[LIVROS] 1977 Enfield: Conheça o mais famoso caso de Poltergeist! (Resenha)

[LIVROS] 1977 Enfield: Conheça o mais famoso caso de Poltergeist! (Resenha)

Em seu prefácio escrito em 2011, Guy Lyon Playfair (um parapsicólogo, jornalista, escritor e tradutor britânico, nascido na Índia) dá algumas dicas sobre o que o leitor irá enfrentar ao longo de 1977 Enfield: encarar o sobrenatural presente no dia a dia de uma família comum, que poderia ser a família de qualquer um – e é nisso que o livro aposta: inculcar fenômenos que poderiam aparecer no seu cotidiano, vindos, aparentemente, de lugar nenhum.

Antes de entrarmos no conteúdo de 1977 Enfield, vale a pena mencionar como a DarkSide Books fez um admirável trabalho de edição e encadernação da obra, com papel de qualidade, boa diagramação das páginas, edição em capa dura, com folha de rosto personalizada, além de contar com fotografias e apêndices. No kit enviado pela editora para nós, vieram acompanhando o livro um crucifixo e um vidro de água benta, para aumentar o clima de paranormalidade presente na obra.

O caso do poltergeist de Enfield voltou aos holofotes após o filme Invocação do Mal 2 (2016), de James Wan, onde acompanhamos o casal de médiuns Ed e Lorraine Warren no local. Para quem gostou do filme, este livro é a chance de se aprofundar mais no assunto e saber detalhes sobre a história “real”.

1977 - Enfield

Escrito a partir de relatos detalhados do caso, uma das maiores preocupações do escritor é passar um ar de veracidade, apresentando o caso do poltergeist da família Harper o mais cientificamente possível, quase que como um relatório ou dossiê de investigação, sempre deixando ganchos para os próximos acontecimentos. É praticamente possível “ouvir” as testemunhas dos acontecimentos, já que ele escreveu de uma forma muito próxima ao que seria visto em um daqueles programas de investigação policial, onde as pessoas relacionadas ao caso dão entrevistas. Ele faz questão ainda de deixar claro como “todos os diálogos transcritos neste livro, com pouquíssimas exceções, são exatamente fiéis às gravações” (página 70). 

O autor tenta passar todos os dados necessários para pessoas não familiarizadas com o tema, explicando desde o que é um poltergeist, até o modo de trabalho dos investigadores de atividades paranormais, citando os nomes e métodos que considera mais relevantes. Ele cita a importância de Maurice Grosse e da Sociedade de Pesquisas Psíquicas (Society for Psychical Research, ou, SPR, na sigla em inglês), sociedade da qual ele e Grosse (que foi o primeiro investigador do caso) faziam parte, e onde tiveram o contato inicial que fez Playfair se interessar pelo caso que atormentava a família Harper.

Leia também:
>> [QUADRINHOS] DarkSide Graphic Novel: Editora inaugura selo de quadrinhos de terror e anuncia 3 títulos
>> [LIVRO] Abominação: Horror e Magia em uma história medieval (Resenha)
>> [LIVRO] Coração Satânico: Entre muito sangue e cadáveres (Resenha)

A família, composta pela mãe, Peggy Harper, e os filhos, Pete, Janet, Rose e Jimmy, sofreu por aproximadamente três anos de experiências paranormais: objetos sendo arremessados pela casa por forças invisíveis, poças d’água se materializando no meio dos cômodos, batidas que pareciam vir de todos os lugares e ao mesmo tempo de nenhum lugar específico, objetos e crianças (no caso, Janet, a pessoa que mais sofreu com todos esse fenômenos) se deslocando de um lugar para o outro de maneira inexplicável. Tudo isso é documentado por Playfair e Grosse nos mínimos detalhes.

Em mais de uma ocasião o autor cita suas experiências prévias, diversas delas no Brasil, onde ele atuou por diversos anos, junto ao Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiofísicas (IBPP), órgão que estuda atividades parapsicológicas aqui no país, e a estudiosos como o engenheiro e parapsicólogo brasileiro falecido em 2003, Hernani G. Andrade, Suzuko Hashizume, ex-presidente do IBPP e espírita, que trabalhou por muitos anos junto com Andrade. Segundo o próprio autor, Andrade “ensinara tudo o que [ele] sabia sobre pesquisa psíquica” (p. 42), e é por isso que ele até demonstra certa admiração à técnicas utilizadas aqui, como ele comenta ao falar sobre as possibilidades de lidar com o fenômeno presente em Enfield: 

“Se eu ainda estivesse no Brasil, poderia ter reunido meia dúzia de médiuns, que prestariam seus serviços de graça. Um deles provavelmente teria ‘incorporado’ o poltergeist, falando com a voz da ‘entidade’, enquanto os demais tentariam persuadi-lo a deixar o plano terreno e passar aos reinos superiores, que eram seu lugar. Isso podia ser uma grande bobagem, mas eu tinha muitos indícios que mostravam que tal abordagem funcionava. E, se funciona, por que não usar?”(p. 52).

É muito interessante como ele consegue conciliar, mais de uma vez, o sobrenatural e o método científico, sempre tentando decidir qual dos dois conseguiria auxiliar melhor os Harper em diferentes momentos da investigação, não dando mais valor a nenhum dos dois, consultando médiuns, pesquisadores do SPR, e recebendo opiniões de jornalistas e bem intencionados.

Leia também:
>> [LIVROS] Bom Dia, Verônica: Machismo e violência visceral (Resenha)
>> [LIVROS] Frankenstein: O monstro do machismo na vida e na obra de Mary Shelley (Resenha)
>> [LIVROS] “Ed & Lorraine Warren: Demonologistas” (resenha)

Antes de recebermos o livro, 1977 Enfield parecia ser diferente do que o descrito acima. Por causa de toda a divulgação feita pelo site da editora, das características editoriais do livro e do kit enviado pela DarkSide (parecia que em algum momento durante a leitura, a leitora ficaria tentada a usar a água benta e o terço para se proteger de uma força invisível, saída de um livro relatando um caso que passou na Inglaterra nos anos 70), o livro foi divulgado como algo próximo a um terror investigativo, com os relatos fantasmagóricos presenciados por um estudioso do tema, mas é um pouco difícil ficar com medo quando as descrições feitas no livro são tão matematicamente precisas: centímetros e metros do movimento feito por uma peça de lego são descritos minuciosamente, com a intenção de que a leitora acredite na veracidade dos acontecimentos.

Essa descrição tão precisa pode acabar causando o efeito oposto: quanto mais o autor quer que a leitora acredite cientificamente na presença do poltergeist de Enfield, mais uma mente científica pode avaliar como esses dados são duvidosos. Não que alguém com formação científica não possa ou deva acreditar em fantasmas, poltergeists e fenômenos sobrenaturais, mas as circunstâncias de leitura que podem criar uma leitora cética, que provavelmente ficaria com muito mais medo (e, por consequência, acreditaria mais em Playfair), se o livro apresentasse seus relatos de maneira diferente, com a intenção de criar uma atmosfera de verdadeiro terror. Deve-se, porém, levar em conta que esta não era a intenção do autor, como muito bem colocado por ele:

“Escrevo o que vejo diante de meu nariz, ou o que desenterro em bibliotecas, ou o que me contam pessoas em quem confio. Inspiração de fontes desconhecidas talvez entre nisso, mas de jeito nenhum imaginação!” (p. 253) .

Para quem quer um livro guia sobre atividades paranormais (acreditando ao não na existência de fenômenos sobrenaturais) ou quer somente se aventurar em uma investigação na qual o culpado nunca será realmente um culpado, o 1977 Enfield é uma boa pedida, mas se você está atrás de um pouco de terror, sugiro dar uma olhada em outros do catálogo da editora.

Lançamentos e Descontos de Livros na Amazon


1977 Enfield1977 – Enfield

Autor: Guy Lyon Playfair

Tradução: Giovanna Louise Libralon 

DarkSide Books

272 páginas

Onde comprar: Amazon

Esse livro foi cedido pela editora para resenha.

Conheça as obras da editora Darkside Books: Site OficialFacebookOnde comprar

Escrito por:

16 Textos

Bat-fã, que ama cachorros, quadrinhos, chocolates e coisas velhas. Formada em História pela Universidade de São Paulo; tem como metas de vida trabalhar com arquivo histórico e HQs (de preferência ao mesmo tempo), e convencer sua irmã mais velha de que a Canário Negro venceria em um combate corpo a corpo contra a Caçadora.
Veja todos os textos
Follow Me :