[LIVRO] Coração Satânico: Entre muito sangue e cadáveres (Resenha)

[LIVRO] Coração Satânico: Entre muito sangue e cadáveres (Resenha)

Ler Coração Satânico é como entrar em uma seita ocultista desconhecida e, mesmo sabendo do perigo iminente que nos aguarda, continuar andando para o desconhecido. Este romance policial/investigativo escrito pelo autor William Hjortsberg e ressuscitado pela Editora DarkSide, traz a história do investigador Harry Angel que, ao ser contratado pelo enigmático Louis Cyphre, acaba descobrindo, entre muito sangue e cadáveres, que uma estrela de cinco pontas virada de cabeça para baixo, nem sempre é só uma estrela.  

Não contém spoilers

Antes de entrar na trama propriamente dita, é importante tecer alguns elogios à edição deste livro da DarkSide. Além da capa dura e em alto relevo, com uma ilustração magnifica, para não dizermos, talvez, diabólica, o livro traduzido pela Carla Madeira traz em si: uma Introdução; a história Coração Satânico; um posfácio (escrito pelo autor e contando detalhes interessantes sobre o processo criativo) e uma Carta de Stephen King direcionada para William Hjortsberg. O livro físico em si é a arte pela arte.

Coração Satânico

“Era sexta-feira 13, e a tempestade de neve de ontem permanecia nas ruas como um resto de maldição”.

É assim que começa a trama e é neste clima que ela permanece ao longo de suas 320 páginas envolvidas em sangue e magia negra, onde o autor usou assassinatos ao invés de vírgulas para pontuar a narrativa, levando quem o lê a acreditar, por ingenuidade ou soberba, que por um mera fração de segundos, entendeu onde a trama iria desembocar.

Hjotsberg brinca com a sanidade mental do detetive ao mesmo tempo que desafia a nossa, transformando-nos em escravos da leitura e, como que em um feitiço vodu, sua narrativa nos envolve e nos aprisiona com suas amarras invisíveis. Assim que começamos a ler, entendemos que não tem mais volta. Da mesma forma como Angel se viu diante de um caso em que ele não poderia mais desistir.

Caso este que, apesar de aparentemente simples, se torna a trama da sua vida. Angel nunca desconfiaria que ao ser contratado por Cyphre para encontrar o paradeiro do (ex)famoso músico Johnny Favorite, poderia se envolver em um mundo alimentado por rituais e sacrifícios onde coisas que até então ele não conhecia ou ate desacreditava, se mostrariam mais reais do que o gosto amargo do sangue escorrendo da sua boca, depois de ser espancado por querer saber demais sobre o que não era da sua conta.

Talvez esse seja o seu fim também, caso queria realmente ler este livro. Cabe a você decidir se quer ou não conseguir dormir à noite ou se vai arriscar tudo para descobrir o que Hjotsberg guardou para o final. Isso é tudo o que podemos dizer, pois acabamos de receber de “presente” um pé de galinha amarrado com uma fita preta. O sangue quente ainda escorre por ele e não nos traz boas notícias: falamos demais.

Coração Satânico

Por dentro da seita

Surpreendentemente, Coração Satânico se mostrou um livro um pouco mais evoluído do que muitos que abordam a temática de religiões não-cristãs. E mais, apesar de ser um livro escrito em 1978, que retrata um Estados Unidos (1959) pós Segunda-Guerra Mundial extremamente racista e xenófobo, não parece, ao menos nos baseando na personalidade de Angel, que aqueles eram os valores do autor, ao contrário do que encontramos nas obras de H.P. Lovecraft. Há um certo respeito na obra de Hjotsberg.

Cabe destacar que, para melhor descrever os rituais vodu na obra, além de um amplo estudo sobre o tema, o autor viajou para o Haiti a fim de estudar, de perto e ao vivo, a religião. Claro que, apesar de tentar retratar da melhor forma os rituais, o autor se utilizou de fantasia e misturou um pouco do que podemos chamar de rituais pagãos para apimentar a escrita, como ele mesmo afirmou no “Posfácio”.

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Representação feminina

Por outro lado, infelizmente, se o livro tivesse que passar por uma espécie de teste de Bechdel dos livros, seria reprovado. Em nenhuma parte dele as mulheres sequer interagem entre si, quanto mais preencheram os demais requisitos do teste. Poderíamos dizer que isso se dá porque o mesmo é narrado na primeira pessoa e o protagonista é um homem, mas estaríamos nos iludindo, não é mesmo? De qualquer forma, as duas personagens femininas da história, Epiphany Proudfood e Margaret Kruemark, deixaram suas marcas na obra. Se foram de sangue e, de quem foi o sangue, cabe a você descobrir.

Curiosidades

O título original do livro é “Falling Angel” (1978) e foi adaptado para os cinemas por Alan Parker em 198,7 recebendo o título de Angel Heart (no Brasil, o título foi traduzido para “Coração Satânico). O elenco do filme contou com Robert De Niro, Mickey Rourke e Lisa Bonet e possui uma nota de 7,3 no IMDB.

O interessante é que “Falling Angel” é um título que nos remeteria ao “anjo caído”, mais conhecido como Lúcifer. No entanto, o nome Coração Satânico ficou muito melhor e conseguiu fazer uma simbiose perfeita com a trama.

Coração Satânico

 


Coração SatânicoCoração Satânico

DarkSide Books

Autor: William Hjortsberg

320 páginas

Onde comprar: Amazon

Esse livro foi cedido pela editora para resenha.

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Escrito por:

51 Textos

Feminista e membra da União de Mulheres de São Paulo, onde é coordenadora adjunta do Curso de Promotoras Legais Populares, projeto voltado para a educação popular e feminista em direitos. É viciada em Lego, apaixonada por ficção científica/terror/horror, apocalipse zumbi e possui sérios problemas em procrastinar vendo gif’s e não lembrar o nome das pessoas. No mundo real é advogada.
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