Mulheres na história da fotografia documental: Dorothea Lange

Mulheres na história da fotografia documental: Dorothea Lange

A presença feminina na fotografia já foi bastante escassa – assim como em todos os ramos culturais, profissionais e políticos – mas quase sempre existiu e tem crescido cada dia mais. O reconhecimento da relevância e influência das mulheres na história fotográfica, entretanto, permanece muito à sombra do vivenciado pelos homens.

Fotógrafos do sexo masculino são comumente citados em incontáveis listas de referências. Nomes como Henri Cartier-Bresson, Sebastião Salgado e William Eggleston foram eternizados e são amplamente conhecidos mundo afora. O mesmo não acontece com grande parte das inúmeras fotógrafas incontestavelmente geniais, que fizeram contribuições marcantes não só para a arte, como também para a história.

A lista de mulheres extremamente talentosas nos diversos gêneros da fotografia é imensa e não devidamente popular. Sabendo disso, o Delirium Nerd resolveu fazer uma seleção de fotógrafas que se destacam por suas maneiras particulares de observar o mundo, e que foram e ainda são responsáveis por retratar e fazer críticas à dura realidade vivenciada por minorias e populações em situações miseráveis. Começaremos falando da trajetória e pensamentos de Dorothea Lange.

“Escolha um tema. Trabalhe-o até a exaustão. O assunto deve ser algo que você verdadeiramente ama ou odeia.”

Dorothea Lange

Dorothea Lange

Dorothea Lange (1895 – 1965) foi uma das mais renomadas e influentes fotógrafas do século 20. Ficou especialmente conhecida por documentar os impactos da Grande Depressão dos EUA, na década de 1930, tendo uma grande parte de seu acervo confiscada pelo governo americano. Lange, mesmo após a grande crise, mostrou-se sempre interessada em fotografar assuntos de cunho social e relacionados à pobreza e miséria, e tinha um desejo muito grande de contribuir com uma mudança efetiva no mundo através de seu trabalho.

Mulheres na história da fotografia documental

A fotógrafa nasceu numa família de classe média no estado americano de Nova Jersey. Tinha pais muito ligados a temas culturais e foi, durante seus primeiros anos de vida, constantemente apresentada a assuntos relacionados à arte e à literatura.

Aos 7 anos de idade, Dorothea contraiu Poliomielite – a doença que enfraqueceu sua perna direita e que, segundo a própria artista, fez com que tudo em sua vida mudasse, sendo o marco responsável por singularizar muitos dos acontecimentos ocorridos posteriormente em sua caminhada – e cinco anos depois, quando seu pai abandonou a família, mudou-se com sua mãe e irmão para Nova York.

Em 1912, aos 17 anos, Lange obteve seu primeiro emprego como assistente do fotógrafo Arnold Genthe, lançando em 1916 sua carreira como fotógrafa de retratos. No ano seguinte, participou de um curso de fotografia na Universidade Columbia e montou seu primeiro quarto escuro no galinheiro de sua casa. Nos anos posteriores, mudou-se para São Francisco, montou seu próprio estúdio fotográfico e se casou com o pintor Maynard Dixon, com quem teve dois filhos. 

Foi no final dos anos 20, com o início da Grande Depressão, e durante toda a década de 30, que a fotógrafa passou a se interessar menos por retratos e estúdios e mais pela fotografia jornalística e documental, incluindo aí um relato de todas as questões sociais que essas fotos inevitavelmente traziam consigo. Foi também nesse período que ela obteve maior reconhecimento e teve suas fotos expostas em diversos ambientes e cidades, sendo chamada para trabalhar na Farm Security Administration (FSA), uma instituição criada com o intuito de lutar contra a pobreza rural.

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Suas imagens foram distribuídas em múltiplos jornais por todo o país e algumas são hoje mundialmente conhecidas. A fotografia mais icônica de Dorothea é “Migrant Mother“, de 1936, que retrata a imigrante Florence Thompson, aos 32 anos, com três de seus filhos. Segundo Lange, a camponesa parecia saber que aquela foto poderia ajudá-la de alguma maneira.

Dorothea Lange

Um ano antes de capturar sua imagem mais famosa, Dorothea Lange se divorciou de Dixon e se casou com o economista Paul Schuster Taylor, com quem trabalhou na execução de vários projetos. 5 anos depois foi contratada pela War Relocation Autority (WRA) e durante um período de 3 anos documentou a comunidade japonesa que vivia em campos de concentração na Califórnia durante a Segunda Guerra Mundial. Após receber muitos prêmios e participar de inúmeros outros projetos, a artista faleceu em 1965, vítima de câncer no esôfago, e até hoje é considerada uma das fotógrafas mais importantes de todos os tempos.

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Admiradora de tudo que envolve arte, cultura (especialmente a japonesa) e filosofia. Mãe de dois gatos, feminista e vegetariana. Em seu tempo livre descobre bandas inexploradas, fotografa e tenta desvendar a personalidade MBTI alheia (é INFP, por sinal). Considera The Office o ápice da humanidade.
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