Selo A-Rate: saiba sobre a aplicação do Teste de Bechdel no Brasil

Selo A-Rate: saiba sobre a aplicação do Teste de Bechdel no Brasil

Na última quarta-feira (05/04), ocorreu em São Paulo o lançamento no Brasil do selo A-Rate que popularizou o Teste de Bechdel no mundo. O evento de lançamento fez parte de uma série de seminários promovidos pela Ancine (Agência Nacional do Cinema) sobre Mulheres no Audiovisual, cujo foco é a equidade e igualdade de gênero, não apenas na frente, mas também, e principalmente, atrás das câmeras.

A representação feminina nos filmes ainda é muito precária: elas são apenas 29% das protagonistas no cinema e, muitas vezes, seus papéis são marcados por estereótipos antiquados, imbuídos por um olhar enviesado e repleto de preconceitos que estão sendo cada vez mais questionados. Este ciclo de Seminários ocorreu nas cidades do Rio de Janeiro (30/03), Belo Horizonte (03/04) e São Paulo. É possível assistir na íntegra o seminário realizado no Rio de Janeiro, no canal do youtube da Casa de Rui Barbosa  e o seminário ocorrido em Belo Horizonte, no canal da unibes cultural no youtube.

Seminário Internacional Mulheres no Audiovisual (RJ) Foto: Cineclube Delas
Seminário Internacional Mulheres no Audiovisual (BH)

Este selo foi criado pela suéca Ellen Tejle que participou do evento com uma palestra sobre a representação da mulher nas telas do cinema. O teste consiste em um mecanismo bastante simples. Respondendo a questões como

1) se uma obra de ficção possui pelo menos duas mulheres que

2) conversam entre si sobre um assunto que não seja homem e

3) se elas têm nomes que são mencionados no filme. Esta avaliação mede o índice de participação feminina nas telas.

O cumprimento destes requisitos não mede a qualidade da representação das mulheres nos filmes, mas verifica, pelo menos, um mínimo de representatividade. O Teste de Bechdel foi criado como uma tirinha satírica pela quadrinista Alison Bechdel nos anos 80 e o mini questionário tinha como objetivo apenas apontar a invisibilidade da mulher no cinema, mas acabou se popularizando a virando uma das muitas ferramentas de avaliação por pesquisadores de estudos de gênero.

Debora Ivanov (diretora da Ancine), Tatiana Groff, Marília Nogueira (idealizadora do Prêmio de Roteiro Cabíria), Malu Andrade (criadora do grupo Mulheres do Audiovisual no Facebook), Ellen Tejle (criadora do selo A-rate) e Minom Pinho (sócia-diretora na empresa Casa Redonda) são as mulheres que estão coordenando a aplicação do selo no Brasil que será feito de forma colaborativa pelas integrantes do grupo “Mulheres do Audiovisual Brasil” no Facebook (que conta hoje com mais de 11 mil membros) e pelas Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.

Tatiana Groff, Marília Nogueira, Debora Ivanov, Malu Andrade, Ellen Tejle e Minom Pinho no Seminário Internacional Mulheres no Audiovisual (RJ)

Ellen Tejle é diretora de uma sala de cinema em Estocolmo e em 2013 passou a usar um selo para identificar, entre os filmes em cartaz, aqueles que passavam no teste de Bechdel-Wallace. Ellen fixou adesivos nos pôsteres dos filmes, inseriu uma vinheta nos trailers e divulgou o material na internet para qualquer exibidor do mundo que quisesse abraçar a ideia. Perguntada pelo site Mulher no Cinema sobre as mudanças após a implementação do selo na suécia, Ellen afirmou que “A indústria cinematográfica sueca está bem mais consciente. [Os profissionais] de fato olham para seus roteiros e trocam o sexo do personagem. Por que 99% dos papéis são masculinos? Talvez o filme fique melhor se isso mudar! Então [os realizadores] estão realmente trocando sexo e também a origem étnica de seus personagens. Os lançamentos, hoje, têm diversidade muito maior. E esse era meu objetivo: criei a campanha para espalhar consciência.”

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Atualmente, a aplicação do selo está incorporada em mais de dez países, incluindo o Brasil que a partir de agora passa a adotá-lo. Em São Paulo, a aplicação dos testes conta com o apoio de alguns exibidores como o Reserva Cultural, o Espaço Itaú de Cinema e o Caixa Belas Artes. A intenção é que mais redes de cinema de todo o país apoiem e abracem a causa. Recentemente o IMDB (principal banco de dados online sobre cinema do mundo) incorporou o sistema de classificação “F-Rating” para destacar produções escritas e dirigidas por mulheres ou ainda que tenham personagens femininas de destaque e com sua própria história. Esse sistema de classificação foi criado em 2014, pela diretora-executiva do festival de cinema Bath, Holly Tarquini, cujo objetivo era o de apoiar mulheres no cinema e mudar as histórias que vemos nas telas. Segundo o jornal inglês The Guardian, mais de 40 festivais de cinema utilizam o sistema “F-Rating” de classificação. Ao encampanar campanhas de cunho afirmativo como essa, o Brasil dá mais um passo na tentativa de equalizar e equiparar o que vemos nas telas em termos de representação da mulher. A partir de agora, nós, do Delirium Nerd passaremos também a adotar o selo nas obras que sejam aprovadas no Teste de Bechdel.

 

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Aquariana, mora no Rio de Janeiro, graduada em Ciências Sociais e em Direito, com mestrado em Sociologia e Antropologia pelo PPGSA/UFRJ, curadora do Cineclube Delas, colaboradora do Podcast Feito por Elas, integrante da #partidA e das Elviras - Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema. Obcecada por filmes e livros, ainda consegue ver séries de TV e peças teatrais nas horas vagas.
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