[CINEMA] Irena Sendler e a bravura feminina: A heroína da Segunda Guerra Mundial

[CINEMA] Irena Sendler e a bravura feminina: A heroína da Segunda Guerra Mundial

Em 1993, Steven Spielberg fez o mundo todo conhecer a incrível história do empresário alemão Oskar Schindler, que resgatou mais de mil judeus da morte, durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). O filme “A Lista de Schindler” ganhou sete Oscars, três Globos de Ouro, sete BAFTAS, em 1994. Também através do cinema, podemos conhecer outras incríveis histórias e heróis que colocaram a vida em risco para salvar outras pessoas.

O diretor Terry George imortalizou as façanhas de Paul Rusesabagina, em “Hotel Ruanda” (2004) e Alberto Negrín mostrou a bravura de Giorgio Perlasca, em “Perlasca: Um herói italiano”‘ (2002). Os dois homens resgataram milhares de pessoas dos genocídios ocorridos durante a Segunda Guerra Mundial e em Ruanda (1994).

No país da África Ocidental, conflitos entre as etnias Hutus e Tutis mataram quase um milhão de pessoas. Rusesabagina era gerente de um hotel e salvou cerca de 1200 refugiados/as. Por sua parte, o italiano Giorgio Perlasca assumiu a identidade de cônsul da Espanha na Hungria e salvou mais de 5000 mil judeus do Holocausto. São narrativas incríveis, que merecem ser imortalizadas porque contam as histórias de pessoas que decidiram atuar em favor de outras pessoas, num determinado e perigoso período histórico.

Mas, onde estão nossas heroínas da vida real? Por que as façanhas femininas não são contadas com a mesma frequência e entusiasmo que as masculinas? Não é que elas não existam. Mas, em geral, as grandes conquistas femininas tendem a ser diminuídas ou mesmo relativizadas. Além disso, quem conta histórias do cinema são os homens e eles decidem o que merece ou não passar nas telonas.

Felizmente, há algumas histórias incríveis de mulheres corajosas e desteminas que foram e estão sendo mostradas no cinema e é importante falar e visibilizar esses filmes. Um deles é “O Corajoso Coração de Irena Sendler” (John Kent Harrison, 2009), protagonizado por Anna Paquin, que foi indicada do Globo de Ouro, em 2010.

Irena Sendler
O Coração Corajoso de Irena Sendler (2009)

O filme também ganhou três prêmios Emmy, incluindo melhor atriz coadjuvante para Marcia Gay Harden (Janina Sendler, mãe de Irena). Irena Sendler foi uma jovem enfermeira polonesa que salvou 2500 crianças judias da morte no gueto de Varsóvia, durante a Segunda Guerra Mundial. Irena juntou-se a uma organização clandestina chamada Zegota e, como trabalhava no serviço social, tinha livre acesso ao gueto, onde os nazistas confinaram os/as judeus/judias poloneses/as, incluindo as crianças.

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Além de pensar e orquestrar as estratégias para retirar as crianças do local, com a ajuda de cerca de vinte colaboradores/as, a maioria mulheres, Irena tinha o cuidado de encontrar famílias que consentissem em receber essas crianças. Também conseguia documentos falsos e guardava o nome e o destino de cada menina e cada menino em um pote enterrado em um lugar seguro. Assim, quando a guerra terminasse, essas crianças poderiam retornar para sua família de origem. No entanto, muitas delas jamais voltariam a ver os pais e as mães, mortos/as nos campos de concentração nazistas.

Irena Sendler
Irena Sendler (Reprodução)

Irena Sendler foi descoberta e presa pela Gestapo, em Pawlak, em 1943. Ali foi torturada, mas nunca contou para onde as crianças foram enviadas. No dia em que ia ser fuzilada, a organização Zegota conseguiu subornar um guarda e salvar Irena, que viveu até os 98 anos. O Anjo de Varsóvia, como ficou conhecida, morreu em 2008. Foi indicada ao Prêmio Nobel da Paz, em 2007, mas, perdeu para o trabalho ambientalista do ex-presidente dos Estados Unidos, o jornalista e ecologista Al Gore.

O filme foi produzido para a televisão, pela rede americana CBS. Em geral, uma produção feita para a televisão não tem o mesmo orçamento e a mesma qualidade técnica que um filme pensado para o cinema. Pelo menos, não em 2009. No entanto, a produção de “O Corajoso Coração de Irena Sendler” é admirável, assim como o cuidado com a ambientação dos locais, o figurino e as interpretações, especialmente de Anna Paquin e Marcia Gay Harden. O filme é envolvente e prende a atenção do começo ao fim.

Irena Sendler
O Coração Corajoso de Irena Sendler (2009)

É fato que “A Lista de Schindler” popularizou a histórias de outras pessoas que, como Oskar Schindler, haviam lutado para salvar a vida de milhares de judeus/judias, condenados/as pelos nazistas. Foi assim que um grupo de estudantes do Kansas, nos Estados Unidos, pesquisou sobre o Anjo de Varsóvia e descobriu que Irena Sendler ainda estava viva. O grande trabalho de pesquisa realizado pelo grupo proporcionou que a história de Sendler ficasse conhecida na internet e o interesse pela sua bravura cresceu até, finalmente, ela receber o merecido reconhecimento.

As comparações entre Oskar Schindler e Irena Sendler são inevitáveis, as histórias dele e dela são contemporâneas e tanto ela quanto ele atuaram sem saber da existência um do/a outro/a, o que prova que a coragem e a determinação em ajudar outras pessoas são virtudes universais e que não se relacionam com o gênero. A bondade é universal.

Por fim, o filme é um registro imprescindível. Imagine a dificuldade de uma mulher em conseguir convencer a outra família a deixá-a levar as crianças para um lugar desconhecido com pessoas desconhecidas. Imagine a dificuldade para encontrar outras famílias que quisessem essas crianças. Imagine convencer algumas crianças a fugir e ficar longe de suas mães e seus pais. Imagine ainda fazer tudo isso com soldados nazistas vigiando e perseguindo.

Para Irena Sendler, não importava a religião das crianças, apenas salvá-las de uma morte certa e cruel. A história dessa mulher vai mais além de um registro de bravura. É um registro de amor incondicional. E nós precisamos conhecer mais nossas heroínas na vida real.

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Apaixonada por tudo relacionado ao cinema e ao audiovisual. Gosta principalmente de ver mulheres fortes e felizes nas telonas e nas telinhas. Por isso, depois de trabalhar muitos anos em televisão, decidiu estudar mais sobre o assunto e fez um doutorado no tema pra ajudar na reflexão do papel da mulher no cinema, e poder dividir opiniões e pensamentos com mais apaixonadas/os como ela.
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