[QUADRINHO] YOWIYA: E se um deus dos macacos resolvesse virar deus dos humanos? (Resenha)

[QUADRINHO] YOWIYA: E se um deus dos macacos resolvesse virar deus dos humanos? (Resenha)

O ilustrador paulista Hiro Kawahara teve sucesso absoluto no financiamento do seu 2º quadrinho autoral, YOWIYA. Embora seja só o seu 2º quadrinho, a arte de Hiro já é bem familiar por todo o Brasil. Isso porque ele ilustra as lâminas do McDonald’s, aqueles papéis que ficam nas bandejas. Mesmo quem não frequenta o fast-food já deve ter visto uma delas. Hiro gosta especialmente de desenhar mulheres, com um traço bem arredondado e delicado, e monstros macabros. Tudo a ver, só que não! Mas é justamente nessa dualidade bizarra que foram construídos os universos paralelos de YOWIYA.

Sinopse

Kipky é uma ilustradora iniciante que vive com seu gatinho Prepúcio, quando graças a uma estranha obsessão em um caso de assassinato brutal de uma modelo francesa, abre-se uma espécie de portal entre uma dimensão obscura e seu quarto. É através dessa abertura que surge Manon – a tal modelo francesa – toda deformada, tatuada e fantasmagórica. Para Manon, essa é a oportunidade de sair da dimensão terrível em que vivia e tentar contato com seus pais, mas ela acaba trazendo consigo um espírito esquisito e aparentemente inofensivo. O nome dele é Yowiya, um deus dos macacos, que ao conhecer Manon tem a brilhante ideia de virar deus dos humanos, porque oras, eles são uma espécie muito superior aos macacos idiotas que o veneram. Mas para sua ideia funcionar, Yowiya precisa da ajuda das duas garotas.

O mote de YOWIYA lembra um pouco Deuses Americanos, de Neil Gaiman, e também Planeta dos Macacos, de Pierre Boulle (e as zilhões de adaptações). Mas na verdade a história surgiu por causa de um documentário sobre chimpanzés se comportando de maneira ritualística na Guiné-Bissau, demonstrando algo como uma religião primitiva, de acordo com os pesquisadores.

Histórias que se baseiam em notícias bizarras já são por si só interessantes, e Hiro Kawahara aproveitou muito lindamente a dualidade dos traços delicados e monstruosos. O quadrinho passa por um primeiro ato tranquilo, de identificação com Kipky e Manon, duas garotas que se conhecem e se tornam amigas, apesar da diferença… bem… plasmática-carnal; depois Yowiya aparece todo inofensivo e então elas descobrem que ele não é bem o bonequinho feio que elas imaginavam e vão ter que usar o raciocínio para subjugá-lo. Num ritmo muito gostoso de acompanhar, YOWIYA vai de monotonia cotidiana para suspense e terror.

A amizade das duas personagens principais é desenvolvida bem naturalmente ou o quão naturalmente é possível uma amizade entre uma fantasma e uma ilustradora. Apesar de muito diferentes nas carreiras e personalidades, elas se dão muito bem e o próprio fato de Manon só poder enxergar o mundo com ajuda de Kipky cria nas duas uma cumplicidade rápida e bem legal.

Para apontar um possível problema, um momento em particular do enredo segue um rumo descontextualizado, digamos assim, onde aparece uma referência sexual onde não parecia haver espaço para uma. Claro, sexo seria uma das sensações humanas que provavelmente Yowiya gostaria de sentir e com a qual poderia ser chantageado, mas de repente Kipky não parecia ela mesma e a história segue brevemente por um caminho de estupro e humilhação. É bem assustador e faz você pensar se é isso mesmo ou o quê. Parece que esse momento precisava de mais background pra fazer sentido, porque ficou meio deslocado do geral.

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Nos bônus do quadrinho, Kipky tem um grande “descompromisso com a alta costura”, como descreveu seu criador. Usando só camisetas o quadrinho inteiro, ela provavelmente desfila com as estampas mais legais que você deseja. Hiro convidou vários amigos ilustradores para desenhar as estampas e outros easter eggs espalhados no melhor estilo Geninho, de She-Ra! Todas as ilustrações vêm reunidas numa galeria, dentre elas tem ilustração de Lu Cafaggi, Samanta Flôor, Eduardo Medeiros e Mika Takahashi. E também tem informações sobre o processo de criação do quadrinho, tudo escrito por Hiro.

YOWIYA

YOWIYA não responde todos os mistérios que apresenta durante a história, mas não de um jeito ruim. Na verdade termina de um jeito perfeito para uma continuação, uma série, um spin-off, enfim! O quadrinho deixa aquele gosto de “quero mais, principalmente pra saber o que acontece com Kipky e Manon, como elas passaram a viver juntas, qual a história por trás do assassinato da modelo ou o que exatamente aconteceu com Yowiya.

YOWIYA
Tudo isso só nos deixa com vontade de ler Kipky e Manon, uma das recompensas propostas como metas estendidas do Catarse. Ou seja, já sabemos que tem muito pano pra manga nessas duas garotas ordinariamente extraordinárias. Mas YOWIYA é um quadrinho rico e divertido/macabro com ou sem spin-off!

 


YOWIYA

YOWIYA

Hiro Kawahara

Editora Gironda

95 páginas

Onde comprar: ESGOTADO

Mais informações sobre YOWIYA: Facebook

Escrito por:

39 Textos

Bagunceira e bagunçada, por dentro e por fora. Prefere ver séries em maratonas, menos Game of Thrones, porque detesta spoiler. Totalmente apaixonada por desenho e animação. Tem mania de citar filmes em conversas, conselhos, brigas ou onde couber uma referência. Prefere gastar dinheiro com quadrinhos do que com comida, sendo muito entusiasta do quadrinho nacional e graphic novels em geral. Formada em Jornalismo, mas queria mesmo trabalhar com roteiro e ilustração.
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