Mulheres e Guitarras: Riot grrrl e a cena punk! (Parte 1)

Mulheres e Guitarras: Riot grrrl e a cena punk! (Parte 1)

Nessa primeira parte de Mulheres e Guitarras: Riot grrrl e a cena punk!, falaremos um pouquinho sobre a relação do punk feminista com a entrada considerável das mulheres na cena musical no começo dos anos 90, as consequências disso dentro da indústria da música e o quão importante é esse acontecimento para o que vivemos hoje. Esse post é, sobretudo… Apoiar a cena feminina! Não só na música, mas na arte num geral; A música, o cinema, a literatura… É importante ressaltar que as mulheres devam ter o acesso e a consciência da situação da indústria musical diante ao gêneroApoie sua girl gang local!

A infância de um indivíduo é construída através dos costumes padrões nas quais estão prestados a aprender com o tempo, e como toda menina curiosa, o que as fitas do pai e a rádio não tocavam na época, tem seu certo destaque e efeito; Assim, o empoderamento faz seu papel na história e no movimento feminino em torno dele, mais especificamente em 1990. O que como símbolo levamos em relação a mulher se prestar a música como intérprete, separamos seleções temáticas por gêneros dentro do rock as diversas bandas que conhecemos ao entender primeiro o movimento riot grrrl, ou como Kim Gordon diria:

As mulheres inventaram o punk rock, não a Inglaterra!

Riot grrrl

No começo dos anos 90, um considerável alarde das mulheres começa a chamar atenção das produtoras. Até então, poucas bandas de renome tinham uma influência feminina além de serem vocalistas. O que as The Runaways tinham deixado de legado em um limbo até o começo dos anos 80, o rock progressivo mostra mais ainda: A infamiliaridade das mulheres com a música e a teoria musical num geral parece desmerecer mais ainda qualquer esperança de influência na história da música não só como compositoras, mas como instrumentistas também.

Nos anos 80, o crescimento do chamado movimento new wave (derivado tanto do pop não comercial quanto do progressivo) abriria uma brecha pra bandas como o Talking Heads, The B-52’s, The Go-Gos, The Bangles, Blondie e os Pretenders se destacarem com o apoio criativo de mulheres, gerando assim um peso maior no punk, que vivia no underground junto com o hardcore e o rock alternativo. Bandas como o Black Flag no lado mais hardcore, o L7 – se formando junto ao Girlschool, no heavy metal – e o Bikini Kill no punk só traziam mais atenção da mídia com o tempo.

O marco da 3º onda do feminismo é o ponto de partida de algo que já estava escondido há muito tempo; Além de abrir porta para outras raças e começar a adotar pautas sem o protagonismo branco, o discurso punk abriria seu lugar não só como música, mas como ato político. Kathleen Hanna, a pioneira desse ”boom” e vocalista da banda Bikini Kill, levaria seus discursos além e formaria o que chamamos de movimento riot grrrl, onde as meninas de Oregon e seus arredores fariam um levante musical e recusariam o uso da mídia para evitar a tomada e rotulação, ilegitimando e comprando seus espaços.

Riot grrrl
Bikini Kill em Washington em 1990.

Algumas bandas do período de ascensão do riot grrrl ainda fazem suas aparições hoje em dia. Muitas das bandas ou até mesmo artistas solo estão constantemente homenageando e relembrando ao seu público que tais possibilidades só foram possíveis graças a elas, principalmente em questão do papel de autoridade feminina nos sub-gêneros mais ”brutais” do rock, como o hardcore ou até mesmo o death e o black metal, apesar da influência alternativa em nomes mais calmos e expressivos como o emocore e o pop punk. Ficam aqui algumas recomendações de artistas que de alguma forma colaboraram para o movimento naquela época e que hoje em dia têm seu próprio espaço não só como influência, mas também em atividade constante:

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No começo de 2015 e após 10 anos de hiato indeterminado, a banda Sleater-Kinney volta com novo álbum e um apoio de vários amigos da indústria do cinema e da música. Carrie Brownstein, guitarrista e vocalista da banda, já tinha seu destaque na TV há um tempo, com seu programa de humor Portlandia, em parceira a seu amigo de longa data, Fred Armisen. Nomes como Gerard Way, Ellen Page, Brie Larson, Norman Reedus, J Mascis e Evan Rachel Wood mostram a importância da banda como influência no vídeo de retorno. Carrie lançou no começo de 2016 uma auto-biografia intitulada ”Hunger Makes Me a Modern Girl”, que inclui vários relatos da vida dela e da banda na cena punk underground até sua volta atual como comediante.

Riot grrrl
Sleater Kinney

O álbum No Cities to Love é considerado um dos melhores do ano por muitos sites de crítica musical. O álbum mais importante da carreira da banda, Dig Me Out, completou 25 anos esse mês de abril. Vale a conferida!

As meninas do Veruca Salt também voltaram a ativa nesses tempos. Além do contexto político favorável, segundo elas, ter um contato com o público adolescente atual é mais do que importante pra uma banda.

Além de relançarem clássicos antigos em vinil, lançaram um álbum maravilhoso em um clima pop punk e apostaram na nostalgia pra nenhuma criança dos anos 90 botar defeito! A banda está de volta com a sua formação original, que não se reunia desde 1998.

A banda de indie punk Pixies também tem seu lugar na lista e na história do apoio a cena. A banda, que não lançava nada de novo desde 1991, subitamente perdia sua colaboração com a baixista e compositora Kim Deal para se dedicar em tempo integral aos The Breeders, banda que formara em 1988 com ajuda de amigos e amigas da cena. Com a separação, a banda anuncia sua volta em 2013 com um álbum em parceria com a guitarrista do The Muffs, Kim Shattuck. Após muitas desavenças com a mesma, voltariam em 2016, efetivando como membro oficial da banda a baixista argentina Paz Lenchantin, que tem um nome de muito destaque no rock em geral, passando pelo A Perfect Circle, Zwan e o The Entrance Band.

A guitarrista Mary Timony tinha seu próprio espaço no rock alternativo underground nos anos 90 com sua banda Helium. Após a dissolução do grupo, Mary fez seus álbuns solo caseiramente e eventualmente montava bandas de colaboração pra lançar pequenos álbuns, sendo de destaque o super-grupo Wild Flag. Mary tem um senso muito peculiar ao escrever as músicas dela, e seus contos sombrios tem seus destaques desde sua era na MTV.

Mais recentemente se juntou as amigas Betsy e Laura pra formar sua banda divertidíssima de rockabilly Ex Hex! As músicas são dançantes e tem os riffs marcantes que só a Mary pode nos deixar a par.

A multi-instrumentista Kim Gordon é mundialmente conhecida não só por seus trabalhos no ramo da moda, mas também por quebrar o pau no rock experimental desde sempre. Tendo feito fronte a uma das bandas mais importantes pro gênero até hoje, o Sonic Youth, que termina após um show marcante no festival SWU, em São Paulo, por motivos conjugais entre ela e o líder e vocalista da banda, Thurston Moore.

É um fato comprovado que Kim, assim como a sua banda de renome, tem se mantido forte a todas as conquistas que já citamos aqui, e provavelmente qualquer coisa na qual nos referimos ao rock após os anos 80 também. Kim nunca abandonou sua vocação musical, e hoje toca com seu amigo Bill Nace na banda Body/Head fazendo o que ela sabe de melhor: implodir a música. Atualmente está em carreira solo e sempre passa pelo Brasil quando pode. Sua última visita foi em novembro do ano passado.

Nas próximas matérias marcaremos presença no site para discutir historicamente com vocês sobre música e com tópicos em específico! Essa matéria é só um gostinho do que vamos passar nas próximas semanas e já estaremos em companhia com muitas mulheres que merecem atenção!

 

Escrito por:

Clarissa. Ou Setty. Carioca, estudante de jornalismo e puxa saco de qualquer mulher com uma guitarra ou uma câmera na mão. Montadora de playlists profissional, poetisa de bolso nas horas vagas e satirista em tempo integral. Nerd pra umas coisas e punk pra outras, aspirante a diretora e crítica de plebe musical. Sempre estranha e incomum.
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