[CINEMA] Balanço do Dia: X Janela traz documentário de Dea Ferraz, clássico sci-fi e mais!

[CINEMA] Balanço do Dia: X Janela traz documentário de Dea Ferraz, clássico sci-fi e mais!

O balanço do segundo dia de X Janela Internacional de Cinema do Recife dará conta de duas ficções e um documentário. São os filmes: O Pântano, de Lucrecia Martel, Modo de Produção, de Dea Ferraz e Aliens, O Resgate, de James Cameron.

A homenageada do evento, Lucrecia Martel, apresentou brevemente seu longa-metragem O Pântano (La Ciénaga) de 2001, assim como fez com o estreante “‘Zama”, na noite de abertura do X Janela. Ela contextualizou a obra que se passa na fronteira entre Argentina e Bolívia. “O racismo nessa região do país é diferente do racismo sofrido por pessoas no sul (da Argentina)”, comenta antes de começar a sessão.

Também conta da importância que a religião tem na cultura dessa parte do país, tendo inúmeros casos de aparições de santos em diversos lugares, como é o caso da caixa d’água de uma moradora da cidade. A história mostra duas famílias de classe média argentina, uma delas em uma severa crise de relacionamentos que não funcionam mais (tal qual a piscina de sua casa, há tanto tempo suja), e outra família que se encaminha para o mesmo lado.

Cena do filme “O Pântano”

Lucrecia consegue passar desconforto e tensão por meio da sonoplastia e da montagem do filme de forma muito bem feita. Apesar do ar condicionado ligado na sala de cinema, o calor e a umidade do cenário, dos corpos suados, e da água pingando, tudo isso podia ser sentido no ar. Os conflitos da trama são mostrados na tela de forma sutil, desembocando mais tarde em momentos mais graves, como a relação entre empregada doméstica e donos da casa, marido e mulher em período de provável separação.

Um animal atolado no pântano, que quanto mais tenta sair da situação em que se encontra, mais afunda e perde as esperanças, até ter de ser sacrificado. A Santa que é vista uma vez e depois ninguém mais vê. O cachorro do vizinho que ladra alto, não pode ser visto, mas assusta a criança. A metáfora está posta de maneira certeira.

Primeira sessão em solo pernambucano de Modo de Produção, da recifense Dea Ferraz. “É sempre uma alegria poder mostrar um filme na nossa cidade”, disse a diretora antes do início do longa, acompanhada de toda a equipe em frente à plateia lotada do Cinema do Museu. O longa foi produzido pela Parêa Filmes, Alumia e Ateliê Produções e recebeu incentivo do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura).

O documentário tem como personagem central o Sindicatos dos Trabalhadores Rurais de Ipojuca (PE) e mostra o cotidiano de burocracias enfrentado pelos trabalhadores que buscam nada mais que seus direitos. O release do filme nos traz as intenções da diretora, que deu prioridade à experiência no lugar da narrativa e da descrição de processos.

Dea Ferraz. Foto: Reprodução

À primeira vista, essa escolha (de documentar a experiência) pode parecer preguiçosa, por alguns momentos haver espaços vazios. Porém, esses silêncios e vazios se tornam interessantes períodos de contemplação e reflexão sobre o que nos está sendo jogado na cara, pois os baques de realidade são dolorosos.

Mas, nem tudo são dores em Modo de Produção. O ponto mais otimista do documentário nos é trazido pelo grupo de mulheres que usa o sindicato como ponto de reunião para discussão sobre a realidade vivida por elas. Debatendo sobre questões de gênero, empoderamento e solidariedade, esses momentos vêm como um respiro no meio de um mar de burocracia que parece sem fim.

Fim de sessão, correria pra ir esperar o ônibus e chegar a tempo da sessão de Clássicos do Janela. A heroína e estrela da noite foi Ellen Ripley (Sigourney Weaver), de Aliens, O Resgate (Aliens), dirigido por James Cameron em 1986. Uma boa continuação depois de Alien: O Oitavo Passageiro, de Ridley Scott, James Cameron nos traz Ripley, a única sobrevivente do ataque do alien à nave.

Ripley aceita, depois de muito exitar, retornar ao planeta, que agora está sendo “terraformado” (habitado) por 70 famílias de terráqueos. Ela volta à LV-426 acompanhada de militares na nave Sulaco. Ao chegar no destino descobre que os colonos foram dizimados e encontra apenas uma sobrevivente, a pequena Newt (Carrie Henn). O filme acaba se centralizando nessa “despertar” do “instinto materno”, o que pode ser problematizado.

X Janela
Cena do filme “Aliens, O Resgate”

A força e a vontade de viver de Ellen Ripley nos presenteiam com cenas eletrizantes de ação, principalmente na parte final do filme, com efeitos especiais de grande qualidade feitos pela equipe de Cameron. Apesar de cenas totalmente desnecessárias, como as que Ripley aparece só de blusa e calcinha enquanto todos os outros homens estão vestidos, a sequência de Alien não é tão problemática quanto seu prelúdio.

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É interessante notar a personagem de J. Vasquez, interpretada por Jenette Goldstein. Ela quebra diversos estereótipos de gênero, pois não é considerada pelos padrões estéticos como “feminina”, pois tem o cabelo curto etc. Ela se torna uma personagem muito querida e leal aos seus companheiros, tendo uma das mortes mais marcantes do filme. Um ponto importante de ser notado é que Vasquez é uma mulher latina, mas quem a interpreta é Jenette Goldstein, uma branca.

Mesmo assim, Aliens, O Resgate se tornou um filme cult com o passar do tempo, e apesar de alguns problemas que devem ser debatidos, mostra uma das primeiras (se não a primeira) heroínas do cinema sci-fi.

Imagem destacada: Dea Ferraz. Foto de Beto Figueiroa (Reprodução)

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Gaúcha moradora do Recife. Estudante de jornalismo com um pé (ou quase o corpo todo) nas artes. Acha que falar sobre si mesma na terceira pessoa é muito estranho.
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