[LIVRO] Cyberstorm: Sem a tecnologia reina o caos? (resenha)

[LIVRO] Cyberstorm: Sem a tecnologia reina o caos? (resenha)

Lançado em 2013, Cyberstorm, escrito por Matthew Mather, pinta um cenário realista onde todas as nossas comodidades e costumes ligados à tecnologia somem, assim como qualquer ajuda.

Sinopse da Editora Aleph:

Às Vezes, as piores tempestades não vêm da natureza. E, às vezes, os piores pesadelos podem não ser nada, se comparados à realidade.

O que aconteceria se uma cidade inteira ficasse sem energia e todos os meios de comunicação fossem interrompidos? E se, simultaneamente, ela fosse isolada do resto do mundo por uma terrível tempestade de neve? Caos, medo e desconfiança se espalham, formando um cenário assustador… E muito real.

Mike Mitchell é um cara um tanto quanto comum. Tem um bom trabalho, alguns bons amigos (Chuck e sua esposa Susie, os Borodin, velho casal de judeus russos, e Tony, ex-militar e porteiro do prédio onde mora) e uma família aparentemente perfeita, com um filho pequeno e sua esposa Lauren. O livro começa tranquilo, construindo alguns conflitos e afinidades entre os personagens.

Lauren é ambiciosa e quer um trabalho e uma casa melhores, mas Richard não concorda e ainda sente ciúmes de seu vizinho, Richard, que a ajuda a procurar um emprego – Lauren havia deixado o trabalho para cuidar do filho. Aqui já notamos esse comportamento machista tão típico, em que o homem sente que tem o dever se trabalhar enquanto o dever, ou melhor, a obrigação da mulher se limita a ser mãe e cuidar do filho o tempo todo, mesmo que isso implique sacrificar a carreira de uma vida. Por esse motivo, é difícil simpatizar com Mike em um primeiro momento. Contudo, muita coisa acontece ao longo da trama (e trataremos disso mais abaixo), o que torna Cyberstorm um sci-fi não tão óbvio nesse sentido de representações sociais.

Cyberstorm é um livro escrito para a nossa geração. Em suas páginas, lemos sobre o facebook, o twitter e a wikipedia. Apps tem uma função importantíssima ao longo da história, assim como outras tecnologias. Quem gosta de Mr. Robot com certeza vai adorar o livro, já que o mesmo aborda temas como invasão de redes e sistemas, o Anonymous, a NSA, limites da vigilância estatal na internet, cibercrimes e guerra cibernética.

Ilhados em NY e presos em seu prédio, os personagens mencionados acima, mais algumas dezenas de personagens que habitam outros andares do edifício e ainda alguns mais que acabam se juntando ao grupo procuram sobreviver a uma nevasca intensa que atinge a cidade por dias. Sair às ruas é quase impossível. A comida, a água e o aquecimento são escassos. Os capítulos do livro são divididos conforme os dias de sobrevivência, e a cada dia que se passa tudo se complica mais e mais. Surtos de doenças, total falta de informação, criminosos e aproveitadores, a ajuda cada vez mais distante e impossível, pessoas perdendo a paciência e algumas, a humanidade.

Tony, Chuck, Susie, Lauren e Mike se reúnem, juntamente com um jovem hacker chamado Damon, que pede abrigo no prédio, para formular meios de subsistência. O prédio, moderno, tem praticamente tudo controlado pela internet (a chamada internet das coisas), portanto, em um ambiente sem rede, muitas coisas não funcionam, como o aquecimento, a iluminação e o gerador. A aventura se dá conforme as necessidades aparecem: conseguir comida, tentar contato com alguém para pedir ajuda, se defender dos bandidos, buscar informação sobre o que está acontecendo e tentar fugir da cidade sitiada. A obra não apresenta grandes surpresas ou reviravoltas, mas isso não é um problema. Pelo contrário, reforça o aspecto realista.

Cyberstorm
Nova York durante uma nevasca, em 2013. Fonte: Reuters

A Representação Feminina

Primeiramente, é importante dizer que o autor não apela para o óbvio (pois infelizmente é o que acontece ainda em muitas obras escritas por homens) – mesmo em meio ao caos, não há nenhuma cena de violência contra mulheres (apenas em uma cena algo fica implícito é resolvido de uma maneira energética que dá gosto de ler – mas que não contaremos aqui para evitar qualquer spoiler). Seria muito fácil, e até esperado, que em meio ao caos o autor retratasse abusos contra as mulheres, como estupros. Mas, reforçamos: podem ficar tranquilas que o livro não vai para esse lado negativo da (falta de) representação feminina.

No entanto, as mulheres aparecem menos que os dois homens principais (Mike e Chuck). Mas ao longo da história sua importância vai aumentando.

A russa Borodin é uma ex-militar que lutou no cerco de Stalingrado e que, por comparação, vê o que está acontecendo de maneira tranquila e sem nenhum alarme. Ela e seu marido não se misturam e ficam trancados em seu apartamento, onde tem alimento e tudo o mais que precisam. Juntos, formam o típico casal russo casca-dura que enfrenta a tudo e todos com determinação, frieza e coragem.

Pam é uma enfermeira vegana que também habita um dos apartamentos do prédio dos personagens principais, que sempre aparece para ajudar, mantendo todo mundo que fica doente ou que se machuca sob seus cuidados.

Susie e Lauren, durante dois terços do livro ficam mais em segundo plano, ajudando quem precisa delas. Os homens se aventuram nas ruas, fazem seu “papel” de homens (e personagens principais) enquanto elas ficam em casa, cuidando dos filhos, de todos mais e mantendo tudo sob ordem. No entanto, após muitos acontecimentos, quando mesmo depois de 2 meses nada parece melhorar e não há nenhum sinal de salvação, os homens sucumbem, física e mentalmente. E é aí que o papel das mulheres fica mais evidente, como é bem resumido no seguinte trecho, dito por Chuck:

“- Quem você acha que está cuidando das coisas por aqui? Eu sou um aleijado e você…[…] bem, você esteve de folga. Nossas mulheres têm caçado e pescado, cortado lenha, mantido a casa aquecida e de pé. E ainda nos alimentam. ”

Conclusão

Cyberstorm propõe uma reflexão importante e assustadora: Hoje em dia dependemos e confiamos plenamente em nossa tecnologia, em nossa internet e na logística que rege tudo ao nosso redor. Para nós, nada disso pode acabar ou ser interrompido e nosso maior problema é quando a internet não funciona por alguns minutos – o que é facilmente resolvido com uma ligação para o provedor ou reiniciando o modem/roteador.

Mas o que faríamos em um mundo sem internet, sem energia elétrica, sem água encanada, sem telefones e nenhuma espécie de comunicação? E pior, em um mundo onde não há nenhuma logística de transporte terrestre, onde os supermercados e as farmácias estão vazios e a segurança não é suficiente. Manteríamos o controle, a calma? É claro que não. Definitivamente não estamos preparadas para isso. E pensar que tal coisa pode acontecer um dia é o que torna Cyberstorm uma obra tão assustadora – ou mais: profética.


Cyberstorm

Cyberstorm

Matthew Mather

Editora Aleph

370 páginas

Onde comprar: Amazon

 

Escrito por:

260 Textos

Fundadora e editora do Delirium Nerd. Apaixonada por gatos, cinema do oriente médio, quadrinhos e animações japonesas.
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