[DELIRIUM NEWS] ESPECIAL: Marielle Franco, PRESENTE!

[DELIRIUM NEWS] ESPECIAL: Marielle Franco, PRESENTE!

Delirium News traz todo domingo notícias nacionais e internacionais que achamos relevantes. No entanto, não poderíamos seguir com a nossa proposta numa semana em que tivemos o assassinato da vereadora Marielle Franco. Por tal motivo, fugindo um pouco da linha editorial do site, decidimos fazer um especial contando um pouco da história da mulher incrível que ela foi e dos tempos sombrios em que nos encontramos.

QUEM FOI MARIELLE FRANCO?

Fonte: site oficial da Marielle Franco

Marielle Franco era mulher, negra, mãe, esposa, feminista e cria da favela da Maré. E foi a 5ª vereadora eleita com mais votos no RJ (46.502 votos), além de ser presidente da Comissão da Mulher na Câmara.

Formada pela PUC – Rio, Marielle fez mestrado em Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense (UFF), cuja dissertação tinha como tema: “UPP: a redução da favela a três letras”:

O objetivo desta dissertação é demonstrar que as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), enquanto política de segurança pública adotada no estado do Rio de Janeiro, reforçam o modelo de Estado Penal. Para tal é necessário apresentar um estudo sobre o significado das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) pela perspectiva da Segurança Pública e fundamentado nos elementos da Administração Pública. Trata-se de averiguar quais as relações contidas nestas Unidades, intrínsecas ao processo de elaboração e consolidação de políticas na área de segurança pública. Nesse sentido, haverá um esforço de identificar se as Unidades de Polícia Pacificadoras representam uma alteração nas políticas de segurança ou se estas se confirmam como maquiagem dessas políticas. Busca-se analisar, em perspectiva teórica ampla, se o modelo neoliberal no Brasil incorpora os elementos de um Estado Penal, considerando o processo de formulação e de implementação das UPPs nas favelas do Rio de Janeiro, no período de 2008 a 2013, peça chave para a compreensão deste fenômeno. Considerando a Favela da Maré como um dos elementos que corroboram para esta análise, uma vez que estes são caracterizados por elementos que sintetizam o modelo teórico proposto por Loïc Wacquant (2002), a saber, o processo de penalização ampliado, que colabora sobremaneira para a consolidação do Estado Penal, parte-se do pressuposto de que o modelo de análise proposto por esse autor, se aplicado ao caso proposto e guardadas as peculiaridades de cada contexto histórico-político, permite identificar um Estado Penal que, pelo discurso da “insegurança social”, aplica uma política voltada para repressão e controle dos pobres. A marca mais emblemática deste quadro é o cerco militarista nas favelas e o processo crescente de encarceramento, no seu sentido mais amplo. As UPPs tornam-se uma política que fortalece o Estado Penal com o objetivo de conter os insatisfeitos ou “excluídos” do processo, formados por uma quantidade significativa de pobres, cada vez mais colocados nos guetos das cidades e nas prisões. (Leia a Dissertação na íntegra)

Em sua trajetória, Marielle trabalhou em organizações como a Brasil Foundation e o Centro de Ações Solidárias da Maré (Ceasm). Sua militância teve início após seu ingresso no pré-vestibular comunitário, época em que perdeu uma amiga, vítima de bala perdida, num tiroteio entre policiais e traficantes no Complexo da Maré.

Enquanto vereadora, propôs vários projetos de Lei como: Projeto de Lei #AssédioNãoÉPassageiro , Projeto de Lei 0265/2017 “Lei das Casas de Parto” (APROVADO!), Projeto de Lei 0017/2017 “Espaço Coruja / Espaço Infantil Noturo“, projeto de Lei 0016/2017Pra Fazer Valer o Aborto Legal no Rio

Na imagem: Sessão que homenageou a escritora Conceição Evaristo (reprodução)

JUVENTUDE MARCADA PARA VIVER

Imagem: Marielle Franco. Reprodução: Facebook

Sueli Carneiro uma vez disse que estávamos diante de um “suposto antirracismo que se afirma pela negação do racismo existente”¹ e é assim que a sociedade reage não só diante do racismo, mas também do genocídio da população negra, pobre e favelada. Marielle, que era uma ferrenha defensora dos Direitos Humanos e, principalmente, dos direitos da juventude negra, se posicionou contra a Intervenção Militar no Rio de Janeiro:

“Eu vivi na Maré a intervenção militar 14 meses. Os favelados e faveladas sabem exatamente o que é o barril do tanque na sua porta. Muitos de nós não […] Porque onde é que vai ser realmente a intervenção? Quem sabe aonde a ponta do fuzil vai ser apontada?” (fonte)

https://www.facebook.com/MarielleFrancoPSOL/videos/539624799756450/

“Eu quero realmente que a gente pense aonde que meu povo vai estar daqui a alguns anos: precisa estar vivo…porque o que tá hoje nos ameaçando é o tanque e a ponta do fuzil” (fonte)

 

reprodução: @politicashq Arte de Lalo

Sua voz ecoou denunciando publicamente as atrocidades e nos lembrando que “[…] quando pessoas negras estão reivindicando o direito a ter voz, elas estão reivindicando o direito à própria vida”². E assim o fez Marielle ao se opor ao que significaria um aumento significativo de mortes e violência no RJ e, principalmente, nas favelas. Ela deu voz à juventude que, contrariando as estatísticas, deveria ser uma “juventude marcada para viver.

 MARIELLE FRANCO, PRESENTE! 

Como foi amplamente noticiado na grande mídia, na última quarta-feira (14/03/2018), Marielle foi executada com tiros na cabeça. Durante o assassinato da vereadora democraticamente eleita, o seu motorista também foi atingido, vindo a falecer. O silêncio e a dor foram transformados em gritos e revoltas. Manifestações por todo o país traziam a mesma mensagem: “Marielle Franco, presente!”. A voz da cria da Maré não seria silenciada.

A população finalmente parece ter percebido que enquanto os problemas sociais forem ignorados sob a ilusão de vivermos em uma Democracia Racial, perderemos mais Marielles. Assim como perdemos o Amarildo, a Claudia Silva Ferreira e o  Douglas Rafael da Silva Pereira “DG”, dentre tantos outros.

 “Não existe justiça se o assassino tá fardado”

O que queremos dizer quando falamos “Marielle, Presente!” é que a sua luta não será esquecida. Que sua voz não será calada. Que a favela não vai ser pintada de sangue!

Marielle Franco, PRESENTE!

Referências Bibliográficas

¹ “Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil”. Sueli Carneiro – São Paulo: Selo Negro, 2011.

² “O que é lugar de fala?”. Djamila Ribeiro – Belo Horizonte (MG). Letramento: Jusificando, 2017.

Os créditos da ilustração em destaque são da ilustradora e quadrinista LoveLove6.

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