12 filmes de diretoras sobre adolescência e o patriarcado

12 filmes de diretoras sobre adolescência e o patriarcado

Mais importante que vermos filmes protagonizados por mulheres, é buscarmos assistir mais filmes realizados por diretoras para despatriarcalizar o nosso olhar. Representação e representatividade devem andar de mãos dadas na frente e atrás das câmeras.

Nesse sentido, escrevem Carla Maia e Cláudia Mesquita no artigo “A mulher e a câmera” para o catálogo do Festival FORUMDOC.BH.2012:

Em ‘Prazer visual e cinema narrativo’, Mulvey busca evidenciar como o contexto audiovisual é dominado por uma lógica masculina do olhar, que sensualiza o corpo feminino para satisfazer ao desejo escópico. O problema maior, para a autora, reside na maneira como ‘num mundo governado por um desequilíbrio sexual, o prazer no olhar foi dividido entre ativo/masculino e passivo/feminino’.

Frente a esse cenário, Mulvey sugere que, uma vez esmiuçados, por meio da psicanálise, os mecanismos do olhar escopofílico-voyeurista, restaria a tarefa de destruir tais mecanismos, através de estratégias formais que pudessem libertar o olhar da câmera ‘em direção à sua materialidade no tempo e no espaço’, e o olhar da plateia ‘em direção à dialética’. Ou seja, seria preciso ir contra o ‘princípio do prazer’, convocando o espectador a um trabalho ativo diante do filme. (…) Mulvey defende assim que o cinema feito por mulheres seja algo como um contracinema, enfrentando o fetichismo e o voyeurismo próprios das estruturas inconscientes, por sua vez, calcadas num sistema patriarcal.”

Desta forma, para o Dia Internacional das Mulheres listamos 12 filmes realizados por diretoras que falam sobre a adolescência, que é aquele período das nossas vidas em que estamos meio que “desencaixadas da sociedade”, por não sermos nem crianças, nem adultas. Nas palavras de Simone de Beauvoir,“não se nasce mulher, torna-se“, já que os papéis sociais de gênero são acumulados e apreendidos ao longo da vida e de diferentes formas em cada cultura.

Divinas (2016), dir: Houda Benyamina

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No subúrbio de Paris, as amigas Dounia (Oulaya Amamra) e Maimouna (Déborah Lukumuena), cansadas da falta de grana e das dificuldades que a pobreza lhes inflige, pretendem mudar de vida. Nessa tentativa de vencer na vida, espelhando os padrões da localidade onde vivem, Dounia, apoiada pela melhor amiga, decide se tornar uma traficante tão reconhecida e poderosa quanto Rebecca (Jisca Kalvanda).

Numa releitura feminista de filmes de gangsters, Houda Benyamina dirige e roteiriza um filme que além de retratar a forte amizade de duas jovens moradoras da periferia de Paris, expõe conflitos pautados em gênero, raça e classe que vem lhe rendendo inúmeros prêmios pelos Festivais em que o filme é exibido.

Vencedor do Camera D’Or no Festival de Cannes em 2016 (prêmio dado ao filme de estreia na direção) e do Cesar em 2017 (considerado o Oscar do cinema francês) de melhor primeiro filme, além dos prêmios de atriz revelação (Oulaya Amamra) e atriz coadjuvante (Déborah Lukumuena), “Divinas” está disponível na grade da Netflix.

O diário de uma adolescente (2015), dir: Marielle Heller

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Minnie Goetze (Bel Powley) é uma garota de 15 anos aspirante a quadrinista, amadurecendo em plena década de 1970 numa família disfuncional que vive em São Francisco (EUA). Extremamente curiosa pelo mundo que desabrocha ao seu redor, Minnie acaba se envolvendo com o namorado de sua mãe (Kristen Wiig) interpretado pelo galã Alexander Skarsgård que é muitos anos mais velho que é ela.

Lançado diretamente em DVD no Brasil, o filme é uma adaptação do livro de mesmo título escrito por Phoebe Gloeckner (no Brasil o livro ganhou o título “Diário de uma garota normal”). Em 2016, “O diário de uma adolescente” ganhou o prêmio de melhor primeiro filme no Independet Spirit Awards (considerado o Oscar de Cinema Independente dos EUA).

Mate-me Por Favor (2016), dir: Anita Rocha da Silveira

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Em seu longa-metragem de estreia, a diretora flerta com o thriller para, usando arquétipos típicos do gênero em que um serial killer é o elemento chave da narrativa, ampliar o debate sobre o esvaziamento da vida dos jovens de classe média carioca. “Mate-me Por Favor” é uma ficção sobre violência contra mulheres, sobre feminicídio.

Meninas vão sendo brutalmente assassinadas, aparentemente sem motivo. A clara ênfase na falta de motivação para as mortes ressoa na intenção da diretora em destacar os perigos que mulheres correm pelo simples fato de serem mulheres e, principalmente, por transgredirem as regras de comportamento esperadas dentro de uma ‘feminilidade enfatizada’ que o sistema patriarcal insiste em difundir para controlar e subjugar seus corpos.

As jovens protagonistas (Valentina Herszage, Dora Freind, Julia Roliz e Mariana Oliveira) conquistaram em conjunto o prêmio independente Bisatto D’Oro de atuação no 72º Festival de Veneza (2015) e Anita ganhou o prêmio de melhor direção no Festival do Rio (2015).

Lírios D’água (2007), dir: Céline Sciamma

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Lírios D’Água” é o longa-metragem de estreia da premiada cineasta e roteirista francesa Céline Sciamma, mais conhecida pelos aclamados “Tomboy” (2007) e “Garotas” (2014). Neste filme, Sciamma desenha 3 protagonistas que, cada uma a sua maneira, vivem um dos momentos de transição mais espinhosos na vida de uma mulher: a adolescência. Momento de descobertas quanto a sexualidade, mas, principalmente, aquela etapa em que a própria identidade é construída e esta é sempre relacional, uma vez que não se é mais criança, mas também não se alcançou a maturidade da vida adulta. Leia a crítica completa aqui.

https://www.youtube.com/watch?v=dgptas0r9XQ

Grave (2016), dir: Julia Ducournau

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Grave“, segundo longa-metragem da francesa Julia Ducournau, é um filme de horror que tem mexido com a cabeça e o estômago daqueles que o assistem. Premiado na Semana da Crítica do Festival de Cannes 2016 como Melhor Filme pela FIPRESCI, este filme é uma experiência sobre os ritos de passagem que uma adolescente vegetariana de 16 anos de idade vai enfrentar ao sair da casa dos pais e ingressar na faculdade de veterinária.

A exploração desse novo universo hostil e sedutor que se abre para a protagonista, interpretada por Garance Marillier, vai retratando o quão difícil e perturbador é se adequar às expectativas sociais e culturais que se impõe, principalmente, para as mulheres. Leia a crítica completa aqui. O filme tem previsão de estreia no Brasil este ano.

The Fits (2016), dir: Anna Rose Holmer

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O primeiro longa-metragem de ficção da americana Anna Rose Holmer fala de uma certa histeria coletiva que se transmitiria com a ideia de contágio, a diretora flerta com o gênero de horror para abarcar as transformações que uma menina pré-adolescente vivencia.

Para além do tema relativo ao rito de passagem, “The Fits” fala sobre descobrir-se mulher e, mais importante ainda, sobre sororidade. A história é toda narrada através do olhar de Toni (Royalty Hightower), uma menina moleca que foi socializada em meio a meninos e que ajuda o irmão mais velho no ginásio em que trabalha e pratica boxe.

Tendo apenas referências masculinas, Toni, inspirada pelo irmão, também pratica aquele esporte. Mas, no mesmo ginásio, encontra um grupo de garotas, das mais diversas idades, treinando para uma competição de dança. Encantada com aquele novo horizonte de possibilidades, Toni desabrocha e se ressignifica, deixando os meninos cada vez mais de lado. Leia a crítica completa aqui.

Quase 18 (2016), dir: Kelly Fremon Craig

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Nadine (Hailee Steinfeld) é uma adolescente que sempre foi considerada uma criança difícil. Após a morte de seu pai as coisas pioram, mas ficam ainda mais complicadas quando sua única amiga, Krista (Haley Lu Richardson), começa a namorar com o seu irmão mais velho, Darian (Blake Jenner). Nadine passa a se sentir mais sozinha do que nunca, mas uma amizade com um jovem colega de classe (Hayden Szeto) parece mudar um pouco a sua rotina.

Com diálogos ácidos, Kelly Fremon, que também assina o roteiro, constrói um drama agridoce sobre a adolescência de uma jovem desajustada, que tem no professor interpretado por Woody Harrelson um possível substituto paternal para socorrê-la nos momentos mais difíceis. “Quase 18” recebeu o prêmio de melhor primeiro filme no New York Film Critics Circle Award. O filme tem previsão de estreia no Brasil este ano.

Califórnia (2014), dir: Marina Person

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O ano é 1984. Estela (Clara Gallo) vive a conturbada passagem pela adolescência. O sexo, os amores, as amizades; tudo parece muito complicado. Seu tio Carlos (Caio Blat) é seu maior herói, e a viagem à Califórnia para visitá-lo, seu grande sonho. Mas tudo desaba quando ele volta magro, fraco e doente.

Entre crises e descobertas, Estela irá encarar uma realidade que mudará, definitivamente, sua forma de ver o mundo. Para saber mais sobre o filme “Califórnia” e a diretora Marina Person acesse o Podcast Feito por Elas que a entrevistou para a campanha #OPodcastÉDelas.

Pariah (2011), dir: Dee Rees

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O filme conta o drama da adolescente Alike (Adepero Oduy) que é uma garota de 17 anos que enfrenta problemas demais para a sua idade. Enquanto amadurece, ela tem que decidir se deve expressar sua sexualidade abertamente ou viver de acordo com os planos que seus pais têm para ela. Entre assumir sua homossexualidade ou ser rejeitada pela família, ela verá sua vida se tornar cada vez mais caótica.

Nessa luta para se autoafirmar no mundo, é nas amigas que Alike encontra seu porto seguro. Assim, além de abordar a temática da descoberta da sexualidade, o filme dirigido e roteirizado por Dee Rees também tangencia a questão da sororidade entre mulheres. Vencedor de inúmeros prêmios, dentre eles o Prêmio Independent Spirit de John Cassavetes (2012) que coroa filmes de baixo orçamento e Excelência em Cinematografia na categoria Drama em Sundance (2011).

Minha irmã magra (2015), dir: Sanna Lenken

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Stella (Rebecka Josephson) acaba de entrar no empolgante mundo da adolescência e descobre que Katja (Amy Deasismont), sua exemplar irmã mais velha, esconde um transtorno alimentar. Aos poucos, a doença vai destruindo a família. A trama é narrada pelo ponto de vista da pequena Stella que além de lidar com seus próprios dilemas inerentes à adolescência e com os padrões de beleza que a sociedade impõe às mulheres desde a tenra idade, precisa ajudar os pais a descobrir os segredos da irmã mais velha.

O filme, dirigido e roteirizado pela sueca Sanna Lenken, recebeu o prêmio Urso de Cristal no Festival de Berlim (2015). Trata-se do longa-metragem de estreia da diretora.

Cinco Graças (2015), dir: Deniz Gamze Ergüven

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Após uma inocente brincadeira de “briga de galo” com meninos quando voltavam do colégio, cinco irmãs – Lale (Güneş Nezihe Şensoy), Nur (Doğa Zeynep Doğuşlu), Ece (Elit İşcan), Sonay (Ilayda Akdogan) e Selma (Tuğba Sunguroğlu) – são acusadas pela vizinhança de estarem praticando atos libidinosos pelas ruas de um vila turca onde vivem. Esse ato aparentemente inocente vai mudar radicalmente a realidade das cinco adolescentes, que aos poucos vão se vendo enclausuradas dentro do próprio seio familiar. 

Apoiada em memórias autobiográficas e em relatos contados pelas mulheres que vivem sob o manto do islamismo na Turquia, Deniz Gamze Ergüven, em seu longa-metragem de estreia, traça um perfil do sistema patriarcal que oprime e mata diversas meninas que precisam se “tornar mulheres” cada vez mais cedo em nome “da moral e dos bons costumes”.

Indicado ao Oscar (2016) na categoria de melhor filme estrangeiro, o filme recebeu inúmeros prêmios como o César (2016) de melhor primeiro filme, montagem e roteiro original e o Goya (2016) de melhor filme europeu. Leia a crítica completa aqui.

A atração (2016), dir: Agnieszka Smoczynska

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A mitologia das sereias é bastante conhecida e tem algumas particularidades em cada região do mundo. O primeiro longa-metragem da polonesa Agnieszka Smoczynska foi a sensação do último Festival de Sundance com o qual saiu com o Prêmio Especial do Júri. 

Se as sereias, no nosso imaginário regado à Disney, habitam um mundo de fantasia repleto de beleza e feminilidade, as de Agnieszka Smoczynska foram buscar nas de Homero um lado visceral e antropofágico. No filme polaco “A Atração“, elas não vivem num lago encantado, mas em um clube noturno da Varsóvia dos anos 80.

Devoradoras de homens, imbuídas de uma natureza selvagem e sedentas por sangue e carne humana, as adolescentes Prateada (Marta Mazurek) e Dourada (Michalina Olszanska) são descobertas por uma família que decide fazer delas a maior atração desta boate decadente. Leia a crítica completa aqui.

Ação Nerd Feminista filmes de diretoras

Nesta semana da mulher, de 1º a 8 de março, portais nerds feministas se juntaram em uma ação coletiva – Ação Nerd Feminista – para discutir temas pertinentes à data e à cultura pop, trazendo análises, resenhas, entrevistas e críticas que tragam novas e instigantes reflexões e visões. São eles: Collant Sem Decote, Delirium Nerd, Ideias em Roxo, Momentum Saga, Nó de Oito, Preta, Nerd & Burning Hell, Prosa Livre,  Psicologia&CulturaPop, Séries por Elas. #WeCanNerdIt

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Aquariana, mora no Rio de Janeiro, graduada em Ciências Sociais e em Direito, com mestrado em Sociologia e Antropologia pelo PPGSA/UFRJ, curadora do Cineclube Delas, colaboradora do Podcast Feito por Elas, integrante da #partidA e das Elviras - Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema. Obcecada por filmes e livros, ainda consegue ver séries de TV e peças teatrais nas horas vagas.
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