[LIVRO] Bem Vindo à vida Real: Video game, vício e as muitas realidades (Resenha)

[LIVRO] Bem Vindo à vida Real: Video game, vício e as muitas realidades (Resenha)

Videogames são nocivos? O que fazer quando se vive mais tempo no virtual que no real? E quando finalmente você começa a sair do virtual, mas simplesmente te empurram de cara no real a força? Essa é a vida de Jaxon em Bem Vindo à Vida Real, primeiro romance de Christian McKay Heidicker, que aborda o tema do vício em jogos virtuais – mas também é possível destacar muito mais do que esse problema atual e tão debatido atualmente, que é o digital versus o real. Lançado pela Intrínseca no país, o livro segue um formato bem padrão da editora, com páginas polén e papel cartonado na capa, com cobertura fosca e orelhas. A obra tem diversas referências ao nosso universo gamer e geek.

Sinopse:

“Jaxon passa todo o tempo livre – e até o que deveria estar ocupado – na frente do computador, jogando com outros gamers on-line. Duzentas e cinquentas horas por mês, para ser mais exato. Até que um dia, quando sai para levar o carro do pai a um lava jato, ele conhece Serena e consegue garantir seu primeiro encontro com uma garota de carne e osso. O problema é que minutos depois ele é levado para a Vídeo Horizontes, uma clínica de reabilitação para viciados em videogame. Lá, Jaxon vai ter que conviver com outros jogadores em tratamento e aprender habilidades úteis na vida real até acumular 1 milhão de pontos em tarefas do dia a dia. Como Serena não tem celular nem perfil no Facebook, Jaxon tem quatro dias para atingir a pontuação e ter alta da clínica.
E ele fará de tudo – mentir, trapacear, trair e até mesmo aprender a bordar – para alcançar seu objetivo. Mas, se nenhum desses macetes der certo, talvez Jaxon precise, enfim, se abrir de verdade, confrontar a ausência da mãe e, quem sabe, admitir para si mesmo que não é apenas a fissura pelos games que o impede de se conectar com o mundo à sua volta.

Um livro ao mesmo tempo divertido e comovente, Bem-vindo à vida real é uma história repleta dos dilemas e urgências da existência humana, com personagens apaixonantemente desajustados e entremeada de referências que são verdadeiros easter eggs plantados carinhosamente pelo autor – fissurado por ciências e Final Fantasy, Zelda, Mario Kart, Diablo, Dark Souls…”

Game Start

Bem Vindo à vida Real
“Está um dia lindo. Eu gostaria que fosse jogar lá fora”

O estilo narrativo é muitíssimo próximo ao de grandes obras voltadas para o público teen, como saga Crepúsculo ou Percy Jackson, com senso de humor tipicamente norte-americano. Sem dúvida consegue pegar adolescentes e jovens adultos sem problemas, enquanto faz refletir acerca do quanto é excessivo o uso dos eletrônicos e a própria psique humana.

Os personagens abrangem os mais diversos tipos físicos e culturais, apesar de pecar em seu protagonista ser o típico esteriótipo do nerd gordinho e “tetudo”. A obra possui personagens baixos, magros, atléticos, asiáticos e até com algum problema congênito.

Quanto a abordagem, apesar de um ótimo alarme ao excesso dos jogos, ele também frequentemente parece demonizar eles, se por recurso ou não, é uma sensação constante.

É um livro ideal para ser dado tanto ao jovem (e provável gamer viciado) quanto também uma leitura mais que obrigatória aos pais que desconfiam que seus filhos estão imersos (ou não) nos games, pois há uma critica sutil ao arranjo familiar que frequentemente negligencia aos jovens; muitos casos ali são obviamente muito melhores de serem resolvidos numa conversa franca que apenas que numa clínica de reabilitação (ou até mesmo casos para outros tratamentos como os focados em amor demais ou violência propriamente ditos).

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A maioria dos que estão na v-heab ali não são jogadores compulsivos por se acharem menos capazes para viver em sociedade, como a clinica prega, mas apenas crianças e jovens que foram negligenciados pela família, como o próprio protagonista e Sopa.

Um fato muito bem construído no livro é mostrar que não há heróis, todos são vilões também, independente de seu vício ou não, mostrando as trapaças e humilhações que Jaxon é capaz de fazê-lo por sua querida Serena, mostrando as decepções e idealizações dolorosas do mesmo.

O livro termina de forma mais aberta, mostrando que você que se encontra numa situação como a do protagonista pode mudar suas atitudes nocivas e crescer, mas terá de conviver com os erros que cometeu também.

Character select

Bem Vindo à Vida Real

Como dito, a obra está recheada de todos os tipos de personagens. Jaxon, que usar o nickname de Miles Prowder na clínica, é como dito acima, o estereótipo do nerd gamer, e apesar de a príncipio te fazer torcer por ele, logo ele se mostra mesquinho e egoísta, além de ser o mais problemático. Mesmo com todos ali lhe dando apoio, ele simplesmente passa por cima e frequentemente engloba os demais parceiros de guilda onde ele foi colocado.

Meeki é a asiática e de temperamento mais violento, decididamente lésbica (pontuando isso logo no primeiro encontro de Jaxon com a guilda). Apesar do gênio difícil, ela tem bem mais noção de realidade que o protagonista.

Aurora é a doce menina tímida que vive um relacionamento abusivo com o namorado, Max, que é um gamer compulsivo. Como toda pessoa presa a um relacionamento abusivo, ela sempre buscou atenção do namorado que a ignorava para jogar. Sem amor próprio, Aurora entra no mundo dos jogos apenas para estar junto dele, ainda que virtualmente, fazendo seus pais acharem-na uma jogadora compulsiva, mas a realidade é que ela precisa de outra ajuda, mas aparenta estar evoluindo e desintoxicando.

Sopa é um garoto pré adolescente que perdeu o irmão mais velho e aparentemente ignorado pelos pais (como apenas temos a visão contada por ele, não é possível saber perfeitamente), onde joga um jogo de pet virtual para aplacar o vazio. Ele é um garoto tão carente que simplesmente gruda em Jaxon, agindo como um escravo as vontades do protagonista, ajudando-o a trapacear muitas vezes, mas também trapaceando para forçar o garoto a ficar.

Zxzord é o menos ativo na trama, aparentemente viciado em drogas reais, acaba indo parar na v-heab pois fingia jogar para se drogar, segundo ele. Passa mais tempo isolado e dormindo que de fato interagindo.

Fezzik é o gigante gentil e líder da guilda, é bem humorado e sensato, agindo como um bom irmão mais velho e sendo o maior alerta para o protagonista em sua obsessão pela Serena, tendo uma das falas mais certeiras sobre o caso e comparando a romantização de Jaxon e a fase “lua-de-mel” dos relacionamentos com o principio básico de muitos jogos, o de salvar a princesa na torre. Fezzik foi um gamer compulsivo e uma lenda viva do jogo predileto de Jaxon.

O mapa

Bem Vindo à vida Real
A clínica Vídeo Horizontes, onde se passa a trama, é uma “v-heab”(clínica de reabilitação de videogames) que usa o tratamento de forma semelhante a um game. O dono da clínica, a propósito, nunca jogou nada (o que sinceramente soa extremamente duvidoso). Dividida em 4 níveis, onde o “jogador” precisa atingir um milhão de pontos para sair da clínica.

Cada atividade, alimentação saudável e outras atividades que promovam socialização e habilidades rendem pontos de experiência. O “jogador” mais rápido saiu em 2 semanas, mas por ser um ex atleta, a pessoa fazia muitas atividades físicas (que mais rendem pontos), o que torna a “quest” de Jaxon quase impossível.

Game over

Bem Vindo à Vida Real

Apesar de ser um livro bem “comum” em termos gerais, ele vale como um extra nos status de sabedoria pessoal e como um alerta sutil. Obviamente é uma obra sem selo de teste de Bechdel (com protagonismo masculino e sem grande desenvolvimento de personagens femininas), mas vale para uma leitura para aquela tarde chuvosa e preguiçosa.


Bem Vindo à vida Real

Bem Vindo à vida Real

Christian McKay Heidicker

Editora Intrínseca

este livro foi cedido pela editora para resenha

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