Brooklyn Nine-Nine: Muito além de uma série de comédia

Brooklyn Nine-Nine: Muito além de uma série de comédia

Jake Peralta (Andy Samberg) é um dos detetives da delegacia 99 do Brooklyn. Sob comando do recém chegado Capitão Raymond Holt (Andre Braugher) e do sargento Terry Jeffords (Terry Crews), a delegacia acaba se transformando no cenário de um show de representação e de diversidade. Diversas situações da série mostram pequenos problemas cotidianos, tratando da cor de pele dos integrantes da equipe, de suas condições familiares, de seus relacionamentos ou de suas sexualidades.

Brooklyn Nine-Nine apresenta uma fórmula incrível de representatividade + facilidade de se ligar emocionalmente aos personagens + facilidade de se ver nas situações, mesmo que de forma sutil, mesmo que aquilo nunca tenha acontecido com a gente. É uma série altamente empática.

CONTÉM ALGUNS SPOILERS

Capitão Raymond Holt e Jake Peralta são dois personagens que merecem destaque em suas trajetórias. De início, Holt e Peralta tem um relacionamento conturbado: Holt gosta de controle sobre seu trabalho, é altamente organizado e gosta que sua equipe mantenha uma atitude profissional dentro da delegacia; Jake, por outro lado, é um ótimo detetive, mas é folgado e imaturo, e não consegue compreender porque deveria entrar nos moldes do Capitão. Ao longo das temporadas, entretanto, as coisas mudam de figura. Holt consegue compreender como Jake trabalha e Jake consegue compreender porque Holt quer tanto que a delegacia em que ele está no comando seja uma boa delegacia.

Ao longo da série, então, vemos um capitão de polícia abertamente gay, que passou anos de repressão por ser negro e homossexual, e que deseja conquistar o respeito de sua delegacia, para fazer o melhor que pode pela comunidade e vemos o amadurecimento de um detetive, como Peralta, que tenta compreender como as pessoas se sentem, se policia e pede desculpas por atos que podem ser ofensivos aos seus colegas de trabalho.

Apesar do relacionamento entre Capitão Holt e Peralta ser um dos pontos altos da série, Terry Jeffords e Charles Boyle (Joe Lo Truglio) também tem em seus enredos pequenas particularidades que trazem ainda mais riqueza à série. Em um dos episódios, por exemplo, Terry Jeffords, enquanto estava fora do horário de trabalho (portanto, sem distintivo) foi abordado por um policial, com uma arma, por ser negro.

Boyle, em seus diversos problemas de relacionamentos, já tendo sido apaixonado por sua colega de trabalho Rosa Diaz e ter saído de um relacionamento que o deixou completamente dependente de sua ex mulher, conseguiu se estabelecer e adotou uma criança, vindo da Letônia, no seu mais recente relacionamento. São algumas pequenas situações, mas que são tratadas em uma série de comédia de grande alcance com humor, mas principalmente com respeito e cuidado.

As mulheres de Brooklyn 99

As detetives Rosa Diaz (Stephanie Beatriz) e Amy Santiago (Melissa Fumero) são uma das melhores partes da série. Amy Santiago é descrita na primeira temporada como a mulher que tem sete irmãos e se tornou competitiva na delegacia. Rosa Diaz é descrita como uma mulher aterrorizante, fechada e de poucos amigos. Mas na verdade nenhuma das duas é somente isso. Amy e Rosa são detetives absolutamente competentes e inteligentes, e ambas tem personalidades tão distintas e conflitos tão diversos, que por vezes nos esquecemos das descrições dadas no início da série.

Apesar de sim, Amy ser competitiva e Rosa ser uma mulher fechada, ao longo da série compreendemos melhor as duas personagens. Amy é uma mulher que quer crescer na carreira, que esteve sempre trabalhando com homens e que aspira em ser Capitã em algum momento.

Brooklyn Nine-Nine
Amy Santiago (Melissa Fumero)

Rosa nunca teve uma boa relação com seus pais, se tornou uma pessoa que tenta não expressar seus sentimentos, mas que faz o possível para ajudar seus amigos e, mesmo com seu jeito bruto, também sempre pode contar com eles. É leal, e mesmo que ninguém saiba nada de sua vida fora da delegacia, é super confiável. Em um dos episódios no início da série, Rosa diz a Amy que, apesar da competitividade que ela tem, elas não precisam competir, pois estão em um meio com muitos homens, e deveriam se apoiar.

Brooklyn Nine-Nine
Amy e Rosa Diaz (Stephanie Beatriz)

Atualmente, deixando a personagem ainda mais forte, Rosa se assumiu bissexual. Em uma das situações mais bonitas da série, ela conversa com Jake e logo após com seus pais sobre seus sentimentos. Holt lhe dá apoio, compreendendo o grande passo que é ser aceito por sua sexualidade. De início, seus pais não aceitam muito bem, ao contrário dos colegas da delegacia, que lhe dão total apoio.

Além de Rosa e Amy a delegacia conta com a secretária Gina Linetti (Chelsea Peretti). Inicialmente como secretária da própria delegacia, acaba sendo designada como secretária do Capitão. Gina é muito mais que uma secretária, auxiliando em diversos casos e em situações práticas da delegacia. Gina parece querer ser policial ou detetive, e faz o possível para ser útil e reconhecida dentro do seu local de trabalho, apesar da atitude recorrente de que não se importa. Nas últimas temporadas se tornou mãe, o que fez com que tivesse conversas com Terry da dificuldade de deixar os filhos em casa e ir trabalhar, visto que Terry também é pai.

Brooklyn Nine-Nine
Gina Linetti (Chelsea Peretti)

A série não despreza os enredos femininos em busca dos masculinos. Os problemas, as situações e os casos em que as mulheres estão inseridas, são tão bem tratadas e tem tanto destaque quanto as masculinas. Suas personagens, também, são tão diversas em relação à personalidade quanto os homens.

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São com conversas delicadas em meio à situações cômicas que a série pode ser considerada uma das melhores séries da atualidade. Brooklyn Nine-Nine é uma série que tem tentado ao máximo lidar com as questões de gênero, sexualidade e diferenças raciais. É uma série que fala, através do humor, de questões importantes e atuais, que explora particularidades e não tem medo de tentar lidar com tensões existentes na sociedade.

A série se encontra na quinta temporada, indo ao ar pelo canal Fox, e está de férias até o começo do ano que vem.

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Formada em História, escreve e pesquisa sobre terror. Tem um afeto especial por filmes dos anos 1980, vampiros do século XIX e ler tomando um café quentinho.
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