[CINEMA] “Onde Está Segunda?”: Sobre identidade, individualidade e sobrevivência

[CINEMA] “Onde Está Segunda?”: Sobre identidade, individualidade e sobrevivência

Onde Está Segunda?, nova produção da Netflix, nos apresenta uma sociedade futurista e caótica em que o aumento progressivo da população mundial está gradativamente destruindo o planeta e, portanto, colocando em risco a humanidade.

O Contexto

Os recursos naturais estão cada vez mais escassos, a América do Sul não passa de um grande deserto, não há comida suficiente para todo mundo e manter a qualidade de vida parece impossível. As tentativas de aumentar a produção surtiram mais efeitos negativos do que positivos para a sociedade e a situação parece ter chegado à um beco sem saída. Com base nestes dados a Dra. Nicollete Cayman, bióloga e política, (interpretada por Glenn Close), consegue justificar a implementação da Lei da Alocação Infantil.

Onde Está Segunda

A lei em questão nada mais é do que uma “política do filho único” em que as crianças identificadas como segundos filhos seriam encaminhadas para hibernação por criogenia por tempo indeterminado até que os recursos sejam suficientes para trazê-los de volta. Enquanto os segundos filhos vão para hibernação, os primeiros filhos e o resto da população recebem uma pulseira magnética com todas as informações pessoais para controle absoluto do governo, nada que possa ser considerado impossível ou absurdo, não é?

O Filme em Si

É neste cenário que começa Onde Está Segunda?. Vemos a história de uma mulher desesperada, que opta por um hospital clandestino para dar luz a sete filhas e acaba morrendo no parto. Então, Terrence Settman (Willen Dafoe), avô das crianças, aceita a tarefa de esconder e educar os sete bebês como seus. Com a ajuda de um médico, Terrence consegue burlar o sistema, levar as netas para casa e as nomeia de acordo com os dias da semana, isto é: ‘Domingo, Segunda, Terça, Quarta, Quinta, Sexta e Sábado’”.

Onde Está Segunda

O plano do avô era simples: todas as meninas assumem uma única identidade e revezam os dias da semana, de acordo com o nome recebido. Assim, dentro de casa podem desenvolver suas próprias características sem problemas, mas uma vez por semana assumem o nome ‘Karen Settman’.

As meninas seguem uma rotina rigorosa. Entre treinamentos, estudos e autodescobertas, se escondem por três décadas se revezando atrás de um codinome, até que Segunda não volta para casa (daí o nome do filme). Entre o medo de terem sido descobertas e de algo ter acontecido à irmã, as moças saem em busca de Segunda em uma corrida contra o tempo e contra o Governo.

Impressões

Noomi Rapace (de “Os Homens Que Não Amavam As Mulheres”, “Prometheus” e “Alien: Convenant”) está brilhante no papel das séptuplas, dando vida e personalidade a pessoas completamente diferentes de forma magistral. Assim como a direção de Tommy Wirkola também não deixa a desejar. As cenas de ação são muito bem feitas e críveis, o tom do longa é assertivo e dinâmico, sem atropelar os momentos melancólicos ou o desenvolvimento e construção dos personagens; dá para ficar completamente absorto durante as 2h30 de filme; a edição também não peca: as cenas em que todas as irmãs estão juntas são palpáveis e muito bem feitas.

Onde Está Segunda

O enredo de Onde Está Segunda? é focado, principalmente, na formação e construção das meninas e nos explica como foi que este plano mirabolante pode dar certo. Enquanto nos mostra o desenvolvimento de cada irmã e como Terrence construiu um forte com o que tinha em mãos para manter as netas seguras, é possível se apegar às personagens e, principalmente, acreditar que seria possível viver daquela maneira.

É muito interessante ver as diferentes reações e opiniões das personagens sobre o modo de existir em que elas são limitadas e, por consequência, o espaço de cada uma naquela situação. As críticas políticas e sociais são bastante sutis, mas contundentes e nos fazem questionar até que ponto é uma questão futurista. Tudo isso no maior estilo “Meu, isso é muito Black Mirror!”.

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Conclusão

Apesar de achar alguns momentos bastante previsíveis é difícil desgrudar o olho da tela e acredito que isso se deva principalmente à atuação de Naomi Rapace, que nos faz paranoicas, assim como as irmãs, quando em busca de Segunda. É possível se apegar a elas e torcer para que tudo saia bem. Esse contexto me lembrou bastante “Orphan Black” de uma forma simplificada, mas sem tirar nenhum mérito de ambas as obras.

Onde Está Segunda

Além deste ponto, outro que incomodou foi o sumiço completo do personagem de Willian Dafoe e a não menção deste afastamento para uma mínima explicação. Gostaria de ter visto um pouco mais de Dafoe em tela e da interação de Terrence Settman com as netas, já que ele representava um mentor e esta é uma parte importante para o desenvolvimento das irmãs.

Toda esta história parece muito clichê e, de certa forma, acaba sendo, principalmente para quem está acostumado com o gênero. Mas o desenrolar frenético dos acontecimentos, as cenas dinâmicas e o carisma das irmãs acabam nos convencendo de que não é uma má ideia investir alguns momentos em Onde Está Segunda?.

Onde Está Segunda

A cereja do bolo: Onde Está Segunda? representa bem as personagens femininas. As mulheres são fortes, com características singulares que fogem ao estereótipo e o filme passa com louvor pelo Teste de Bechdel. E não apenas as irmãs: a vilã do filme também tem uma presença forte.

E você: Já assistiu a Onde Está Segunda? Ou conhece algum filme do gênero que vale a pena citar?

Escrito por:

16 Textos

Parte humana, parte alien e muito feminista, sim senhor. Parece meiga, mas engana bem. Devora livros com farinha e tem verdadeira paixão por maratonar séries e engatar um dia de filmes. Problematiza sempre que pode e tenta manter o bom humor. Sempre gostou muito de escrever e criou o Alien Queen para isso, mas encontrou no Delirium Nerd um espaço de sororidade incrível.
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