Orange is The New Black: o que a série tem a ver com o sistema prisional brasileiro?

Orange is The New Black: o que a série tem a ver com o sistema prisional brasileiro?

Orange is the New Black teve uma ótima primeira temporada que, apesar de já se passar na penitenciária feminina de Lintchfield, ainda não estava madura o suficiente para abordar de forma crítica as questões relacionadas ao sistema penitenciário americano (como fez nas demais temporadas). Assim, a primeira temporada se resumiu à contar a história da Piper, uma mulher de classe média que acabou sendo presa e estava tentando sobreviver dentro daquela nova realidade.

[Contém spoilers da 4ª temporada de OITNB]

A ironia aqui é que quando vemos os perrengues que a Piper passou, temos, de certa forma, dó dela. Como se no nosso imaginário fosse “mais difícil” para ela sobreviver àquilo. O que nos leva a afirmar, ainda que inconscientemente, que outros grupos sociais que não fossem aquele que ela representa, tivessem mais “facilidade” de sobreviver àquele lugar. O que por si só é um preconceito enraizado em nosso imaginário.

Ao longo das suas 5 temporadas, a série aborda questões LGBT, raciais, sociais e de classes. Além disso, a série humaniza as mulheres encarceradas e, até quando isso não é possível, mostra o quão a “vida” pode ser dura ao ponto de retirar toda a humanidade de alguém, que, por sua vez, reproduz o mesmo ciclo de violência. 

Orange is The New Black

OITNB nos faz refletir e nos leva a ver que, infelizmente, ainda que em grau diferente, nós e os EUA temos enfrentado as mesmas questões quando se trata da luta por direitos sociais e civis, com alguns graus de diferença, claro, mas com muitas semelhanças. O que nos permite, então, termos empatia.

De todos os temas de suma importância que foram abordados direta e indiretamente na série, a questão da situação do sistema penitenciário foi um dos nos chamam mais atenção. Isto porque, ainda que no Brasil nosso sistema seja gerido, em grande parte, pelo governo, há uma grande onda conservadora que visa a privatização dos presídios como se esta fosse a solução para nosso problema de encarceramento em massa, reincidência criminal e gastos públicos.

Orange is The New Black

Vale destacar que o papel do Direito Penal é atuar em última instância e que a função do Sistema Penal é a de ressocializar o(a) preso(a). Mas nós sabemos que não é isso que acontece. Longe de adentrar na discussão da diferença entre justiça x vingança, ou de responder perguntas do tipo “se matassem seu filho ou estuprassem você, duvido que estaria escrevendo este texto”, é importante entendermos que, independentemente de qualquer coisa, vivemos em um Estado Democrático de Direito e a função dos presídios e penitenciárias não é ser um purgatório ou inferno onde as pessoas serão castigadas eternamente pelos seus pecados. Queremos que “paguem” sim, pelo que fizeram, mas que saiam de lá pessoas aptas a conviver em sociedade e mais, com possibilidade para tanto.

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É importante também destacar que, quando pensamos em quem é o(a) preso(a) no Brasil, nos encontramos diante de uma vil realidade, onde pessoas pobres e negras são encarceradas, enquanto pessoas brancas e classe média possuem tratamentos diferenciados, como o do Roger Abdelmassih ou ainda de Adriana Ancelmo, quando sabemos que a concessão de prisão domiciliar para mulheres grávidas ou com filhos pequenos é rara.

Assim, ao assistir OITNB, além de termos um momento de lazer, temos também a oportunidade de fazermos sérias reflexões: Queremos que as nossas “Poussey Washington” tenham o mesmo fim da personagem? Quantas empresas como a MCC não temos/teremos no Brasil? Quando vamos encarar o problema das drogas como uma questão de saúde pública e não de segurança pública? Mas acima de tudo, devemos nos questionar: Será que nos importamos com tudo isso?

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51 Textos

Feminista e membra da União de Mulheres de São Paulo, onde é coordenadora adjunta do Curso de Promotoras Legais Populares, projeto voltado para a educação popular e feminista em direitos. É viciada em Lego, apaixonada por ficção científica/terror/horror, apocalipse zumbi e possui sérios problemas em procrastinar vendo gif’s e não lembrar o nome das pessoas. No mundo real é advogada.
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