[LIVRO] Abominação: Horror e Magia em uma história medieval (Resenha)

[LIVRO] Abominação: Horror e Magia em uma história medieval (Resenha)

Abominação é o primeiro livro de Gary Whitta, que é roteirista de cinema e jogos. A história sombria e cheia de gore não traz nada de novo, mas cumpre seu papel e é um entretenimento que vale a pena!

 Sinopse Oficial de Abominação

A era medieval é muito mais conhecida por seus mistérios do que por seus registros históricos. Talvez seja melhor assim. Há quem acredite que estaremos mais seguros enquanto não soubermos de toda a verdade. Mas quem disse que as lendas não podem ser mais reais do que você imagina? Abominação reconta um dos capítulos mais sangrentos da história da Inglaterra: as invasões vikings do século IX. Apresentando personagens e batalhas reais, sua narrativa vai muito além do que poderíamos encontrar nos livros de história. Com influências de Lovecraft a Game of Thrones, vem sendo recebido mundo afora como um novo clássico para fãs do gênero.

O reino de Wessex foi o único da Inglaterra que escapou dos invasores nórdicos. Seu rei, Alfredo, negocia um acordo com os bárbaros do Mar do Norte, mesmo sabendo que eles não são adeptos da paz. É preciso estar preparado, a guerra pode recomeçar há qualquer momento. O arcebispo da Cantuária oferece proteção ao reino, através de feitiços descobertos por ele em velhos pergaminhos. O rei só não poderia imaginar que a magia seria ainda mais perigosa que os próprios vikings.

Sobre o Autor

Gary Whitta fez carreira como roteirista de franquias famosas. Já escreveu jogos como Walking Dead: The Game e Halo 5: The Guardians. No cinema, escreveu O Livro de Eli e co-escreveu seu maior sucesso, o filme Rogue One – A Star Wars Story. Abominação foi primeiramente publicado via inkshares um site de financiamento coletivo onde as pessoas podem ler alguns capítulos de uma obra e comprar em pré-venda. Daí, uma vez que o título ultrapassa o valor mínimo para impressão de determinada quantidade, só então ele é publicado. Abominação foi escrito em 2015 e publicado agora em 2017 aqui no Brasil, pela DarkSide.

Abominação

A história parte do pressuposto de que a Idade Média, ou mais adequado neste sentido, a Idade das Trevas, foi um período cheio de mistérios e mágica, como fica claro na citação que precede o início do livro: “Consumida pela guerra feudal, a Europa mergulhou numa era de séculos de analfabetismo e desolação cultural a que poucos registros históricos sobreviveram.”Na mesma página há um mapa da Inglaterra e seus reinos.

A narrativa é dividida em duas partes. No início, acompanhamos Wulfric, o melhor guerreiro do reino, juntamente com seu amigo Edgard, o jovem monge Cuthbert e o Rei Alfredo com suas tropas em uma luta contra Aethelred e suas abominações, além dos vikings. Na segunda parte, Seguimos Wulfric e uma nova personagem, chamada Indra.

A leitura é fluida e interessante. Ao começar, queremos logo saber o desfecho da história e isso faz com que terminemos o livro rapidamente. Antes de iniciarmos a análise com spoilers, deixaremos algumas considerações importantes a quem deseja se aventurar nesta leitura. Primeiramente, na contracapa do livro é anunciado em caixa alta: VIKINGS, MAGIA E SANGUE. E há um problema aí. A participação dos vikings é ínfima e serve apenas como um brevíssimo pano de fundo da narrativa principal. Então, não espere ao ler esta obra algum personagem viking e muito menos algo da mitologia escandinava, pois pode se decepcionar.

Outra propaganda sobre Abominação diz que o livro contém influências de Lovecraft e Game of Thrones/R.R.Martin. Leitores fieis dos dois podem se decepcionar, pois a obra não contém aquele tom de pavor do desconhecido, do mal inominável e terror cósmico lovecraftiano e nem as complexas relações e a quantidade de personagens de Game Of Thrones (no entanto, as cenas violentas de Abominação são até mais brutais que as de Game of Thrones). Mas isso é o que menos importa, pois a obra tem seu valor em si e não necessita de comparações com bestsellers e clássicos. 

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O que, então, você pode esperar de Abominação?

Uma história clássica sobre monstros, magia e guerreiros ambientada na época medieval, cheia de lutas sangrentas (muito, muito sangrentas). Não há grandes revelações ou plot twists ao longo da leitura e um leitor mais atento pode imaginar todo o desfecho já na metade do livro. Não que isso impeça o prazer de ir até o fim. A história não se atenta tanto para localizações geográficas (o que torna o mapa do início um pouco obsoleto) ou detalhes históricos em excesso – e é por isso, talvez, que a leitura seja agradável e rápida. Enfim, como dissemos lá no início do texto, trata-se de um livro que cumpre seu papel e de um entretenimento que vale a pena!

Abominação
A jovem e destemida Indra enfrenta a Abominação pela primeira vez. Arte de Karl Lindberg.

Atenção! Daqui em diante: alguns Spoilers de Abominação

No início nós acompanhamos a caça, liderada por Wulfric, ao monge Aethelred e suas abominações. Nesta parte do livro os vikings aparecem ligeiramente, em batalhas rápidas usadas para contar a história do personagem principal. O que mais incomoda nesta parte do livro é Cwen, esposa de Wulfric. Ela é apenas um recurso narrativo, causa da motivação e sofrimento do personagem masculino. Uma mulher completamente estereotipada, sem nenhuma espécie de personalidade ou riqueza narrativa. Ela vive para servir ao herói e sua morte se torna o início do tormento de Wulfric. Então partimos para a segunda parte, 15 anos depois.

Após ser amaldiçoado por Aethelred (em uma passagem que mostra a origem do escaravelho que ilustra a capa da obra) e ter se tornado uma abominação que vaga pela noite causando destruição, Wulfric anda sem rumo, evitando contato humano e se amarrando a uma árvore com uma pesada corrente para impedir que a fera escape. De dia ele é apenas uma sombra de um ser humano, alguém que se mantém oculto o máximo de tempo possível.

Toda noite a Abominação toma conta de seu corpo e com ela chega a destruição de tudo o que estiver em seu caminho. Por isso, a solução que Wulfric encontrou foi se acorrentar a alguma árvore todas as noites. Assim, quando ele se transforma na Abominação, pelo menos fica preso e não faz mal a ninguém. Neste momento, é impossível não se perguntar o seguinte: se ele sofre o tempo todo pelo mal que causou no passado e não consegue conviver com isso, por que ele simplesmente não se mata? O que poderia parecer algum descuido narrativo, na verdade é muito bem explicado ao longo da história.

Abominação
Wulfric. Arte de Karl Lindberg.

Felizmente, nessa segunda parte temos uma personagem feminina de destaque. Trata-se de Indra, que fugiu de casa para tentar abater uma abominação e assim conseguir o respeito e um lugar na Ordem criada para guerreiros que perseguem as bestas pelo país. Com cerca de 15 anos, a jovem é destemida, muito habilidosa e caminha sozinha pelo interior em sua caça, tendo como companhia seu fiel falcão.

Indra é uma personagem feminina muito bem construída. Não tem nenhuma conduta que não condiz pela sua idade, não é sexualizada e nem nada do tipo. É uma garota séria, determinada e motivada por uma raiva intensa. Em determinado momento ela se encontra com Wulfric, sem saber que ele é na verdade o portador do mal que ela deseja destruir. A grande sacada do livro é como isso se revela aos poucos e como os dois se relacionam, até o desfecho final.

Outra característica interessante de Indra é sua crença quase inocente, no cristianismo. No sentido de ajudar ao próximo, não julgar e seguir os principais preceitos cristãos. Como a menina cresceu na Cantuária, palco das partes mais importantes e emocionantes da história, e é amiga de Cuthbert, monge do local, é natural que ela tenha essa crença. O modo como o autor mostra isso foi muito bem construído.

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Conclusão

Literatura é bem diferente de roteiro para cinema ou para jogos. Nesse sentido, Abominação é a primeira incursão de Gary Whitta nesta forma de arte. O resultado não decepciona, apesar de conter ferramentas narrativas básicas e um tipo de história que não traz nenhuma inovação ao gênero. Podemos ver Abominação como um exercício de escrita – um exercício que deu muito certo.

Esperamos que Gary Whitta possa escrever mais obras literárias, com qualidade cada vez melhor. Em Abominação temos guerreiros, guerras, masmorras, florestas, bandidos à espreita em vilas, ferreiros, tabernas, bestas/monstros… ou seja, coisas para nenhum fã de fantasia medieval botar defeito. Ainda é muito cedo para dizer que Abominação “é um novo clássico para fãs do gênero”. Mas podemos dizer, com mais acerto, que é uma nova obra que não fica muito atrás de nenhum clássico.

A edição da DarkSide

Por fim, elogiar qualquer edição da DarkSide é chover no molhado. Já sabemos que a editora da caveirinha tem um capricho enorme com todas as suas publicações, e com Abominação não foi diferente. O livro (com capa dura e fica de marcação) chegou em uma lata envolta em um selo, com um escaravelho e um pôster. Ao pegar a lata, apenas com o desenho de um escaravelho, temos a sensação de estarmos com algum artefato antigo e proibido em mãos, assim como os pergaminhos escritos em uma antiga língua e cheios de magia que criaram os monstros da história, as abominações.

Abominação


AbominaçãoAbominação

Autor: Gary Whitta

Tradução: Petê Rissatti

DarkSide Books

Onde comprar: Amazon

Esse livro foi cedido pela editora para resenha.

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Fundadora e editora do Delirium Nerd. Apaixonada por gatos, cinema do oriente médio, quadrinhos e animações japonesas.
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