[SÉRIES] Perdidos no Espaço – 1ª Temporada: um clássico para novas gerações (crítica)

[SÉRIES] Perdidos no Espaço – 1ª Temporada: um clássico para novas gerações (crítica)

Produzido pela CBS entre os anos de 1965 e 1968, com 3 temporadas no total, Perdidos no Espaço (Lost in Space) marcou sua época. As aventuras da família Robinson no espaço completam 53 anos e a série está mais viva do que nunca. A nova aposta da Netflix para o gênero sci-fi abre mão da nostalgia sessentista e entrega um produto renovado. Com elenco forte e diversificado, efeitos especiais de qualidade e atualizações importantes no enredo, tem tudo para agrada as novas gerações. O novo Perdidos no Espaço tem como diferencial o foco psicológico nas relações famílias.

Com 10 episódios de 57 minutos, a primeira temporada criada por Matt Sazama e Burk Sharpless (com base na criação de Irwin Allen) é estrelada por Toby Stephens (Black Sails) como John Robinson; e Molly Parker (House of Cards e Deadwood) como Maureen Robinson. O papel de seus filhos ficaram com Taylor Russell (Falling Skies), Mina Sundwall (Amor por Direito), e o carismático Max Jenkins (Sense8). A grande novidade no elenco fica com a mudança de gênero do vilão da trama, que nessa versão fica a cargo de Parker Posey como a Dra. Smith (ou June Harris).

O peso da incomunicabilidade

O primeiro episódio do reboot de Perdidos no Espaço tem a função de apresentar a família Robinson e aos poucos vamos descobrindo que existe algo sufocado nesse lar. Com o pai ausente, a mãe tenta controlar a situação através de regras, buscando trazer uma normalidade na família, na medida em que os três filhos – cada um da sua maneira – lidam com a ausência do pai.

A história é ambientada em um futuro distante, onde a colonização no espaço é uma realidade e uma promessa de vida nova. Em uma tentativa de reconstrução dos laços familiares, os Robinson são selecionados para fazer parte do grupo de novos colonizadores no espaço, portanto, a família não esperava que a nave-mãe que os levariam para colônia fosse atacada por robôs assassinos. Durante a tentativa de fuga ocorre um acidente que muda totalmente a rota da viagem, e a família acaba parando em uma espécie de planeta desconhecido e hostil, sendo obrigados a conviverem e sobrevirem juntos.

Podemos definir Perdidos no Espaço como um thriller espacial diferente da versão original, que abusa do lado cômico e inocente. O reboot da Netflix possui uma pegada mais sombria e dramática, e o conceito da série sessentista segue o mesmo. Ainda temos robôs, criaturas entranhas, planeta desconhecido e um vilão manipulado. A grande atualização está na forma que essa histórica é narrada. As espectadoras mais fervorosas pela série original vão estranhar o tom pesado e não linear, mas para quem assistiu ao filme de 1998, estrelado por William Hurt e Gary Oldman, irão perceber as similaridades.

Perdidos no Esoaço

Os três primeiros episódios focam na história da família Robinson e da Dra. Smith. Passando dessa fase de ambientação, entramos numa dinâmica de disputa psicológica, com o surgimento de novos personagens. A incomunicabilidade entre os membros da família é explorada como um elemento que prejudica sua sobrevivência. A mensagem é clara: num mundo hostil que está morrendo, a única forma de manterem suas vidas é sendo uma família unida.

Do quarto episódio em diante, outros sobreviventes da nave-mãe Resolute passam a interagir com a família, especialmente Don West (vivido por Ignacio Serricchio) e sua galinha, que através de tiradas bem-humoradas serve como alívio cômico. 

Em todos os episódios, os Robinson e os colonos passam por algum perigo iminente, que é resolvido magicamente nos últimos 5 minutos de duração. Do sexto episódio até o oitavo, essa estrutura causa uma certa irritação, portanto, um final aberto por episódio não seria ruim. A duração de cada episódio também foi excessiva. Com quase 1 hora por episódio, uma maratona de um dia torna-se uma tarefa cansativa. 

Tirando Don West, não vemos um desenvolvimento narrativo dos outros colonos. Essa falha pode ser até perdoável, se pensarmos na construção de um universo numa futura segunda temporada. Portanto é imaginável que no futuro os personagens sejam melhor trabalhados.

As mudanças e melhorias no reboot

A década de 60 pode ser considerada como os anos dourados da ficção científica na TV. As bases do gênero que até os dias atuais são seguidas, foram pensadas durante o período. Séries de sucesso eterno, como Star Trek, Os Jetsons, Doctor Who e Perdidos no Espaço, começaram a ser exibidas quase em sequência. Esse fenômeno tem uma explicação histórica. Em plena corrida espacial, nunca na história do mundo o espaço esteve tão próximo da Terra, além do perigo que uma guerra nuclear provocava na imaginação americana, as mudanças tecnológicas também causavam um certo encantamento.

Perdidos no Espaço

Uma coisa em comum nas séries citadas é o seu forte protagonismo masculino. Mesmo nas séries que narravam as histórias de famílias, como Os Jetsons e Perdidos no Espaço, o alicerce da trama era a figura do pai provedor. Durantes anos, o gênero sci-fi foi predominantemente masculino e a quebra no padrão só ocorreu em 1979, com a estreia de Alien – O 8.º Passageiro, protagonizado por Sigourney Weaver. Contudo somente agora, nos anos de 2010, podemos ver no gênero sci-fi a recorrente figura de personagens femininas fortes, em papéis de liderança.

É importante ressaltar que a versão original de Perdidos no Espaço (1965–1968) tinha uma representação de gênero bem avançada para a época. Suas mulheres eram inteligentes e relativamente autônomas. Havia uma médica, além de cientistas, mas geralmente quem salvava o dia era a figura masculina. Sem dúvida, uma das principais melhorias nesse reboot é a atualização da personagem Maureen Robinson, interpretada pela excelente atriz Molly Parker, que inclusive já concorreu ao Emmy.

A matriarca da família não precisa mais fazer sanduíches em meio as crises espaciais, agora ela coloca a mão na massa e sempre salva o dia. A Maureen atual não é mais uma ex-cientista dona de casa, e sim uma astrofísica brilhante, além de uma mãe trabalhadora e preocupada com sua família que faz de tudo para proteger seus entre queridos, sem esquecer dos seus próprios conflitos interiores.

Outra atualização ocorreu com a Dra. Judy Robinson (Taylor Russell). Ela teve sua etnia modificada e ganhou uma personalidade forte, servindo de contraponto para a personalidade de sua irmã Penny (Mina Sundwall), que diferente da Penny original, é mais descontraída.

Já na versão estilizada, o Robô B9 deve fazer a festa dos fãs de action figure. A relação com o carismático Will é muito bem explorada. O garoto e seu Robô foram o grande destaque no trailer de divulgação da série. 

Uma das grandes apostas da nova versão foi a troca de gênero do Vilão. A Dra. Smith, encarnada por Parker Posey, se mostrou interessante, mas a complexidade da personagem apresentada até o momento ainda não foi bem explorada. Retratada algumas vezes como uma mulher invejosa e com problemas psicológicos e outras como uma assassina mitomaníaca, ao longo dos 10 episódios temos a dificuldade de saber suas reais intenções. Sua maldade é intuitiva e irracional e assim como no filme de 1998, ela acaba criando uma relação com a família, além do seu comportamento manipulado gerar conflitos para comunidade de sobreviventes. 

Com um universo estabelecido, o reboot de Perdidos no Espaço encerra sua primeira temporada com a tarefa cumprida. Ao mesmo tempo que a mitologia da série original foi preservada – com direito a música do tema original –  renovações narrativas para os novos tempos foram feitas. Servindo como um prelúdio, essa primeira temporada tem falhas e problemas de ritmo, mas conta com um último episódio eletrizante que já antecipa muitos perigos pela frente. A série tem potência para uma possível segunda temporada.

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Graduada em Ciências Sociais. Cineasta amadora. Viciada em livros, séries e K-dramas. Mediadora do Leia Mulheres de Niterói (RJ).
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