The Tatami Galaxy: a loucura de uma segunda chance

The Tatami Galaxy: a loucura de uma segunda chance

Baseado na novel de Tomihiko Morimi publicada em dezembro de 2004, The Tatami Galaxy é uma  adaptação de 11 episódios de 2010 traz para as telas uma comédia slice of life divertida e altamente dinâmica, que nos impede de dar sequer uma piscada com medo de perdermos o menor momento que seja dessa pequena obra prima.

Não é a toa, adiantamos, que o anime teve uma continuação cinematográfica, que indicamos aqui, já que o modo como ele foi construído e adaptado conseguiu capturar o sentimento da novel e ainda aumentar o surrealismo presente na mesma.

The Tatami Galaxy
“É um mundo pequeno, sabia?”

A história é a seguinte:

“Em uma noite de outono, em um misterioso stand de ramen atrás do santuário de Shimogamo, um solitário universitário do 3º ano encontra com um homem, com cabeça em forma de beringela, que se denomina o Deus do Matrimônio. Esse encontro faz o estudante refletir sobre seus últimos dois anos na faculdade – dois anos majoritariamente passados em tentativas de separar casais com seu único amigo, Ozu, um homem parecido com um demônio aparentemente decidido a fazer da sua vida a mais miserável possível. Ao resolver tirar o máximo do resto de sua vida de universitário, o estudante tenta convidar para um encontro a anti-social, mas gentil, estudante do 2º ano Akashi, mas falha, o que causa seu arrependimento em não viver a sua vida universitária de forma diferente. Assim que pensa nisso, porém, ele volta no tempo e espaço para o início de seus anos na faculdade e lhe é dada outra chance de viver a dua vida.”

Ao lermos essa premissa, pensamos: “Ok, já vi vários animes assim, qual a diferença desse?” A diferença de The Tatamy Galaxy talvez não esteja exatamente em sua premissa inicial, mas justamente na forma com que o enredo é construído ao redor da mesma.

Além da segunda chance dada ao protagonista, que não tem seu nome revelado, sendo identificado como Watashi,  o que aumenta o mistério da trama, cada episódio traz uma nova narrativa que se desenvolve ao redor da principal e, no mais, nos faz adentrar ainda mais na história e sermos cada vez mais fisgadas pelo dinamismo apresentado ao longo dos 11 episódios que formam o anime.

The Tatami Galaxy
O protagonista, Watashi

Dirigido por Masaaki Yuasa e produzido pelo estúdio Madhouse, responsável por clássicos como Paprika (2006) e Crianças Lobo (2012), o anime mistura com propriedade o traço característico e diferenciado de Morimi, com o dinamismo e genialidade de Yuasa – com a ajuda de Madhouse – trazendo para o público uma nova experiência em ilustração e na forma de apresentação do enredo da história, sendo impossível para nós ousarmos piscar sem corrermos o risco de perder uma parte da narrativa.

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A cada episódio, o protagonista escolhe um rumo diferente para sua vida universitária, seja indo para o clube de cinema, de tênis ou a um clube secreto, e a cada escolha há uma nova chance para o mesmo atingir seu objetivo final de aproveitar mais sua vida universitária e, assim, ficar com a protagonista feminina do anime, Akashi. A questão, porém, é que a cada nova escolha e plano traçado pelo protagonista, algo dá errado e, também, não termina como planejado.

The Tatami Galaxy
Watashi e Akashi

Essa odisseia narrativa de Watashi é construída, além da bela e distinta ilustração, por diálogos inteligentes e rápidos, tão rápidos, entretanto, que até fica difícil acompanhar as legendas, tornando The Tatamy Galaxy um alvo constante de desistências pelo público. Ação que consideramos um erro, tamanha são as qualidades gráficas, narrativas e questionadoras do anime. A arte é tão boa que, inclusive, ganhou o prêmio Japan Media Art Festival, tendo sido isto um feito inédito para uma série televisiva.

Quando vemos que o protagonista tem a possibilidade de voltar ao início, mais uma vez, é que descobrimos, então, que a segunda chance primária não foi uma situação única na vida dele, já que esta se repete ao longo dos episódios do anime enquanto o protagonista não atingir seu objetivo final.

Apesar dessa estrutura de loop constante, e (aparentemente) sem fim, da história, o anime consegue apresentar uma nova sub-narrativa a cada episódio que, ao final, se une sobre a premissa inicial da história de Watashi, impedindo que a narrativa – salvo em algumas cenas duplicadas – se torne repetitiva e monótona.

Tais sub-narrativas se dividem entre os mais diversos temas, como amizade, amor, a passagem do tempo, entre outros, mas, entretanto, sem nunca se afastar completamente da premissa principal e universal do anime: o arrependimento.

The Tatami Galaxy
“Claramente conhecer Ozu foi o meu maior erro.”

É por esse sentimento que Watashi exterioriza o seu desejo de voltar ao início de sua vida universitária, dia após dia, e é esse sentimento que nos une, irremediavelmente, ao relato do protagonista.

Afinal, o que você faria se tivesse uma segunda chance para fazer diferente? E várias segundas chances? Apenas essa ínfima, e improvável, possibilidade que temos de uma segunda chance como Watashi, de reviver quase toda uma vida, já é capaz de nos aproximar do personagem e nos fazer questionar sobre o velho “e se…?“.

The Tatami Galaxy

Tal questionamento se faz presente durante todo o anime, passando, entretanto, de simples presença – combinada com os demais temas dos episódios – para protagonista da narrativa nos últimos capítulos, aumentando a sensação de angústia e dúvida de Watashi e, também, de nós, telespectadores.

Dito isso, The Tatami Galaxy é uma boa escolha para aqueles que desejam sair um pouco do ciclo de animes blockbuster e se arriscar em um de gênero mais cult e underground, em que os questionamentos tanto sobre o enredo quanto sobre nossas próprias vidas são tão fáceis quanto constantes.

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