Lizzo: Uma figura pop para o Body Positivity

Lizzo: Uma figura pop para o Body Positivity

Nos últimos anos, no meio musical, vimos diversas artistas norte-americanas assumirem a conversa de temas ditos polêmicos, como o feminismo e a violência policial contra cidadãos negros. Salvo no breve sucesso de All About That Bass de Meghan Trainor, porém, um tema que não foi muito – ou sequer – explorado no meio musical norte-americano foi o ideal corporal de beleza, ou body positivity. Por sorte, temos Lizzo.

Nascida Melissa Jefferson, em Detroit/Michigan, mas com base em Minneapolis/Minnesota, a cantora de 28 anos começou no rap/hip-hop fazendo parte da cena urbana de Detroit. Em seu último disco, Coconut Oil, porém, ela muda seu foco musical e se arrisca (acertadamente) no pop/R&B, explorando os níveis de sua voz em melodias mais leves.

Ex-membro dos grupos The Chalice e Grrrl Prty (um coletivo de artistas femininas de hip-hop), nos últimos anos ela vem consolidando sua carreira como artista solo. Desde o início já criando hits que tratam de representatividade, como a música My Skin, cujo clipe foi lançado de surpresa e, além de por si só já tratar de inclusividade, representatividade e body positivity, veio acompanhado de um comunicado, no Facebook, em que Lizzo tratava da questão da constante violência policial contra homens negros.

Violência esta que se repete no restante dos países, incluindo o Brasil, em que das 30 mil vítimas de homicídio por ano, 77% são negras, segundo dados da Anistia Internacional de 2012, e em que a cada 23 minutos, um jovem negro é assassinado, segundo a CPI sobre o Assassinato de Jovens do Senado, de 2016.

Lizzo
Cena do vídeo My Skin

Ao longo de sua (curta) carreira, Lizzo demonstrou ser uma artista que tinha como foco o poder da mulher, mas sempre trazendo à tona questões raciais e de imagem corporal a suas atuações, sendo, por isso, considerada uma artista feminista – interseccional – coisa que ela mesma abraça. Em seu primeiro álbum, Lizzobangers, Lizzo traz um repertório que pode ser comparado ao hip-hop do começo dos anos 2000, com batidas e versos fortes entre melodias que flertam com o R&B.

Já em seu segundo álbum, Big Grrrl Small World, seu flerte com o R&B se intensifica, mas ela ainda entrega versos falados poderosos, assumindo o papel de body positivity com My Skin, mas também declarando sua força como mulher em En Love, em que brada “I’m in love with myself”, fazendo um apelo às mulheres negras e gordas, em seus diversos tons de pele, que se amem.

Em seu álbum mais recente, Coconut Oil, Lizzo solidifica sua mensagem de amor e aceitação ao próprio corpo, principalmente às mulheres negras, trazendo músicas como Scuse Me e Good As Hell, que inclusive fez parte da trilha sonora de Um Salão do Barulho 3.

Lizzo
Cena do vídeo de Scuse Me

O curioso é que, até pouco tempo, ela não se considerava feminista simplesmente por não saber bem o que ~raios~ era isso! Em uma entrevista ao blog americano The Current, Lizzo revela ter começado a pensar sobre o que era feminismo apenas em 2014, após determinações que seu clipe para Batches and Cookies, com Sophia Edris, era feminista e de ser incluído na lista ao lado de ***Flawless, de Beyoncé.

Isso faz lembrar os versos da música100% Feminista, de MC Carol e Karol Conká, vindo para território brasileiro, em que dizem “A falta de informação enfraquece a mente”, o que, felizmente, não parece ser o caso aqui. Desde sempre, Lizzo já apresentava suas músicas com completo girl power e inclusividade, apesar de não saber exatamente do que se tratava o movimento feminista. Parece ser algo natural para Lizzo ver as coisas igualitárias entre “os sexos, as raças, as crenças e as culturas”, o que apenas aumenta o quanto sua figura no mundo musical é importante.

Lizzo
Lizzo e Sophia Edris, respectivamente.

“Não deveria ser um choque que uma mulher como eu gosta do jeito que ela aparenta e está orgulhosa e fala bastante disso”

Diz ela em entrevista ao LA Weekly. E não deveria mesmo. A negação à gordura está tão presente na sociedade que até mesmo as mulheres apresentadas na mídia e consideradas plus size vestem 38/40. Esse mito do plus size apenas reforça a ditadura da magreza presente, dificultando que mulheres fora do padrão de magreza sejam aceitas e celebradas. Elementos que Lizzo faz questão de desmantelar a todo momento, seja em suas músicas, clipes, ou mesmo em fotos do Instagram e posts do Twitter.

Lizzo

“Eu não preciso dizer, ‘Hey, sou uma feminista body-positive’ nas minhas músicas porque estou dizendo outras coisas. Estou dizendo, ‘I’m in love with myself’, ou ‘Excuse me while I feel myself’ ’’, diz na mesma entrevista. Lizzo chega ao cenário musical para, justamente, suprir o tão negligenciado buraco presente na música pop, de artistas que pregam uma positividade corporal que não se limite a ter muita bunda ou muito peito, mas a estar coerente ao tipo físico de maior parte da população mundial e de se amar, não apesar disso, porém, mas por causa disso. É uma surpresa ela ainda não ter estourado no cenário internacional, mas, pela força de sua mensagem, de suas batidas e de seus vocais, é só uma questão de tempo.

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