[ARTE] Performance: Listamos oito artistas para você entender essa arte

[ARTE] Performance: Listamos oito artistas para você entender essa arte

Em setembro de 2017 o artista Wagner Schwartz se viu envolvido numa polêmica desagradável. Um vídeo de sua performance La Bête, apresentada no Museu de Arte Moderna de São Paulo, viralizou e um movimento de direita, AKA um-grupo-de-gente-ignorante-que-se-mete-na-vida-dos-outros, acusou o museu de pedofilia. Por um instante deixamos de ser uma nação de técnicos de futebol e nos tornamos uma nação de curadores de arte. Todo mundo tinha uma opinião sobre o assunto. Até que evoluímos (SQN). Mas afinal, o que sabemos sobre performance?

Ações performáticas se esboçavam desde as vanguardas históricas no início do século XX, mas foram nos anos 60/70 que tiveram seu ápice. Em seu livro Performance nas Artes Visuais, Regina Melim considera performance um conceito amplo que se refere ao corpo do artista como integrante da obra, como material de construção artística. É uma arte interdisciplinar que agrupa teatro, dança e artes plásticas. Uma performance não deixa rastros, é uma experiência. Alguns performers inserem o espectador na obra, propondo uma participação, uma interação. Trata-se de um experimento que propõe novos modos de pensar e expressar a arte, novas propostas corporais. Uma performance tem uma duração imprevisível, não tem senso de tempo.

A performance é arte relacional. Uma arte questionadora cujo o significado é construído coletivamente junto com o espectador que em alguns casos integra a obra junto com o performer. O público determina o significado por sua reação, pela forma como se relaciona com as imagens. Para que essa arte seja compreendida, listamos alguns trabalhos essenciais de algumas artistas femininas.

Yoko Ono

Nascida no Japão, Yoko ficou conhecida por seu casamento com John Lennon. Mas ela é muito mais que isso. É uma artista ousada que fazia parte do Fluxus, o movimento artístico libertário organizado por George Maciunas nos anos 60. Em Cut a Piece (1964) a artista se sentou no chão em frente a uma tesoura. O público era convidado a cortar um pedaço de sua roupa enquanto ela ficava imóvel. Alguns cortavam só um pedacinho. Outros… O vídeo abaixo mostra.

https://www.youtube.com/watch?v=lYJ3dPwa2tI

Marina Abramovic

Uma das artistas mais conhecidas no mainstream. Em Rhythm 0 (Ritmo 0) de 1975 Marina colocou 72 objetos sobre uma mesa e convidou o público a fazer o que quisesse com o corpo dela. Após 6 horas a performance terminou quando um espectador colocou uma arma na mão dela e apontou para o pescoço da artista. Havia todo tipo de objetos sobre a mesa. A violência foi escolha do público.

Valie Export

Nascida na Áustria, ela mudou de nome para renunciar à identidade patriarcal representada pelo nome de seu pai e de seu ex-marido. Seu trabalho tematiza o corpo feminino. Em Touch Cinema (1968). Valie foi para as ruas com uma caixa sobre seus seios e convidava os transeuntes a sentirem a feminilidade real em contraste com a idealizada pelo cinema.

https://youtu.be/rfcNYGrdxfc

Carolee Schneemann

Artista multidisciplinar, Carolee se apropria da figura da mulher nua que é explorada na história da arte. Em seu trabalho Interior Scroll (1975), o corpo nu é o da artista. É dela o domínio de sua imagem. O conhecimento humano é representado por um pergaminho que ela puxa de sua vagina e lê diante do público.

Performance

Ana Mendieta

Refugiada cubana nos EUA, Ana foi uma artista que problematizava o feminismo branco. Já nos anos 70, ela apontava para as diferentes realidades dentro da causa. Mendieta registrava suas performances em fotografias. As fotografias documentam performances privadas realizadas na natureza para invocar e representar o espírito de renovação inspirado poder do feminino. Em sua série Silueta (iniciada em 1974), Mendieta esculpiu e moldou sua própria figura na terra para deixar vestígios de seu corpo no formato de flores, galhos de árvores, lama, pólvora e fogo.

Infelizmente seu trabalho inovador é obscurecido por sua morte trágica. Em 1985 seu corpo caiu da janela do 34 andar do seu apartamento. As evidencias apontavam para seu marido, o artista plástico minimalista Carl Andre, que foi julgado e absolvido apesar de vizinhos terem ouvido Ana gritar e de haverem marcas de unha nos braços dele. Grupos feministas protestaram e o caso foi comparado ao de O.J Simpson.

Performance

Márcia X

Ousada e iconoclasta são alguns dos adjetivos usados para definir essa artista carioca falecida em 2005, aos 45 anos. Marcia Pinheiro começou sua atividade nos anos 80. Sua obra tematizava tabus. Na Bienal do Livro do Rio de janeiro de 85, apresentou uma performance onde sua nudez causou repercussão e a estilista homônima Marcia Pinheiro, na época dona de uma grife que levava seu nome, não gostou de ver sua marca vinculada a artista. Marcia imediatamente adotou o X. Na instalação Desenhando com Terços (2003), centenas de terços católicos formavam falos. Em abril de 2006, após protestos da igreja, a obra foi removida do CCBB do Rio.

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Pancake, performance de 2001 mostra a artista se banhando com leite condensado. São dezenas de latas que despejadas sobre a artista, formam uma camada dura transformando-a numa estátua e evocando signos que vão de Maria Madalena coberta pelo sêmen masculino ao sabor da infância.

Leticia Parente

Baiana, falecida em 91, pioneira da performance e da videoarte no Brasil. Sua pesquisa tinha um viés poético que reunia, texto, voz e performance. Marca Registrada é um trabalho feito em 75, durante a ditadura militar. Leticia borda com agulha e linha a frase made in Brasil (feito no Brasil) na sola de seus pés remetendo tanto a tortura que acontecia no país quanto ao corpo da mulher sendo tratado como propriedade pela nossa cultura.

Celeida Tostes

Falecida em 1995, trabalhava o barro e a feminilidade em sua obra. Se destacou como artista contemporânea e professora da escola de artes do Parque Laje no Rio de Janeiro. Na performance Passagem de 1979, a artista se cobre com argila e expele seu corpo de um jarro que simboliza um útero.

Meu trabalho é o nascimento. Ele nasceu como eu mesma nasci – de uma relação com a terra, com o orgânico, o inorgânico, o animal, o vegetal. Misturar os materiais mais diversos e opostos. Entrei na intimidade desses materiais que se transformaram em corpos cerâmicos. Começaram a surgir bolas. Bolas com furos, com fendas, com rompimentos que me sugeriam vaginas, passagens. Senti então a necessidade imensa de misturar-me com o meu material de trabalho. Sentir o barro em meu corpo, fazer parte dele, estar dentro dele

Performance

 

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Candida Sastre é roteirista de humor e pesquisadora. Escreve artigo e entende dos paranauê acadêmico. Suas inspirações na crítica são Clement Greenberg (amém), Arthur Danto e a rainha Aracy de Almeida. Carioca, mother of cats, diferentona, tinha um blog chamado Sylvia. Faz parte do Gloria Steinem Futebol Clube. Escreve humor porque tem facilidade, mas queria mesmo ser o Daniel MacIvor.
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