[QUADRINHOS] Noruega: Para além dos quadrinhos americanos

[QUADRINHOS] Noruega: Para além dos quadrinhos americanos

O cenário estadunidense ainda é a maior referência em histórias em quadrinhos no mundo, perdendo talvez para o japonês, se levarmos em conta o número das vendas de mangás. Ainda assim, o público norte-americano é o grande consumidor da indústria. Com grandes eventos dedicados à nona arte, contando com diversas premiações para os lançamentos anuais, e contando com as duas editoras da área mais reconhecidas mundialmente, os EUA são o polo das HQs dos mais diversos tipos, indo do terror aos super-heróis, mas não são seus únicos produtores. Por isso gostaríamos de apontar diferentes produções no mundo, iniciando com a pequena produção de quadrinhos noruegueses.

quadrinhos noruegueses

Dentro do cenário das histórias em quadrinhos, a produção norueguesa não é uma das mais tradicionais e só começou a ganhar espaço nas últimas duas décadas. Os tegneserier (‘histórias em quadrinhos’ em norueguês) surgiram no começo do século XX, com a primeira publicação nacional Kari, Per og Søren på bytur, feita pela primeira mulher editora no país, Nanna With. Nessa conjuntura, as revistas estrangeiras prevaleceram por muito tempo no mercado dos quadrinhos no país, tendo entre as mais famosas as revistas do Pato Donald, considerada até hoje uma das favoritas do público norueguês.  

quadrinhos noruegueses

Nos últimos anos, porém, a Noruega tem contado com grandes cartunistas, como Frode Øverli, Øystein Runde e John Arne Sæterøy, o Jason, que iniciou atividade em 1981, na revista KOnk da editora Bladkompaniet, tendo obras traduzidas em diversas línguas, e amplo reconhecimento internacional, sendo ganhador de três prêmios Eisner (The Will Eisner Comic Industry Awards, maior prêmio norte-americano da indústria dos quadrinhos). 

Tendo uma forte influência tanto dos grandes quadrinhos franco-belgas, quanto de filmes antigos, principalmente os mudos, o foco do autor são as narrativas a serem contadas, e as possibilidades de se contar essas narrativas. Além disso, Jason cria personagens que, mesmo sem muitos traços faciais de expressão ou cores, conseguem demonstrar o que estão sentindo; muitas vezes sem o uso da escrita (balões).

quadrinhos noruegueses

O formato de suas personagens (em sua grande parte uma mistura de figuras animais com humanas) são misturados com temas recorrentes, como a morte e o uso de grandes figuras históricas, dando uma singularidade em sua obra como um todo, o que dá destaque para o autor, em seu país e também nos mercados estrangeiros.

quadrinhos noruegueses

Outra autora importante dentro do cenário norueguês é Lise Myhre, conhecida por Nemi. Sua série foi criada em 1997 na revista Larsons Gale Verden, com o nome de Den Svarte Siden (O Lado Negro), tendo alterado para o nome atual em 1999. Em 2011 a série já havia sido publicada na Finlândia, Dinamarca, Alemanha, França, Espanha, Inglaterra, EUA, entre outros países, sendo considerada uma das tiras em quadrinhos mais populares da Noruega, ficando atrás somente de Pondus.

quadrinhos noruegueses

As tiras acompanham a personagem homônima Nemi (Montoya), uma garota nos seus vinte a poucos anos, roqueira, assumidamente vegetariana, que posiciona incisivamente sua visão do mundo. O formato em tiras proporciona um humor bastante físico, com piadas rápidas e bastante visuais, característica que a autora aproveita em suas tiras mudas ou com pouquíssimas falas.

As dificuldades dentro do mercado norueguês (que privilegia as HQs estrangeiras) e as barreiras presentes no mercado internacional (a falta de difusão por causa da língua, por exemplo) não impediram o surgimento desses artistas, que de alguma forma estão ocupando seu espaço dentro do cenário dos quadrinhos. Para os interessados, é possível encontrar esse material na internet (principalmente as traduções para o inglês), e descobrir um pouco mais sobre os quadrinhos para além dos EUA.

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16 Textos

Bat-fã, que ama cachorros, quadrinhos, chocolates e coisas velhas. Formada em História pela Universidade de São Paulo; tem como metas de vida trabalhar com arquivo histórico e HQs (de preferência ao mesmo tempo), e convencer sua irmã mais velha de que a Canário Negro venceria em um combate corpo a corpo contra a Caçadora.
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