[CINEMA] Eu, Daniel Blake: A burocracia como método de desumanização (Crítica)

[CINEMA] Eu, Daniel Blake: A burocracia como método de desumanização (Crítica)

Quem já utilizou de algum serviço público, possivelmente encontrou dificuldades em diferentes níveis para atender sua demanda. Seja indo a um hospital público e esperando horas até o atendimento ou solicitando algum benefício assistencial, encontramos um sistema de dificuldades que parece ter sido feito para que desistamos de receber um direito que é nosso. Eu, Daniel Blake é um filme atemporal, que traz uma crítica profunda não só ao Estado, mas também à toda uma burocracia que existe como um mecanismo de papelada e distanciamento na conquista de direitos sociais.

O filme dirigido por Ken Loach conta a história de Daniel Blake, um carpinteiro que acaba sofrendo um ataque cardíaco e deixando de trabalhar. Começamos então a acompanhar a luta do protagonista para conseguir um auxílio de seguro desemprego com o governo, pois sua única fonte de renda encontrava-se em seu trabalho.

Daniel Blake

Em sua jornada para a garantia de seus direitos, Daniel Blake conhece uma mulher, Katie, que também tenta exaustivamente algum benefício para ela e suas duas crianças. Porém, logo ambos se reparam com a realidade, que os serviços públicos fazem o possível para dificultar ao máximo o acesso; levando assim à exaustão das pessoas que o procuram.

O protagonista, entretanto, não desiste de conquistar seus direitos e continua sua luta até o fim do filme. Nos deparamos, entretanto, com uma dita “burocracia” que serve apenas para impedir que as demandas do serviço público não sejam atendidas e que suas/seus usuárias/os continuem em situação de desamparo social.

O objetivo do filme é realizar uma denúncia ao sistema de governo e em como este mantém suas relações de desigualdade com a população. O afastamento das políticas públicas e a burocratização dos serviços acabam por criar uma relação de estranheza entre usuária/o e os programas sociais.

Mas então, se você ainda não sabe porque assistir esse filme, vamos listar 3 motivos que mostram que Eu, Daniel Blake é uma crítica social forte!

1 – Estamos assistindo a realidade.

Todo mundo conhece alguém que já foi tentar pedir algum benefício assistencial para o governo (tipo seguro desemprego) e recebeu um não de cara, mesmo que a pessoa precisasse daquele dinheiro para sobreviver. Quem já tentou pedir a isenção de taxa do Enem, por exemplo, sabe que é solicitado uma papelada gigantesca para ser comprovado que a pessoa não tem dinheiro para pagar uma prova! Daniel Blake corre atrás de toda a papelada necessária para acreditarem que ele não tem mais condições de trabalhar.

Daniel Blake

2 – O tempo gasto para conseguir um atendimento.

Já perceberam que quando ligamos para alguma operadora para cancelar seu plano, é uma luta sem fim? Quem esperamos e esperamos para depois esperarmos ainda mais? Pois é, quando se trata de lidar com o governo, a situação ainda se agrava.

Daniel era um cidadão que, como grande parte da população, não tinha acesso à tecnologia e nem sabia manuseá-la, o que acabou se tornando um obstáculo grande, pois quase toda solicitação e atendimentos encontravam-se no meio digital. Isto acabou levando-o a horas e horas ligando e esperando atendimento no telefone, pedindo ajuda, pois esperava encontrar outra fonte que não dependesse da tecnologia.

Daniel Blake

3 – A prostituição. [SPOILER ALERT]

Katie, a amiga de Daniel que também começa a correr atrás de seus direitos, acaba se encontrando encurralada. Sem dinheiro e sem trabalho, não tem como nem dar comida à suas crianças, muito menos comprar roupas ou ter qualquer outra necessidade atendida.

Sendo assim, o único local que Katie consegue se inserir, é na prostituição como uma profissional do sexo. Sabemos que a prostituição é uma profissão marginalizada, que a sociedade se recusa em enxergar mas condena veementemente sem ao menos conhecer a história de vida das mulheres que vendem seus corpos.

Um filme que trata sobre a temática da prostituição, mesmo que não seja o foco da película, é um debate importante no contexto atual, onde diversas mulheres lutam para a prostituição ser institucionalizada enquanto uma profissão e ter seus direitos garantidos.

Daniel Blake

Em tempos de Temer, somos todas/os Daniel Blake. Além de ser uma obra cinematográfica cheia de referências e reflexões, Daniel Blake nos passa a mensagem de que mesmo com a violação de nossos direitos, precisamos ir a luta e conquistar o que é nosso.

Mas mais do que isso, a melhor caminhada é aquela feita em conjunto e o filme transmite muito bem essa ideia. Observamos que desde o vizinho até Katie ou até uma servidora de instituição que se sensibiliza com a luta de Daniel, a empatia é a responsável por fortalecer a luta. Seja em coletivos na sua cidade, ou em movimentos sociais ou em grupos da internet, procuremos nossas redes de apoio e nos fortaleceremos em conjunto.

Daniel Blake


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27 Textos

Feminista e estudante de serviço social. Ama Star Wars e é viciada em gatos. Adora conversar sobre gênero e brinca de ser gamer nas horas vagas. Nunca superou o fim de The Smiths.
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