Sakura Card Captors: a força precoce de Sakura

Sakura Card Captors: a força precoce de Sakura

Sakura Card Captors é um mangá/anime que marcou toda uma geração de crianças; tanto que agora, 20 anos depois, irá ganhar uma continuação para (tentar) saciar o desejo do público de nunca ter se afastado dos personagens que lhe foram apresentados ainda no século passado. A história de Sakura, porém, vai além de uma simples batalha do bem contra o mal – nesse caso, cartas fujonas – e se aprofunda no papel de Sakura no universo mágico e humano, e na força que ela teve que demonstrar ao aceitar ser guardiã das cartas Clow.

No início do mangá e do anime Sakura é uma menina de 10 anos de idade com vários amigos e que faz as atividades normais de uma criança. Ao encontrar um livro contendo as cartas Clow na biblioteca de sua casa, porém, e após essas mesmas cartas escaparem do livro, ela é coagida a se tornar a guardiã das cartas, tendo o dever primordial de reuni-las e torna-las suas.

Sakura Card Captors

Nota-se que o uso do verbo “coagir” para tratar da relação inicial de Sakura e do guardião mágico das cartas Clow, Kero, não é acidental. A primeira interação dos dois é marcada pela coação de Sakura a ser a nova guardiã das cartas Clow, em que ele não dá a ela a possibilidade de escolher, já, inclusive, agindo como se ela houvesse aceitado a missão antes dela propriamente fazê-lo. Estando a coação ainda mais explícita se analisarmos que Sakura é uma criança, em contraposição a Kero que, apesar de ser uma criatura mágica, é claramente um adulto. Sakura, apesar de algumas reclamações por conta da exigência decorrente de ser uma guardiã das cartas Clow, aceita a tarefa em questão; tendo que balancear esse dever com suas tarefas domésticas e escolares.

Não obstante, aparece um outro guardião de cartas Clow (Shouran Li), que compete com Sakura pela posse das mesmas. Shouran, ademais, não perde a oportunidade de tentar inferiorizar Sakura, ao chamá-la de burra, ou de questionar seus métodos de combate e captura das cartas – infelizmente sendo encorajado por sua prima – coisa que ela (Sakura) sabiamente não permite que a afete realmente, continuando a trabalhar para atingir o melhor resultado possível.

Durante toda a história, Sakura tem que fazer sacrifícios (mais e menos graves) para conseguir cumprir com a missão de reunir as cartas Clow. O ápice desses sacrifícios vem, finalmente, no segundo filme do anime Sakura Card Captors: A Carta Selada, em que é pedido que Sakura renuncie aos sentimentos amorosos que ela nutre por Shouran como (única) forma de capturar a carta Clow objeto do filme.

Sakura demonstra, tanto no mangá quanto no anime, que é exigido desde cedo uma grande força das mulheres. No caso dela, houve a interferência significativa em sua vida normal, em seu crescimento, em seu aprendizado – já que muitas vezes as missões eram tarde da noite – e em seu relacionamento com seus amigos e família – já que para conseguir cumprir seu dever, Sakura diversas vezes mentia para a sua família.

É através de histórias como a apresentada, no mangá/anime, que vemos representada midiaticamente a força exigida das mulheres desde muito cedo, tendo ainda que, no caso de Sakura, aguentar rivais prepotentes e que sentem a necessidade de ofender ao outro para diminuir a dor da derrota. Em relação a Shouran houve, é claro, o amadurecimento do personagem – inclusive para se tornar interesse amoroso de Sakura – mas a sua primeira impressão de garoto rico, mimado e arrogante ainda permanece.

Sakura Card Captors
Sakura e Shouran

Há no mangá/ anime fortes representações femininas e masculinas, sendo o ponto de poder focal entre Sakura e Shouran. A maioria dos episódios ou edições apresentam novas missões e, consequentemente, novas lutas. Entretanto, por haver uma menina como protagonista e título do mangá/anime, permaneceram (ou até permanecem), na época de sua transmissão original, indivíduos que pensaram não haver apelo para o público infantil masculino.

Um marcante exemplo disso, foi a adaptação que a empresa canadense Nelvana fez do anime em 2000 para o território norte-americano. Visando atingir ao público masculino, a empresa fez diversos cortes no anime de modo a trazer Shouran para o protagonismo da história e consequentemente, afastar Sakura do mesmo; além disso, rebatizou o anime de Cardcaptors, apagando a história de Sakura.

E mais: grande parte do que foi cortado para o público norte-americano foram os relacionamentos presentes no anime. A relação “amorosa” entre o pai e a mãe de Sakura, sendo um tabu – leia-se abuso – não apenas por ser entre professor-aluna, mas por tratar de um homem adulto com uma adolescente, foi apagada completamente da versão americana. As dicas de relações homoafetivas  – queerbaiting? – entre Toya (irmão de Sakura) e Yukito, e as possíveis paixões platônicas de Tomoio e Sonomi por Sakura e por sua mãe, respectivamente, também foram apagadas do anime adaptado.

Sakura Card Captors
Touya e Yuki: E pensar que esses dois foram a causa de Sakura Cardcaptor ser o único anime de 9 minutos de duração já lançado nos EUA.”

Por sorte, mesmo com as tentativas de fragmentação da história por norte-americanos e canadenses, para o grande público otaku, a narrativa apresentada em Sakura Card Captors não se perdeu. Apesar de ser mais popular entre meninas, Sakura Card Captors ensinou a toda uma geração de crianças – além de meninas – a força que cada um pode ter, mesmo não possuindo, em um primeiro momento, nenhum recurso ou conhecimento sobre a situação.

Sakura aceita a missão de recuperar todas as cartas Clow e cresce ao longo dessa trajetória, chegando ao ponto de ter poder o bastante para transformar as cartas Clow em cartas Sakura. Não é surpresa então, o fato de que ao final do segundo filme, Sakura consegue aprisionar a carta Clow em foco e permanecer com os sentimentos que nutria por Shouran, triunfando frente ao grande teste de sua força e de seu poder.

O arco do novo mangá (e do novo anime), Sakura Cardcaptors: Clear Card Hen, a propósito, parece que irá tratar de uma nova prova de força à Sakura, já que, segundo foi divulgado, novas cartas Clow desafiarão suas condições de instrumentos mais uma vez, cabendo a Sakura capturá-las.

Sakura Card Captors

Não há acaso no fato do mangá/anime ser tão amado pelo público; ele consegue equilibrar doses de combate, magia, romance, drama e comédia igualmente, tornando-se uma história capaz de agradar a todos por sua complexidade e versatilidade. Tão universal é a forma com que é apresentada a história de Sakura que, por vezes, nos esquecemos de que se tratam de crianças de 10 anos de idade.

Sakura Card Captors

Diante disso, é mais do que bem-vindo o revival de Sakura Card Captors, com o mangá já disponível para leitura e o anime com previsão de estreia para 2018.  A força de Sakura é um elemento essencial ao mangá/anime, sendo a todo momento posta a prova e, consequentemente, aumentada a cada desafio, semelhante ao que, muitas vezes, as mulheres – e inclusive, meninas – precisam fazer em suas vidas. Sakura Card Captors trata, sutilmente, da força que as mulheres têm que apresentar em suas vidas desde tenra idade; no caso de Sakura, tendo que lutar contra uma variedade de cartas Clow para salvar sua cidade.

Sakura Card Captors

A mensagem da história consegue ser percebida por qualquer um que preste o mínimo de atenção e, por isso, esperamos, com essa continuação, que uma nova geração se apaixone e aprenda com a história de Sakura, conseguindo levar esses ensinamentos para suas vidas.

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