[LIVRO] O Pintassilgo: O premiado romance de Donna Tartt (Resenha)

[LIVRO] O Pintassilgo: O premiado romance de Donna Tartt (Resenha)

O Pintassilgo é o terceiro romance escrito pela premiada autora americana Donna Tartt, de “A História Secreta” e “Amigo de Infância”. O livro, que recebeu o prêmio Pulitzer em 2014, conta a história do jovem Theodore “Theo” Decker, um jovem nova-iorquino que perdeu a mãe de forma repentina em um atentado terrorista ao Museu Metropolitano de Arte, onde ele e a mãe procuravam passar o tempo antes de uma estressante reunião com os diretores da escola onde Theo estudava.

O primeiro capítulo do livro é dedicado quase que exclusivamente a descrever o atentado à bomba. A descrição de Tartt é bem gráfica e coloca facilmente a leitora dentro da situação desesperadora na qual Theo se encontra. É por conta dessa desorientação que o garoto acaba levando para casa uma das obras em exposição do museu; uma pequena pintura de um pintassilgo preso pela pata a um galho de árvore, parte da coleção de um mestre holandês sobre a qual sua mãe o ensinava momentos antes da explosão. Esse quadro acaba se tornando uma obsessão para Theo após a morte de sua mãe, e vai definir todo o caminho tomado pelo protagonista na década seguinte. 

O Pintassilgo é principalmente um romance de aprendizagem, mas flerta bastante com os thrillers de mistério reforçado pela narrativa de Donna Tartt, que lembra bastante os romances ingleses do século XIX. Conforme acompanhamos nas mais de setecentas páginas do livro as consequências das decisões de Theo, movidas pela sua dificuldade em lidar com a perda da mãe e pela entrada súbita na vida adulta em um momento de dor e extrema violência, encontramos a questão do valor que damos às coisas, às pessoas e às experiências de nossas vidas (são todas as experiências que valem algo no fim das contas?) como temas recorrentes que acabam rendendo uma boa reflexão quanto ao valor da arte para as nossas vidas.

Em uma das melhores sequências de O Pintassilgo, que se passa nos bastidores do contrabando de obras de arte cujo valor não pode ser medido, logo, não podem ser comercializadas, discute-se a importância da arte e da beleza. O mesmo conceito pode ser aplicado às pessoas através da personagem Pippa, que também estava presente na explosão do museu e que acaba criando um laço com Theo a partir da dor de ambos.

O Pintassilgo
“A arte é a nossa única salvação do horror da existência”

Assim como o Pintassilgo, Pippa é para Theo um lembrete de seu sofrimento, mas ao mesmo tempo ele a ama e a valoriza acima de todas as outras pessoas, mesmo que prefira manter a distância o que nos leva a outro tema encontrado no livro: a superação do luto. Mesmo estando cercado de pessoas, muitas boas e outras ruins, Theo é uma pessoa muito solitária. A partir da morte da mãe, toda a vida tranquila e segura que ele conheceu desapareceu, e ele se vê preso em uma vida com a qual ele não sabe lidar e não compreende totalmente; assim como o pássaro preso no galho da pintura que dá nome ao livro, que só pode sonhar com a memória de suas asas livres ao vento.

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Donna Tartt levou uma década para completar o trabalho em O Pintassilgo e esse esforço fica evidente conforme avançamos pela história. Sua habilidade narrativa é evidente e seus personagens são bem trabalhados, mas nem tudo são flores. Algumas passagens do livro são realmente cansativas, devido às densas descrições em sequência, que não acrescentam nada para a história, como longas explicações sobre processos de restauração de mobília; o plot fica tão complexo a ponto de muitas situações parecerem irreais, o que foi uma das maiores críticas que o livro recebeu antes de ser premiado. 

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Também é importante falarmos um pouco de um personagem em particular: Boris, um amigo que Theo conhece quando se muda para a casa do pai e da madrasta. Boris é aquele personagem que só pode existir na ficção e carrega pesados estereótipos do que o ocidente acredita ser um cidadão do leste europeu (pelo menos ele não se chama Ivan), como uma enorme paixão pelo álcool e pelas drogas, pais ricos, porém abusivos, contatos no submundo das drogas e do contrabando, mas que também possui uma grande inteligência, fala várias línguas e lê Dostoievski no idioma original. Mesmo sendo um dos personagens mais interessantes do livro, ele não é caracterizado de forma realista como Theo ou Pippa.

O livro merece muitos dos elogios que recebeu desde a sua publicação, mas é melhor que a leitora abaixe um pouco suas expectativas antes de iniciar a leitura para não se frustrar e abandonar a leitura no meio do caminho.
A título de curiosidade: O Pintassilgo é um quadro pintado em 1654 pelo holandês Carel Fabritius, pupilo de Rembrandt, e se encontra hoje na Royal Picture Gallery of the Hague. Ele nunca foi roubado, assim como o Museu Metropolitano de Nova York nunca foi bombardeado. 


O Pintassilgo

O Pintassilgo

Autora: Donna Tartt

792 páginas

Companhia das Letras

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Este livro foi cedido pela editora para resenha.

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46 Textos

Formada em Comunicação Social, mãe de um rebelde de cabelos cor de fogo e cinco gatos. Apaixonou-se por arte sequencial ainda na infância quando colocou as mãos em uma revista do Batman nos anos 90. Gosta de filmes, mas prefere os seriados. Caso encontrasse uma máquina do tempo, voltaria ao passado e ganharia a vida escrevendo histórias de terror para revistas Pulp. Holden Caulfield é o melhor dos seus amigos imaginários.
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