[SÉRIE] American Gods – 1 x 03: Head Full of Snow (Resenha)

[SÉRIE] American Gods – 1 x 03: Head Full of Snow (Resenha)

No terceiro episódio de American Gods, Head Full of Snow (“Mente Cheia de Neve”, do inglês), fantasia e realidade continuam condensando-se e fazendo a espectadora pensar acerca de suas crenças e desejos. Partindo do princípio de que tudo o que existe no mundo foi um dia simplesmente pensado, Mr. Wednesday põe Shadow para refletir acerca de seu ceticismo e todo o universo confuso e novo apresentado a ele começa a se clarificar – como neve.

[CONTÉM SPOILERS DE HEAD FULL OF SNOW]

Resenhas de episódios anteriores:

O episódio começa com Mrs. Fadil (Jacqueline Antaramian), uma dona de casa muçulmana que, muito preocupada com o tempero de sua comida para o jantar da família que iria visitá-la em breve, mal percebe que havia caído de um banquinho ao tentar pegar um tempero em sua prateleira.

Foi preciso que Mr. Jacquel (Chris Obi), a personificação do deus egípcio Anubis, batesse em sua porta e mostrasse a ela seu corpo morto ao chão, fazendo com que a mulher compreenda sua condição de espírito. Ela não entende o porquê do deus de uma cultura diferente aparecer para ajudá-la a fazer a transição para o pós-vida, mas Jacquel relata que ela teve contato com os mitos egípcios quando criança e, ao crer neles, cultivou uma ligação forte com a religião até aquele momento.

Head Full of Snow
Mr. Jacquel.

Jacquel a pega pela mão e, em um verdadeiro paraíso, julga seu coração em uma balança. De acordo com a mitologia egípcia, se o coração humano for mais leve do que uma pena, sem pecados, a pessoa ao qual pertence poderá escolher em qual mundo de Duat (o reino de Osíris) desejará passar a eternidade. Por ter sido boa em vida, a mulher é absolvida e embarca para o Além.

Logo após, Shadow aparece na casa das Zoryas, acordando de madrugada. Ao ir ao telhado da casa, encontra Zorya Polunochnaya (Erika Kaar), que observa com um telescópio a constelação da Ursa Maior. Ela diz a Shadow que algo muito ruim vive lá e, caso se solte de sua prisão nas estrelas, devorará o “todo de tudo”.

Espantado com a conversa, Shadow descobre que aquela era a irmã que estava dormindo e que ela própria era tão diferente quanto as outras. Zorya lê a sorte de Shadow e vê a sua falta de fé estampada também em seu rosto. A garota pede, então, um beijo, por nunca ter beijado antes e, passada a experiência pouco proveitosa, pede que Shadow pegue literalmente a lua. Não compreendendo o pedido, Shadow observa Zorya capturar o satélite e transformá-lo em moeda. Ela pede que ele não se desfaça daquela moeda como fez com a de ouro, ganhada de Mad Sweeney no bar, que nada mais era do que o sol, e promete que aquela mesma moeda o daria sorte.

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Zorya Polunochnaya.

Ao acordar do que parecia ser um sonho confuso, Shadow procura Czernobog para tentar se livrar da morte iminente. Ele desafia o deus para uma outra partida de xadrez, alegando que ele não usava sua marreta há anos e também não estava tão forte como fora em outros tempos, e o máximo que poderia fazer em Shadow seria deixá-lo com graves danos cerebrais.

A aposta, então, dobra: caso Shadow ganhasse, Czernobog seguiria Wednesday (que o homem chama de Votan no episódio anterior e neste, dando uma pista da identidade de Wednesday) até Wisconsin, mas se perdesse, daria sua cabeça para duas marretadas certeiras. Czernobog aceita e acaba perdendo a partida para Shadow que, satisfeito, deixa a casa das Zoryas para ir roubar um banco com Wednesday.

Head Full of Snow

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Mad Sweeney acorda no Jack’s Crocodile e Jack (Beth Grant) ameça matá-lo com uma espingarda caso ele dê mais trabalho em seu bar. Desafiando a sorte, Sweeney diz que o máximo que aconteceria seria a arma travar e ela perder os dedos tentando atirar, ao passo que Jack realmente atira em sua garrafa de cerveja e mostra que ele estava equivocado ao menosprezar a habilidade da mulher.

Ele sai do bar e vaga sem rumo pelo acostamento até ser abordado por um gentil homem de carro, que o oferece uma carona. Ao aceitar entrar no carro do homem, não demora muito para que a má sorte de Sweeney volte a aparecer: no caminhão à frente, uma barra de ferro se solta e acaba empalando a cabeça do motorista. Quando a polícia chega ao local, o leprechaun se dá conta de que estava sem sua moeda da sorte, a qual ficou com Shadow no dia da briga. Furioso, vai atrás do homem para acertar contas e buscar seu amuleto.

Mad Sweeney Head Full of Snow
Mad Sweeney.

Em Nova York, Salim (Omid Abtahi), um imigrante muçulmano está confiante quanto a fechar negócios com Mr. Blanding. O homem é vendedor de suvenires, mas acaba sendo enganado e passa horas esperando o empresário aparecer para olhar a mercadoria, sem sucesso.

Prometendo voltar no dia seguinte para a tão sonhada reunião, decide ir para o hotel em que está hospedado e, com muita espera, consegue um táxi. Ao passar em um cruzamento e quase bater o carro, o taxista (Mousa Kraish) xinga o outro motorista em árabe, o que desperta a curiosidade de Salim, que descobre se tratar de um conterrâneo do homem. A vida dos dois não é nada fácil.

Ambos passam por dificuldades para sobreviverem em um país completamente hostil, vivendo em condições desumanas, o que gera uma empatia muito grande em ambos. Cansado do dia de trabalho, o taxista dorme ao volante em um semáforo e, ao acordá-lo para seguirem viagem, Salim vê que por trás dos óculos escuros do homem há olhos flamejantes. Salim compreende então se tratar de um jinn, um gênio, e fica encantado ao saber que as histórias que a avó contava para ele sobre o “povo do fogo” era verdade. “Não concedo desejos”, diz do jinn, o que Salim interpreta como uma tentativa do homem de se autoafirmar como uma figura independente, que quer ser mais do que um mero gênio da lâmpada. O jinn também precisava ter seus próprios desejos atendidos.

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Quando chegam ao hotel, Salim diz ao jinn o número do seu quarto. Após levar uma passageira ao seu destino, a criatura volta a encontrar Salim e, em seu quarto, os dois transam e se entregam a um sentimento muito profundo. Salim encontra no corpo e no carinho do jinn o acalento que precisava para a sua solidão, ao passo que também desperta sexualmente, empoderando-se.

Ambos se confortam e reencontram o caminho do Oriente Médio, com suas areias, texturas e temperaturas. A belíssima cena quebrou estereótipos e preconceitos e, muito longe do que muitas pessoas preconceituosas alegaram, mostrou mais uma vez a importância da representatividade LGBT na mídia.

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Ao acordar da maravilhosa noite de amor que teve com o jinn, Salim não mais o encontra no quarto, apenas suas roupas, a chave do táxi e uma carteira de motorista de um outro muçulmano. Salim veste as roupas do jinn, entra em seu carro e segue para sua nova rotina. Os dois, durante o ato, trocaram de almas.

Shadow e Wednesday vão até o banco que eles irão roubar, apesar de Shadow achar uma má ideia, afinal não estava querendo voltar para a cadeia tão cedo. Ao entrarem no local para verificarem a área, a espectadora vê os dois pelos olhos de Mídia, que os observa pelas câmeras de segurança. Apos saírem, Wednesday diz que Shadow precisaria de um chocolate quente e que deveria se concentrar e pensar em neve o máximo que pudesse. Mesmo não compreendendo, Shadow mantém o mantra da neve circulando pelos seus pensamentos até, finalmente, nevar em grande quantidade na cidade.

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“Pense em neve.”

Os dois vão comer em uma lanchonete e Shadow, intrigado, pergunta para Wednesday se aquela neve toda tinha sido produzida por ele. Wednesday mais uma vez fala de fé e da importância do ato de acreditar, ligado intrinsecamente entre a realidade e a fantasia. Para ele, ambas não se desassociam. É então que Mad Sweeney aparece cobrando sua moeda da sorte e Shadow diz a ele que a deixou na cova de Laura em Eagle Point.

Wednesday pede que Shadow fique próximo a um telefone público do lado oposto ao caixa bancário em que ele, vestido de funcionário do banco, senta para recolher os depósitos dos transeuntes. Enquanto recolhe pilhas de envelopes de dinheiro, um carro de polícia se aproxima, o que deixa Shadow apavorado.

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Wednesday entrega um cartão ao policial, com o número do telefone público que Shadow vigia. Se passando pelo chefe da companhia de segurança para a qual Wednesday estava trabalhando, Shadow entra no jogo e consegue despistar os policiais. Wednesday consegue uma grande quantidade de dinheiro e os dois voltam ao hotel, no qual Shadow encontra Laura como se nada tivesse acontecido a ela.

[FIM DOS SPOILERS DE HEAD FULL OF SNOW]

Head Full of Snow foi, de longe, o melhor episódio da temporada até agora. Ancorado do início ao fim em fazer Shadow começar a acreditar no sobrenatural, Wednesday fomenta a crença na mente e coração do homem com discursos belíssimos que vão ao encontro do que muitas pessoas pensam ou passam a pensar ao longo da vida.

A espectadora também começa a notar que Shadow não é um homem comum e que será mais importante para a história do que apenas o motorista de Wednesday. A estética e a criatividade de Bryan Fuller ao organizar todas as sequências das cenas, desde as mais simples até as repletas de minimalismos, faz com que a espectadora tenha cada vez mais vontade de acompanhar a série.

A fotografia é impecável e entrega pontos preciosos do roteiro de forma sutil e poética. A adaptação segue fiel e corajosa ao abordar temas extremamente necessários, como a relação homoafetiva entre Salim e o jinn, e o discurso de Anansi sobre racismo no segundo episódio. Mais do que uma série, American Gods se torna, a cada novo episódio, uma verdadeira obra de arte.

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Head Full of SnowDeuses Americanos

Editora Intrínseca

Ano de publicação: 2011

574 páginas

Onde comprar: Amazon

Escrito por:

117 Textos

Formada em Letras, pós-graduada em Produção Editorial, tradutora, revisora textual e fã incondicional de Neil Gaiman – e, parafraseando o que o próprio autor escreveu em O Oceano no Fim do Caminho, “vive nos livros mais do que em qualquer outro lugar”.
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