[SÉRIES] O protagonismo feminino em “Person of Interest”

[SÉRIES] O protagonismo feminino em “Person of Interest”

Em meados de junho de 2013, Snowden denunciou a vigilância realizadas pelo governo dos Estados Unidos. E ainda, atualmente, empresas como Facebook estão sendo acusadas por coleta de dados de seus usuários indevidamente, logo podemos concluir que, a princípio, a temática de Person of Interest não é somente atual como também expressiva.

Person of Interest iniciou sua exibição em setembro de 2011, no canal CBS, nos Estados Unidos. Criada por Jonathan Nolan e produzida por J.J. Abrams, ficou no ar até 2016, totalizando 5 temporadas e 103 episódios exibidos. Aqui no Brasil podemos encontrar para compra apenas o box das duas primeiras temporadas.

Ao longo da série, somos apresentadas “A máquina”, uma criação de Harold Finch (Michael Emerson, o Ben em “Lost”) projetada para detectar atos terroristas após o 11 de setembro, enquanto eles estão em fase de elaboração, através de cada telefone, e-mail, câmera de vigilância, ou seja, os meios eletrônicos em geral. E por sua vez, Finch decide que não são apenas relevantes os atos terroristas, mas também todos os outros crimes possíveis de serem detectados com ajuda da sua engenhosa criação; até então, tratados como irrelevantes.

Desta forma, entramos em contato com um núcleo de personagens que são desenvolvidos fabulosamente. Existe uma constante preocupação com o roteiro para amarrar atitudes e a motivação de praticamente todos os personagens, tornando mais fácil para o público a construção da empatia.

Conhecemos, deste modo, a personagem Jocelyn “Joss” Carter (Taraji P. Henson, a maravilhosa Katherine Johnson em “Estrelas Além do Tempo”) detetive do departamento de homicídios da Polícia de Nova York, que a princípio persegue o parceiro de Finch, conhecido como o homem de terno, Jonh Reese (Jim Caviezel).

Joss Carter (Taraji P. Henson)

A Joss Carter é uma personagem identificável, alguém que podemos nos espelhar. Uma mulher negra que serviu ao exército no Afeganistão (2002 a 2003) e no Iraque (2003-2004). Passou no exame para se tornar advogada, mas tinha como ambição crescer como policial. Seu marido, Paul, desapareceu após um ataque de estresse pós-traumático. Ao retornar, Carter solicita que o marido procure ajuda, caso contrário, não permitirá que tenha contato com o filho do casal. Ele se recusa, e por sua vez, Carter decide defender a segurança de seu filho.

Durante um período da série podemos testemunhar o bom desempenho profissional de Carter ao tentar capturar Reese, pois suas impressões digitais estão em diversas cenas de crimes ocorridos, em um curto espaço de tempo. Mas apesar das evidências, Carter conclui, através das atitudes e explicações de Reese, que embora alheio à lei sua causa, é a mesma que a dela: evitar que prevaleça a injustiça, e Joss se torna a pessoa que protegerá Reese de ser capturado pela polícia.

Paralelo a isso, Carter desenvolve uma amizade com Lionel P. Fusco (Kevin Chapman), detetive do departamento da polícia de Nova Iorque. O vínculo entre eles é criado através da desconfiança e ao mesmo tempo do incentivo de fazer a diferença em meio a corrupção policial. Em determinado momento, Fusco dirá sobre ela: “Ela me lembrou que eu poderia ser bom de novo. Que poderia ser um bom pai, um bom amigo e um bom policial. Carter salvou minha vida. Ela me salvo de mim mesmo, porque ela acreditou em mim”.

Joss Carter (Taraji P. Henson) e Lionel P. Fusco (Kevin Chapman)

Como se não bastasse o irremediável encantamento causado por Carter, logo conhecemos Samantha Groves (Amy Acker) ou, em suas palavras: “You can just call me ‘Root’, bitch“. O início de sua aparição nos causa raiva e aflição. Vemos uma hacker brilhante que tem uma relação especial com a Máquina de Finch. Em diversos momentos, ela coloca todos em perigo com suas iniciativas duvidáveis, contudo ao decorrer dos episódios estamos defendendo suas atitudes e adorando seu olhar insano.

Samantha Groves (Amy Acker)

Sua fixação pela Máquina a faz questionar os aspectos éticos de sua conduta. Root acredita que devido a forma que a inteligência artificial foi criada, os protocolos de ética estritos a impedem de ir adiante e ajudar cada vez mais pessoas. Entretanto, Root amplia seus meios de comunicar com a Máquina, e mesmo quando está internada em um hospital, estabelece diálogos com a mesma. Conforme avançamos na série, nos conformamos que há mistérios na personalidade de Root, mas também que ela escolhe bem a quem amar, e os ama por serem exatamente quem são.

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E então conhecemos Sameen Shaw (Sarah Shahi), formada em medicina, porém afastada ainda na residência, já que apesar de dominar as técnicas do curso, era incapaz de se preocupar com a vida dos pacientes. Passa então a trabalhar como agente do governo, para impedir que os atos terroristas ocorram – a equipe original da Máquina.

Sameen Shaw (Sarah Shahi)

A personalidade de Shaw é diferente do comum: ela é séria, de pouco riso, adora comer e, basicamente, só pensa em matar as pessoas. Mas segundo seu próprio relato: “Mas então eu conheci algumas pessoas. Algumas pessoas boas. E eles me ensinaram o valor da vida”. Se referindo a equipe formada por Finch, que trabalha para que todas as vidas sejam tratadas como relevante.

Person of Interest é uma série de ficção científica e ação, repleta de embates éticos enaltecidos sob o ponto de vista de suas personagens femininas. Apesar de pouco reconhecimento, Person of Interest quebra o padrão de algumas séries do mesmo gênero. Finalizada em 2016, deixa um legado para que possamos olhar com mais criticidade para o posterior material produzido para os fãs do gênero da ficção científica.

Sobre a autora convidada: Débora Martins é vegetariana, nerd, apaixonada por cinema e séries, fotografa amadora e quero viver de artes.

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