[ENTREVISTA] Banana Records: A visibilidade das minas na cena independente

[ENTREVISTA] Banana Records: A visibilidade das minas na cena independente

A difusão de selos independentes pelo país tem proporcionado um punhado de experiências marcantes na música nacional. A Banana Records é um desses exemplos — selo cearense, que nasceu na necessidade de propagar talentos locais de uma forma totalmente caseira, contando mais com o apoio de amigos e parceiros na produção e divulgação dos projetos. Uma das pessoas à frente do projeto é Nanda Loureiro, que vem deixando sua marca na produção cultural de Fortaleza. Além de produtora, a cearense também trabalha com assessoria de bandas e artistas, como Astronauta MarinhoCaio Castelo Marta Aurélia. Conversamos com a Nanda sobre o trabalho na cena independente e a produção feminina hoje.

DN – A Banana Records está completando um ano de trabalho no cenário independente de Fortaleza. Quais os planos para o selo no próximo ano?

Nossa meta – que mais preferimos chamar de sonho – é montar nosso estúdio/escritório/casa de show! Nesse primeiro ano ficou muito claro a necessidade de mais um espaço no circuito independente de música em Fortaleza, porque, apesar de termos espaços multiculturais lindíssimos como o Salão das Ilusões, por exemplo, nós sentimos que precisamos ocupar mais a cidade com música. Esse espaço abrigaria, além dos artistas do selo, bandas e produtores independentes que, assim como nós, buscam espaços que não os vejam como um empresário ou empresa. Além de, claro, termos cada vez mais vontade (e necessidade) de viver de música.

DN – Você entrou nesse meio musical antes mesmo dos 18 anos. Qual foi sua porta de entrada? E como diria que foi o seu crescimento pessoal aliado ao crescimento do selo período de vida?

Minha ligação sempre foi forte com a música, eu entendi que existe um mercado por trás disso acompanhando meus artistas favoritos. Essa ligação se estreitou quando conheci artistas de Fortaleza e, aos 13 ou 14 anos, me perguntava junto deles o motivo de não os valorizarem tanto quanto os artistas de fora, simplesmente por serem cearenses.

Foi mais ou menos nessa idade que comecei a me envolver com produção cultural e a me apaixonar pelo underground. Só mais tarde, aos 16, comecei a trabalhar ativamente com isso e por conta própria, o selo veio só alguns meses depois. A Banana Records me fez descobrir que não há dúvidas sobre o que eu quero fazer pelo resto da minha vida e é só em fazer música que eu acredito.

DN – Ser mulher e estar a frente de um selo mudou sua percepção do cenário musical atual? E o quanto este cenário mudou desde que você começou a trabalhar diretamente com o selo?

Mudou completamente. Sempre vi o cenário musical como algo acolhedor para mim, mas me vi sendo cada vez mais invisibilizada e diminuída em face dos homens que estão na mesma “cena”. Só descobri que aquilo não era ‘coisa da minha cabeça’ como diziam ser quando conheci outras mulheres que se sentiam da mesma forma, e vi essas mesmas mulheres terem cada vez mais voz. Isso não mudou porque o machismo deixou de existir, ele continua muito evidente, mas porque nós, as mulheres da música, passamos a acolher cada vez mais umas às outras e a criar espaços que dizem respeito apenas a nós — além de, claro, não aceitar e nos opormos a atitudes machistas.

DN – Ainda existe muita invisibilização das mulheres que trabalham por trás de tudo, como produtoras, técnicas de som, artistas visuais? Você acredita que as coisas estão melhorando?

Acredito que as coisas estão melhorando justamente por estarmos criando espaço e dando voz uma às outras, mas o machismo na música continua forte e vai continuar enquanto existir machismo no mundo. Eu passo pelas mesmas situações que passava há dois ou três anos, a única diferença é que outras mulheres me encorajam a não ficar calada diante disso. Continuo sendo invisibilizada porque os homens simplesmente não suportam ver mulheres tomando espaços que eram (pelo menos na teoria) exclusivamente deles, e aqui está o ponto da discussão: nós estamos tomando esses espaços que eram pra ser nossos desde sempre.

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DN – E quais são as maiores dificuldades enfrentadas pela produção feminina independente hoje? Existe maior receptividade ou ainda é preciso procurar maneiras de divulgação plena do trabalho feito por mulheres na música?

Viver de música no Brasil é difícil e temos mais um entrave já citado: o machismo. As mulheres não são estimuladas a fazer música, eu mesma, quando comecei, não tinha nenhuma referência dentro do meu circuito, eu só conhecia e via homens produtores (e esses nunca apoiavam o meu trabalho), e eu conhecia pouquíssimas bandas de mulheres de fora do underground.

Isso acontece ainda hoje: perdi as contas de quantas vezes li que ”quase não existem mulheres na música” e foi necessário fazer, junto da PWR Records, uma lista com mais de 400 nomes de girlbands brasileiras para provar que esse argumento é uma grande mentira, mas nós ainda temos que trabalhar o dobro ou o triplo que homens para não ouvirmos que nós somos piores.

Nanda Loureiro da Banana Records

Você pode acompanhar a Banana Records pelo Facebook para conhecer e saber novidades sobre o selo, lançamentos e shows, e ouvir todo o catálogo no Bandcamp.

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Aspirante a jornalista, carioca e apaixonada por música. Quando não está rondando os sebos de vinis e cds do Centro do Rio, está lendo, falando e escrevendo sobre essa paixão. Queria largar tudo e viajar na TARDIS com o Doctor.
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