Os 27 Crushes de Molly: um young adult que conversa com o público atual

Os 27 Crushes de Molly: um young adult que conversa com o público atual

Durante a minha pré-adolescência a minha autora favorita era Meg Cabot. Os seus livros para jovens adultos contavam geralmente a história de uma menina que era diferente das outras, que não se encaixava por algum motivo mas acabava se tornando uma heroína no final.

Entre os mais famosos estão, por exemplo, a série O diário da princesa, que conta a história de Mia Termópolis, uma garota nova-iorquina comum que descobre ser a herdeira de um reino europeu, e A Mediadora, que conta a história de Suzannah, uma adolescente com dons sobrenaturais que é capaz de ver e falar com fantasmas para ajudá-los a descansar em paz. 

Apesar de ainda gostar muito da Meg, sei que se voltasse a ler os seus livros hoje com 21 anos, com certeza problematizaria alguns aspectos das suas histórias, como a falta de diversidade racial e a falta de personagens LGBTs protagonistas. E, justamente por isso Os 27 crushes de Molly, escrito por Becky Albertalli, foi um livro young adult que me pegou de surpresa.

A História de Os 27 crushes de Molly:

Lançado aqui no Brasil pela editora Intrínseca, Os 27 Crushes de Molly, que se passa em um subúrbio dos Estados Unidos, contém todos os elementos mais comuns de um livro young adult, aqueles que já apareciam nos romances de Meg no começo dos anos 2000, como conflitos familiares, o primeiro amor e problemas de autoestima.

Porém, o livro se destaca justamente por apresentar a diversidade de uma forma natural, com um núcleo familiar composto por duas mães  e uma grande quantidade de personagens não-brancos e não-heterossexuais, além de trazer à tona discussões importantes para meninas da idade da protagonista, como por exemplo a aceitação do próprio corpo, sexo e feminismo.

A personagem principal, Molly, é uma menina de 17 anos que já teve 27 crushes mas nunca teve coragem de demonstrar seus sentimentos para nenhum deles, o motivo? Molly é gorda, e por isso acredita que nunca será correspondida por nenhum menino. Não é que a personagem tenha sido rejeitada, e sim que por já ter sofrido bullying por causa da sua aparência fora do padrão ela muitas vezes nem chega a conversar com os meninos, o seu medo de rejeição faz com que todos os romances fiquem apenas dentro da sua cabeça, e dessa forma ela se protege de receber um fora.

Tudo isso muda quando no começo do livro a sua irmã gêmea Cassie, que é lésbica, passa a namorar Mina, uma menina pansexual, e as duas querem juntar Molly com um dos melhores amigos de Mina, Will, que é hipster e fofo, sendo perfeito para o crush número 28. Ao mesmo tempo, Molly começa a trabalhar em uma loja durante o verão e lá conhece Reid, um menino nerd que tem tudo a ver com ela e também passa a ser uma opção para o seu próximo crush.

Molly passa então a enfrentar os seus medos, que vão muito além do nosso medo comum de beijar alguém pela primeira vez na adolescência, e justamente por isso o livro se torna tão importante. Muito mais do que procurar um futuro namorado, Molly tem que aprender a se amar e ficar confortável consigo mesma para ter a confiança de expor seus sentimentos para os outros, e por consequência aceitar que outras pessoas podem sim amar ela com ela é.

Além disso, o fato da sua irmã começar um relacionamento sério com a mesma idade faz com que elas comecem a ter conflitos pela primeira vez, pois antes elas faziam tudo juntas e a partir do namoro Cassie passa a se distanciar e amadurecer em diversos aspectos.

Diversidade tratada de forma natural 

Os 27 Crushes de Molly se passa em um período bem recente, em 2015, com o contexto da legalização do casamento LGBT nos Estados Unidos (lembra daquela época boa onde todo mundo mudou a sua foto de perfil do Facebook e o Donald Trump era só um milionário babaca que comandava um reality show?).

E, assim como em outras narrativas que exploraram essa data, como a série da Freeform, The Fosters e a sitcom Modern Family, Os 27 Crushes de Molly também decide oficializar o relacionamento de duas personagens: as mães da protagonista. Esse casamento, que se torna o evento mais importante da história, traz a tona questões relacionadas à lgbtfobia, como preconceito dentro da própria família, que acontece quando a tia de Molly se recusa a participar do casamento, e o significado de família nos dias de hoje. 

Todos esses elementos, combinados com cenas fofas e personagens realistas, faz com que Os 27 Crushes de Molly seja uma leitura fácil que se torna envolvente mesmo para quem já passou da fase adolescente em que a protagonista se encontra. Para mim foi uma leitura até mesmo nostálgica, que me fez refletir como seria ter crescido com referências literárias que apresentassem a diversidade sexual com tanta naturalidade, afinal, apesar de retratar questões importantes como a LGBTfobia, em nenhum momento a sexualidade das personagens se torna o tema central da história ou aquilo que define a personalidade delas. 

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Becky, que é psicóloga e atua na área de diversidade sexual, consegue abordar temas como preconceito, gordofobia e relacionamentos de uma forma que se encaixa perfeitamente na nossa realidade de 2017 e consegue causar um impacto positivo nos seus leitores.

Para quem é adolescente com certeza vai ser impossível não se identificar com pelo menos um ou dois personagens, já para os leitores mais velhos, prepare-se para lembrar da sua época dos primeiros crushes (que na época não se chamavam assim) e do nervosismo do primeiro beijo que todos passaram. 


Os 27 Crushes de Molly

Os 27 Crushes de Molly

Autora: Becky Albertalli

Editora Intrínseca

320 páginas

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Escrito por:

25 Textos

Feminista. 20 anos. Libriana indecisa com ascendente em leão que sonha em viajar o mundo. Estudante de publicidade e propaganda, apaixonada por séries, livros, filmes e levemente viciada em ver fotos de animais fofinhos na internet.
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