleiros do Zodíaco

Que Cavaleiros do Zodíaco é um sucesso divisor de água no Brasil, isso ninguém duvida. Que Kurumada expandiu e tornou uma verdadeira franquia junto a Toei, TMS, Sueisha e Akita Shoten é fato. Mas como citado anteriormente, se tem uma série da franquia alvo de grande preconceito é “Saint Seiya Ômega”. Com traços por Yoshihiko Umakoshi e posteriormente Keiichi Ichikawa, “Saint Seiya Ômega” é um anime cujo público alvo é o kodomo (infantil) e Umakoshi foi a melhor pedida para isso, conseguindo revitalizar a série para os novos telespectadores.

Desperte o Ômega!

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Televisionado pela TV Asashi em 2012, “Saint Seiya Ômega” se passa 25 anos após a Saga de Hades. Não é possível dizer plenamente se a série ignora o Next Dimension ou a considera, mas ela faz parte da cronologia oficial da animação, ainda que não seja cânone (lembrando que cânone inclui o clássico e Next Dimension apenas).
Dividido em dois arcos, narra as batalhas de um novo grupo de cavaleiros de bronze composto por Kouga de Pégaso, Yuna de Águia, Ryuhou de Dragão, Souma de Leão Menor, Haruto de Lobo e Eden de Órion em batalhas contra Marte e Pallas, com alguns bons plot twists e inimigos diversos. A série traz inovações, lutas extremamente dinâmicas e uma grande intensidade psicológica em seus personagens. Sentimos suas evoluções pelo arco 1 (Marte), mas perde-se muito disso no arco 2 (Pallas), que mais parece uma tentativa de imitar o clássico (mesmo o primeiro arco tendo elementos muito próximos do clássico).
Os antigos protagonistas se tornaram lendas vivas, servindo de exemplo e guia para os novos personagens se inspirarem.

Uma obra de mulheres fortes

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Além de todas as inovações citadas, outro marco interessante são suas mulheres. Se no clássico elas foram praticamente transformadas em donzelas em perigo ou meros personagens secundários, no Ômega elas possuem profundidade e muito, mas muito mais holofotes. Sejam guerreiras, inimigas, deusas ou nenhuma dessas opções, elas não são apenas garotinhas deixadas no canto para enfeitar a tela da TV. Se preciso for, batem mais que seus companheiros homens.  Yuna, uma das protagonistas, que o diga.

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Saori Kido, Atena

Ainda que durante o primeiro arco Saori esteja um tanto de escanteio, é possível ver como ela amadureceu em “Ômega”. Nos flashbacks ela é mostrada em campo de batalha na primeira parte da guerra contra Marte, encarando o inimigo para proteger o bebê Kouga. Mas seu auge mesmo é no segundo arco, onde ela põe a vida em risco para descobrir o quartel general da inimiga, está na linha de frente da invasão e tem uma luta incrível contra Pallas, com direito a flashback com uma cena digna de uma deusa da guerra ao fazer o que deve ser feito.

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Yuna de Águia

Uma das protagonistas de “Saint Seiya Ômega”, Yuna é uma garota que vivenciou a guerra e a desesperança ainda novinha, antes de se tornar uma amazona. Tem um dom raro de ler as estrelas e um temperamento forte. Abandona a máscara ainda em sua estreia, dizendo que tinha determinação o suficiente para não depender dela para se esconder. É bastante protetora e cuidadosa com seus companheiros de batalha e no clímax do primeiro arco é a única a se erguer para salvar Kouga, ao lado de Seiya, lutando até o próprio limite enquanto seus outros companheiros estavam praticamente derrotados. Infelizmente ela perde muito do próprio brilho durante o segundo arco, ficando muitas vezes relegada a pontinhas, a não ser quando unida junto dos demais cavaleiros de bronze.

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Aria

Aria foi um dos bebês protegidos pela deusa Atena na primeira batalha contra Marte, junto de Kouga, sendo os únicos sobreviventes civis. Acabou por absorver parte do cosmo da deusa Atena e é raptada por Marte ao final da batalha. Criada cheia de redomas para que o deus usasse seus dons adquiridos, ela cresceu sem conhecer o mundo, tendo apenas o carinho de Eden. Acaba por conhecer Kouga por acaso e é usada pelo deus da guerra como uma falsa Atena.  Posteriormente é  resgatada pelos cavaleiros de bronze e viaja com eles pelo mundo para deter os cosmos elementais da Terra de serem sugados.

Aria então vai crescendo ao longo da viagem ao conhecer o mundo, resolvendo enfrentar Marte como substituta de Atena, porém é derrotada e tem seu báculo recheado com energia roubado. Como último ato antes de morrer, salva seus amigos e os envia ao Santuário. Acaba sendo uma peça chave na última batalha de Kouga, no primeiro arco, e a fonte de inspiração dos cavaleiros de bronze, que juram proteger aquilo que Aria mais amava. E é um ponto de ruptura para a última evolução de seus amigos e de Eden, que finalmente percebe que os anseios de seu pai, Marte, não são bons.

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Pavlin de Pavão

Mestra de Yuna, infelizmente só aparece em um único episódio. Se mostra uma mulher forte e severa. Sua forma de agir para com Yuna lembra vagamente a de Camus com Hyoga, porém um pouco mais maternal. Para conseguir enviar um aviso à pupila e protege-la, Pavlin enfrenta três cavaleiros de prata, não sem antes tirar a própria máscara, como a aprendiz, e dizer que ao fazer aquilo diante de três homens significava que estava indo com tudo ou nada. Dá-se a entender que ela morre e leva consigo os três cavaleiros, uma vez que os quatro não aparecem no segundo arco.

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Sonia de Vespa/ Escorpião

Alta marciana e filha mais velha de Marte em seu primeiro casamento, enquanto ainda era um humano comum. Sonia tem um temperamento severo e bruto, escondendo um lado gentil, delicado e frágil. Provavelmente, de todas, é a personagem mais complexa. Sua motivação ao se tornar uma guerreira é proteger sua família. Com isso, abre brecha para ser manipulada por sua madrasta, a bruxa Medéia.

Vive uma relação de ódio-respeito com Souma – cujo pai ela assassinou quase sem querer (o que despertou o desejo de vingança do cavaleiro) e esse episódio é algo do qual a guerreira claramente se arrepende. É elevada a amazona de ouro pela bruxa, com a desculpa de que assim poderá disciplinar o irmão menor, Eden de Órion, mas não por não estar preparada para a armadura de Escorpião, acaba morta pela própria técnica em batalha contra Souma, em uma cena profundamente emocionalmente.

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Paradox de Gêmeos/Jano Escarlate

A primeira amazona de ouro de toda a franquia (com exceção de um bônus em um dos jogos com Shina elevada a elite) que se intitula como “aquela que governa o amor e o destino”. É uma personagem completamente insana e poderosa, com técnicas dignas de apelação. Sua dupla personalidade causa um verdadeiro problema, pois cada uma tem seu próprio cosmo.

Tem o dom de ver o destino e quando criança foi salva por Shiryu, admirando-o profundamente a ponto de não só se tornar uma amazona como também aprender seu golpe, Cólera do Dragão. É derrotada por Ryuhou de Dragão e volta na segunda temporada como aliada de Pallas, onde novamente enfrenta o cavaleiro e sua irmã gêmea e verdadeira dona do posto de amazona de Gêmeos, Integra. Junto com ela, ao liberarem juntas o Outra Dimensão, ela mudam o destino de conflitos da própria constelação protetora.

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Integra de Gêmeos

Irmã gêmea de Paradox, possui uma personalidade gentil e doce, o que atrai a atenção de todos e a inveja de sua irmã. Aparece na segunda temporada enfrentando Paradox e recebendo da própria deusa Atena a permissão de viver como uma amazona sem máscara. Ao lado da irmã recém redimida, consegue salvar os cavaleiros perdidos em um labirinto e mudar o destino de conflito da constelação de Gêmeos.

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Gallia da Espada da Arte da Guerra

Surge no segundo arco e é uma das líderes do exército inimigo, a única entre os quatro grandes. Possui uma personalidade tranquila e observadora, mas em batalha é cruel e sanguinária. Possui a espada da arte da guerra e a força de três constelações douradas: Câncer, Aquário e Peixes. Seu poder é tamanho que mesmo os cavaleiros de ouro não puderam lhe fazer frente e ela quase acaba por matar Atena. É derrotada com a união dos poderes dos atuais cavaleiros de bronze.

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Pallas

Se intitula como “deusa do amor e da tragédia”. Consegue conquistar um dos Quatro Grandes (que nunca a serviram de verdade) com amor sincero, ainda que tenha outro obsessivo por sua “irmã” mais velha, Atena. Protagoniza com Saori uma incrível batalha entre deusas e após se arrepender de seus atos viaja o mundo junto de seu fiel e amado Titan. Sempre esteve ciente que era manipulada, demonstrando ser bastante esperta.

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“Senkou Strings”

Última música da saga, “Senkou Strings é cantada pela banda de rock feminino “Cynthia”. Ao contrário do que muitos esperavam de uma banda composta apenas por mulheres, o som é bem agitado e pesado, fugindo do imaginário. A trilha é tão boa que muitos que detestam a saga abrem exceção para essa trilha, que relembra os velhos tempos, mas modernizados.

Forte “argumentação” negativa

A fanbase, assim como no anúncio de “Santia Shô”, rejeitou bastante o Ômega por considerar a obra “delicada”, utilizando-se de desculpas bastante homofóbicas, mesmo a obra não tendo quaisquer indícios de homossexualidade. Trata-se de uma obra para crianças e, segundo a própria staff, para ser assistida pelas crianças junto de seus pais, que eram adolescentes na exibição do clássico. Isso parece ter causado um mal-estar enorme entre aqueles fãs saudosistas, cujo tempo mental parece ter se estagnado naquele longínquo setembro de 1994, acompanhando os últimos anos de programação da TV fundada por Adolpho Bloch.

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Segunda temporada

Outra forte rejeição por parte da mesma ala da fanbase vem justamente das mulheres da obra, em especial, as amazonas douradas. Não aceitam que haja mulheres na elite de Atena, por puro sentimento misógino. Mesmo que durante toda a série seja dito que o mais forte vence, alguns insistem em achar que poder só pode vir acompanhado de algo a balançar entre as pernas. E qualquer parâmetro com a visão de realidade não é coincidência, infelizmente.

São fãs como esses que muitas vezes atrapalham o andamento da obra. “Saint Seiya Ômega” não é perfeito, tem bastante furos, porém seus pontos positivos são grandes. É a obra onde mais faz sentido o treino em batalhas, pois vemos os guerreiros realmente lutarem, e onde mais se aprofundou a personalidade das personagens, se comparados ao clássico.

O primeiro arco já está disponível no Brasil, com dublagem pela DuBrasil, lançado em DVD pela PlayArt. O segundo arco está em fase de finalização da dublagem e será lançado em breve. Vale a pena conferir o anime, mas tendo sempre em mente que é destinado ao público com idade até 10 anos. A trilha sonora é de arrepiar, traz momentos verdadeiramente profundos e emocionantes.

“Saint Seiya Ômega”, para os padrões kodomo e Toei, é uma animação primorosa. Vale a pena conferir a obra, mas desligue o botão da nostalgia e abrace o novo, afinal, “Saint Seiya Ômega” foi feito para uma nova geração, que havia sofrido recentemente com o Tsunami de março de 2011.

É uma obra sobre união e esperança.

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