[QUADRINHOS] Os Contos do Cão Negro: Conheça a HQ indicada ao prêmio HQMix

[QUADRINHOS] Os Contos do Cão Negro: Conheça a HQ indicada ao prêmio HQMix

Imaginem três escritores entrando em um bar e se sentando juntos à uma mesa: Eles são Bernard Cornwell, Robert E. Howard e H.P. Lovecraft. Não é o começo de uma piada sem graça, mas é uma boa forma de explicar o que poderia ter originado a ideia para Os Contos do Cão Negro, Graphic Novel de César Alcázar e Fred Rubim que conta com dois volumes até o momento: “O coração do Cão Negro” e “A canção do Cão Negro”; ambos lançados pela Editora AVEC e que receberam indicações para o prêmio HQ MIX desse ano nas categorias de Melhor Adaptação para Quadrinhos e Melhor Roteirista Estreante.

Os contos do Cão Negro

Coração do Cão Negro

No primeiro volume dos Os Contos do Cão Negro conhecemos o guerreiro irlandês Anrathde Connacht, também conhecido como o Cão Negro de Clontarf, em homenagem à batalha que lutou ao lado do inimigo de seu povo, os invasores do norte, também conhecidos como Vikings.

Sendo reconhecido como um traidor entre o próprio povo, Anrath ganha a vida como um mercenário, fazendo trabalhos que ninguém mais aceita, sendo o mais recente deles recuperar o amuleto conhecido como o coração de Tadg a chave para um mistério milenar escondido nas ilhas do norte.

É difícil não lembrar de “A espada selvagem de Conan” quando se lê “Os Contos do Cão Negro”, mesmo que a temática das duas obras não seja exatamente a mesma (Anrath é bem menos falante que Conan também), pois muito da cultura das HQs Pulp está presente nas páginas da Graphic Novel, entretanto, ao mesmo tempo em que ocorre a homenagem, vemos uma narrativa moderna, com pouco uso de recordatórios e muitas páginas de silêncio (sem balões), o que nos leva a crer que Cesar Álcazar entendeu muito bem o conceito de Show, don’t tell  recomendado a qualquer escritor para que permita que o leitor explore a história e os personagens sozinho, sem ser guiado por diálogos ou recordatórios que mais parecem bula de remédio com indicações do que se deve entender, ou sentir.

Os contos do Cão Negro

O primeiro volume funciona mais como uma introdução ao personagem e às regras de seu universo, que pode parecer bastante com o nosso, mas possui suas peculiaridades, novamente fica claro porque “O coração do cão negro” recebeu uma indicação na categoria de roteiro, as informações não são dadas ao leitor, são mostradas aos poucos: Em um diálogo breve ficamos sabendo que Anrath nasceu na Irlanda, mas foi criado entre os Vikings, em outro ponto da história descobrimos que um dia ele teve uma companheira que teve um fim trágico, mais adiante encontramos antigos desafetos e aliados do Cão Negro que abrem um novo leque de opções para narrativas futuras.

No final da edição as referências à literatura pulp se acentuam ainda mais e mesmo que não seja exatamente original, é um excelente clímax para a história e deixa o leitor se perguntando por que a editora não compilou logo cinco volumes da história, porque é difícil não querer uma continuação e é um alívio podermos dizer “Ainda bem que ela existe”.

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Os contos do Cão Negro

A Canção do Cão Negro

No segundo volume descobrimos o que aconteceu com Anrath e Aella (Personagem que ele conheceu na aventura do primeiro volume) um ano após a história narrada em “O Coração do Cão Negro”, e não demora muito para que ele seja jogado em outra situação de perigo graças aos estigmas do seu passado. Caçado por guerreiros em busca de vingança, o Cão Negro acaba sendo atraído para um perigo ainda mais mortal e se encontra entre o limiar do mundo natural e sobrenatural. 

Aqui é um bom ponto para falar da representação feminina nos dois volumes dos “Contos do Cão Negro”. Nesses primeiros volumes, Anrath acaba encontrando com algumas mulheres em seu caminho, sendo as principais Aella, a esposa prisioneira do líder dos Vikings e Graine, uma feiticeira e amiga mais antiga de Anrath. As histórias de ambas são pouco exploradas, mas elas ainda são construídas como personagens tridimensionais. Anrath não é o típico herói alfa que arrasa corações por onde passa, e as personagens femininas não estão presentes apenas para serem suas amantes, elas aparecem como aliadas, mas também possuem seus próprios interesses e suas próprias jornadas que seguem independente do caminho escolhido por ele.

Na história narrada no segundo volume, Anrath se encontra com uma fada e o que seria uma oportunidade perfeita para planos cheios de poses sexualizando o corpo dela é tratado de forma natural pelo ilustrador Fred Rubim, mostrando que sensualidade não tem nada a ver com nudez, ou com poses ginecológicas de contorcionismo absurdo, tão presentes nas HQs ainda hoje. 

Os Contos do Cão Negro é uma HQ perfeita para nerds que gostam de histórias de aventura, batalhas épicas e personagens tridimensionais, essencial para os fãs da série Vikings e das Crônicas Saxônicas de Bernard Cornwell. Já podemos considerá-la um marco nas publicações nacionais de qualidade, sendo merecedora das indicações ao prêmio HQMix!


Os contos do Cão Negro

O Coração do Cão Negro

César Alcazár e Fred Rubim

63 Páginas

Editora AVEC

Compre aqui: Amazon

 


Os contos do Cão Negro

A Canção do Cão Negro

César Alcazár e Fred Rubim

63 páginas

Editora AVEC

Compre Aqui: Amazon

Escrito por:

46 Textos

Formada em Comunicação Social, mãe de um rebelde de cabelos cor de fogo e cinco gatos. Apaixonou-se por arte sequencial ainda na infância quando colocou as mãos em uma revista do Batman nos anos 90. Gosta de filmes, mas prefere os seriados. Caso encontrasse uma máquina do tempo, voltaria ao passado e ganharia a vida escrevendo histórias de terror para revistas Pulp. Holden Caulfield é o melhor dos seus amigos imaginários.
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