[LIVROS] A Rebelde do Deserto: Luta e sobrevivência diante de perigos humanos e inumanos

[LIVROS] A Rebelde do Deserto: Luta e sobrevivência diante de perigos humanos e inumanos

A Rebelde do Deserto, livro da canadense Alwyn Hamilton que foi publicado pela Seguinte, é uma fantasia surpreendente. Aqueles que esperam se deparar apenas com mais um romance juvenil de temática sobrenatural se deparam com uma história de luta em uma cultura diferente e de protagonismo feminino. Através de um enredo instigante e de personagens empáticos, agrada e supera as expectativas.

[NÃO CONTÉM SPOILERS]

Amani, a menina dotada de estranhos olhos azuis, é apenas mais uma jovem do deserto. Filha de um homem desconhecido, criada por um pai alcoólatra, adotada por tios abusivos, impedida de escolher seu próprio destino, não se difere das demais mulheres de Miraji. Após o cumprimento da pena de morte de sua mãe, Amani passa a morar com uma violenta tia e seu marido, um homem que possui inúmeras esposas e filhos, mas que ainda deseja mais. Para livrar-se de um casamento forçado, Amani sabe que deve fugir para Izman, um lugar que aprendera a amar pelos olhos da mãe.

Na tentativa de ganhar dinheiro para a fuga, ela se passa por um garoto e se inscreve em um torneio de tiros. No evento, conhece o forasteiro Jin e se envolve em algo que mudará sua vida para sempre. Por todo o território de Miraji uma revolta se alastra. Um príncipe perdido acende a chama da luta por um país em que os seres mágicos não sejam caçados e em que as mulheres tenham seu valor reconhecido sem que, para isto, tenham que se vestir de homens. Juntar-se aos rebeldes pode significar nunca ter a vida pacífica em Izman pela qual Amani esperava, mas pode significar tudo o que ela sempre desejou.

Amani é uma das melhores protagonistas de livros do gênero. Proveniente de uma cultura machista, em que a mulher é considerada inferior e explicitamente objetificada, aprendeu logo a sobreviver sozinha. E sua trajetória se mantém coerente ao longo da narrativa, mesmo após o surgimento do romance. Ela reconhece um mundo em guerra em que as mulheres são violentadas, prostituídas, silenciadas. Mulheres como ela possuem seus talentos ocultados por uma vida limitadora. O destino de todas é obedecer e aceitar, transformar-se em idólatras de homens que as utilizam conforme seus desejos. E ela percebe o quanto esta cultura divide as próprias mulheres.

Mulheres tornam-se inimigas na medida em que um futuro razoável é definido pela parcela de atenção prestada pelos maridos. São ensinadas a invejar as outras com quem dividirão um só homem, a odiar quem representar uma ameaça à migalha de poder que lhes pode ser concedida. E esta parece que será a perspectiva do livro por sua fase inicial, marcada pela relação entre Amani, sua tia e suas primas.

Todavia outra realidade se evidencia conforme a protagonista realiza sua trajetória de fuga por um deserto repleto de perigos humanos e inumanos. Amani conhece mulheres fortes que, como ela, quiseram algo diferente para si. Há Shazad, a filha de um general que supera o irmão em sua capacidade de comandar, mas que não é reconhecida pela sociedade como mais do que uma opção de casamento. Há Hala, uma demdji – filhos de humanos com djins (gênios) – capaz de mexer com cabeça de todos. E há muitas mulheres que permanecem ocultadas nesta seca vida, mulheres que morrem como criminosas e imorais.

Não obstante, a mitologia da história cativa. A autora desenvolve um enredo mágico e diferente que mescla perigos da noite e do deserto – seres anteriores aos seres humanos – a perigos humanos – homens, em sua maioria, arrogantes e ambiciosos, que se veem como superiores a todas as minorias e que desejam poderes de todas as formas. Alguns querem governar um país sozinhos, como o sultão, outros querem governar o mundo, como os gallans, e ainda há aqueles que se contentam com dinheiro suficiente e mulheres em seus leitos.

Os personagens de A Rebelde do Deserto são bem construídos, ainda que não sejam extremamente aprofundados – o que dificilmente ocorre em livros do gênero. O desenvolvimento é envolvente e proporciona uma leitura rápida. E o fim, ainda que não seja o mais instigante, é coerente, concluindo em uma leitura bastante positiva. Ainda, o livro possui uma continuação intitulada A Traidora do Trono, já publicada no Brasil. Há notícias de que Willow Smith, filha de Will Smith e Jada Pinkett Smith, teria comprado os direitos sobre o livro para produzir e estrelar uma possível adaptação. Todavia, ainda não existem informações maiores.

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Confira a sinopse de A Rebelde do Deserto, pela editora:

O deserto de Miraji é governado por mortais, mas criaturas míticas rondam as áreas mais selvagens e remotas, e há boatos de que, em algum lugar, os djinnis ainda praticam magia. De toda maneira, para os humanos o deserto é um lugar impiedoso, principalmente se você é pobre, órfão ou mulher. Amani Al’Hiza é as três coisas. Apesar de ser uma atiradora talentosa, dona de uma mira perfeita, ela não consegue escapar da Vila da Poeira, uma cidadezinha isolada que lhe oferece como futuro um casamento forçado e a vida submissa que virá depois dele. Para Amani, ir embora dali é mais do que um desejo — é uma necessidade. Mas ela nunca imaginou que fugiria galopando num cavalo mágico com o exército do sultão na sua cola, nem que um forasteiro misterioso seria responsável por revelar a ela o deserto que ela achava que conhecia e uma força que ela nem imaginava possuir.


A Rebelde do DesertoA Rebelde do Deserto

Alwyn Hamilton

Editora Seguinte / Companhia das Letras

312 páginas

Onde comprar: Amazon

Este livro foi cedido pela editora para resenha.

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Mestra em Teoria e História do Direito e redatora de conteúdo jurídico. Escritora de gaveta. Feminista. Sarcástica por natureza. Crítica por educação. Amante de livros, filmes, séries e tudo o que possa ser convertido em uma grande análise e reflexão.
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